Fastos III


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Fastos III
Fasti III


artur hipólito morreu com 62 an
os, 20 anos após ter feito 42, mas
na altura quem diria?

heitor fragoso morreu atropelado.
foi levado para o hospital, mas es
queceram-se duma parte do corpo
no local do acidente.

manuel testa morreu sem se ter c
onseguido habituar a este modo
de mal-estar no mundo.

arnaldo rodrigues caiu a um bur
aco da canalização e nunca mais
foi visto.

jeremias cabral pôs termo à exist
ência por motivos desconhecidos.

zeca gomes morreu em defesa da
pátria mas a pensar noutra coisa.

antónio de oliveira morreu igual
a si mesmo: triste sinal dos te
mpos!

bernardo leite pôs-se a pensar na
morte e não conseguiu voltar a
trás.

ivo gouveia tinha uma agência f
unerária e escolheu para si um
caixão representativo.

guilherme silva fechou-se no sót
ão, para morrer num lugar eleva
do.

luís dimas respirava saúde, agora
respira um hálito de eternidade.

antónio garcia, o coveiro, teve u
ma síncope e caiu dentro da cov
a que estava a abrir.

bento nogueira engasgou-se com
um pedaço de carne e desapare
ceu do nosso convívio.

paiva de jesus enforcou-se.

joão baptista viu o cunhado lev
antar-se do caixão e teve uma sí
ncope.

lourenço pinheiro estava a ver a
trovoada e um relâmpago entrou
lhe por um olho e saiu-lhe pelo
outro.

jorge velez de castro finou-se
após uma longa vida de sacrifí
cios, toda dedicada ao bem-comu
m. e foi assim: depois de ter inge
rido o seu sumo de laranja, foi c
onduzido para a cadeira de rep
ouso pelo enfermeiro de confian
ça. nela se conservou, de boca en
treaberta e olhos fechados, até
às onze horas. às onze horas, o e
nfermeiro de confiança aproxim
ou-se com a intenção de o condu
zir ao banho. pondo delicadamen
te a mão nas costas da cadeira,
disse: são horas do banho, senhor
director. como este não desse si
nal de ter ouvido, o enfermeiro
de confiança, com a costumada jo
vialidade, debruçou-se e repetiu:
são horas do banho, senhor direc
tor. posto isto, empurrou a cadei
ra até ao balneário, passou um br
aço pelos rins outro por baixo d
os joelhos do director, e assim o
levou para a água, só então se da
ndo conta de que ele já não vivia.

zé maria, o peidolas, foi expulso
da vida pela autoridade compet
ente.

joão gaspar foi um nobre e val
oroso homem que morreu heroi
camente no campo da honra. p
az à sua alma.

raul santos deitou-se um dia e p
or mais que o sacudissem nunca
mais se levantou.

alfredo penha caiu tão desastrada
mente da cama que nem é possív
el dar pormenores da sua morte.

joaquim perestrelo morreu no me
io da missa, qual quê! ainda a m
issa não ia a metade!

sousa dias morreu de pé, mas en
terraram-no deitado, como toda a

gente.
artur hipólito morì a 62 an
ni, 20 anni dopo aver compiuto 42, ma
all’epoca chi l’avrebbe detto?

heitor fragoso morì in uno scontro.
fu portato all’ospedale, ma si di
menticarono una parte del suo corpo
sul luogo dell’incidente.

manuel testa morì senza essere r
iuscito ad abituarsi a questa specie
di malessere del mondo.

arnaldo rodrigues cadde in un bu
co della canalizzazione e non fu mai
più visto.

jeremias cabral pose fine alla sua esist
enza per motivi sconosciuti.

zeca gomes morì nella difesa della sua
patria ma pensando a un’altra cosa.

antónio de oliveira morì identico
a sé stesso: triste segnale dei te
mpi!

bernardo leite si mise a pensar alla
morte e non riuscì a tornare
indietro.

ivo gouveia aveva un’impresa di p
ompe funebri e scelse per sé una
bara di rappresentanza.

guilherme silva si chiuse in soffit
ta, per morire in un luogo eleva
to.

luís dimas respirava salute, adesso
respira un alito d’eternità.

antónio garcia, il becchino, ebbe u
na sincope e cadde dentro la foss
a che stava scavando.

bento nogueira si strozzò con
un pezzo di carne e scompar
ve dal nostro convivio.

paiva de jesus s’impiccò.

joão baptista vide suo cognato al
zarsi dalla bara ed ebbe una si
ncope.

lourenço pinheiro stava a guardare il
temporale e un lampo gli entrò
da un occhio e gli uscì dal
l’altro.

jorge velez de castro si spense
dopo una lunga vita di sacrifi
ci, tutta dedicata al bene comu
ne. e andò così: dopo aver inge
rito il suo succo d’arancia, fu acc
ompagnato alla poltrona reclinab
ile dall’infermiere di fidu
cia. vi rimase comodo, con la bocca se
miaperta e gli occhi chiusi, fino
alle undici. alle undici, l’i
nfermiere di fiducia si avvici
nò con l’intenzione di condu
rlo in bagno. posando delicatamen
te la mano sullo schienale della poltrona,
disse: è l’ora del bagno, signor
direttore. dato che non diede se
gnale d’aver sentito, l’infermiere
di fiducia, con la consueta gio
vialità, si chinò e ripeté:
è l’ora del bagno, signor diret
tore. detto questo, spinse la poltro
na fino alla vasca, passò un br
accio dietro la schiena l’altro sotto
le ginocchia del direttore, e così lo
portò verso l’acqua, accorgendosi so
lo allora che egli non era più vivo.

zé maria, lo scorreggione, fu espulso
dalla vita dall’autorità compet
ente.

joão gaspar fu un uomo nobile e val
oroso che morì eroi
camente sul campo dell’onore. p
ace all’anima sua.

raul santos un giorno si coricò e p
er quanto lo scuotessero non
si rialzò mai più.

alfredo penha cadde così disastrosa
mente dal suo letto che non è possibi
le fornire dettagli della sua morte.

joaquim perestrelo morì a me
tà della messa, macché! ancora la m
essa non era a metà!

sousa dias morì in piedi, ma lo in
terrarono disteso, come tutta la

gente.
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René Magritte
Il balcone di Manet (1950)
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