Animais de estimação



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Animais de estimação
Animali da compagnia


Pode, com propriedade, dizer-se que nascer
Foi o seu cativeiro, colaram-lhes um nome,
Moldaram-nos como indivíduos
Ou projectaram neles a ilusão
De que havia ali algo de único,
Algo mais do que a mera réplica
Das características de uma espécie
Que se perpetua numa mole indistinta.
Tiveram esses fictícios indivíduos mais sorte
Do que todos os outros sem nome
Na massa bruta e anónima?
Afectos, se os houve, não contrariaram
A sua natureza mais profunda –
Uma selvajaria instintiva, refractária,
Uma solidão enfim quebrada, vencida,
Mas talvez mais nobre, que é também nossa
E que preterimos em detrimento de alma?
Animais de estimação talvez acabemos todos
Mais cedo ou mais tarde nessa tristeza
Esfuziada, árida morte – adestrada.
Morrerão da morte que lhes inventarmos.
A ferocidade castiça, a inteligência senta-se nas patas
 traseiras,
Dá saltos mortais, sob o aplauso geral,
Ou bufa, silva, ladra, ruge, agita tentáculos
Ou tenazes, morde, fere e é sempre risível,
Mesmo quando mortal.

Animais que, de tão pacíficos,
Nem para se defenderem
Sabem os gestos da violência.
Si può affermare, obiettivamente, che nascere
Fu la loro prigione, gli fu dato un nome,
Ci raffigurarono come esseri unici
O fu in loro proiettata l’illusione
Che lì ci fosse qualcosa d’ineguagliabile,
Qualcosa di più che la mera replica
Delle caratteristiche di una specie
Che si perpetua in proporzioni incerte.
Toccò a questi fittizi individui miglior sorte
Rispetto a tutti gli altri senza nome
Nella massa ferina e anonima?
Affetti, se ce ne furono, non inficiarono
La loro natura più profonda –
Una bestialità istintiva, refrattaria,
Una solitudine infine spezzata, vinta,
Ma forse più nobile, dato che è anche nostra
E che dimentichiamo a discapito dell’anima?
Animali da compagnia tutti forse finiamo
Prima o poi in questa tristezza
Disperata, arida morte – addestrata.
Moriranno d’una morte che per loro avremo inventato.
La ferocia è repressa, l’intelligenza si siede sulle zampe
 posteriori,
Fa salti mortali, tra gli applausi generali,
O soffia, sibila, latra, ruggisce, agita tentacoli
O pinze, morde, ferisce ed è sempre esilarante,
Anche quand’è mortale.

Animali, pacifici al punto che,
Neanche per difendersi
Conoscono i gesti della violenza.
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Cecile Perra
The Animal Circus (2024)
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