Amor orbital


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Amor orbital
Amore orbitale


Não preciso
fugir para a Lua
numa viagem
nupcial
na noite sideral.
Ela brilha como
um fruto branco
ao alcance de minha
mão.
O amor move o sol
e “l'altre stelle”
em torno
de nós dois.
Pra que um voo
orbital?
Já os teus olhos
são dois satélites
azuis
em órbita.
Non occorre
fuggire sulla Luna
in un viaggio
nuziale
nella notte siderale.
Essa brilla come
un frutto bianco
a portata della mia
mano.
L’amore muove il sole
e “l'altre stelle”
intorno
a noi due.
Perché un volo
orbitale?
Sono già i tuoi occhi
due satelliti
blu
in orbita.
________________

Ubaldo Oppi
La moglie dell'artista a Venezia (particolare) (1921)
...

A flauta que me roubaram


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A flauta que me roubaram
Il flauto che mi hanno rubato


Era em S. José dos Campos.

E quando caía a ponte
eu passava o Paraíba
numa vagarosa balsa
como se dançasse valsa.
O horizonte estava perto.
A manhã não era falsa
como a da cidade grande.
Tudo era um caminho aberto.
Era em S. José dos Campos
no tempo em que não havia
comunismo nem fascismo
pra nos tirarem o sono.
Só havia pirilampos
imitando o céu nos campos.
Tudo parecia certo.
O horizonte estava perto.

Havia erros nos votos
mas a soma estava certa.
Deus escrevia direito
por pequenas ruas tortas.
A mesa era sempre lauta.
Misto de sabiá e humano
o vizinho acordava
tranqüilo, tocando flauta.
Era em S. José dos Campos.
O horizonte estava perto.
Tudo parecia certo
admiravelmente certo.
Accadeva a S. José dos Campos.

E quando il ponte cadeva
io attraversavo il Paraíba
sopra una pigra barchetta
come facessi un balletto.
Era prossimo l’orizzonte.
Il mattino non era falso
come nella città grande.
Tutto lo spazio era libero.
Accadeva a S. José dos Campos
al tempo in cui non c’erano
né comunismo né fascismo
che ci turbassero il sonno.
Non c’erano che lucciolette
imitando le stelle sui campi.
Tutto pareva evidente.
Era prossimo l’orizzonte.

C’erano errori nei voti
ma la somma era giusta.
Dio scriveva diritto
lungo viuzze contorte.
Il pranzo era sempre lauto.
Misto di passero e umano
il vicino si risvegliava
sereno, suonando il suo flauto.
Accadeva a S. José dos Campos.
Era prossimo l’orizzonte.
Tutto pareva evidente
magnificamente evidente.
________________

Paul Klee
Piccolo paesaggio (1919)
...

Você e o seu retrato


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Você e o seu retrato
Tu e il tuo ritratto


Por que tenho saudade
de você, no retrato,
ainda que o mais recente?
 
E por que um simples retrato,
mais que você, me comove,
se você mesma está presente?
 
Talvez porque o retrato,
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.
 
Talvez porque o retrato
(exato, embora malicioso)
revele algo de criança
(como, no fundo da água,
um coral em repouso).
 
Talvez pela idéia de ausência
que o seu retrato faz surgir
colocado entre nos dois
 
(como um ramo de hortênsia).
 
Talvez porque o seu retrato,
embora eu me torne oblíquo,
me olha, sempre, de frente
 
(amorosamente)
 
Talvez porque o seu retrato
mais se parece com você
do que você mesma (ingrato).

Talvez porque, no retrato
você está imóvel.

(sem respiração...)

Talvez porque todo retrato
é uma retratação.
Perché ho nostalgia
di te, nel ritratto,
benché sia il più recente?

E perché un semplice ritratto,
più ancor di te, mi commuove,
se tu stessa sei qui presente?

Forse perché il ritratto,
così senza l’aggiunta di parole,
ha un’aria di ricordo.

Forse perché il ritratto
(preciso, benché malizioso)
rivela qualcosa d’infantile
(come, sul fondo dell’acqua,
un corallo a riposo).

Forse per quell’idea d’assenza
che il tuo ritratto suscita
stando in mezzo a noi

(come un ramo d’ortensia).

Forse perché il tuo ritratto,
benché io mi metta storto,
mi guarda, sempre, dritto

(amorosamente)

Forse perché il tuo ritratto
a te più rassomiglia
di quanto tu stessa a lui (che ingrato).

Forse perché, nel ritratto
tu stai immobile

(non v’è respirazione...)

Forse perché ogni ritratto
è una ritrattazione.
________________

Amedeo Modigliani
Ritratto di Jeanne Hebuterne con cappello (1917)
...

O Gato e o Dicionário


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O Gato e o Dicionário
Il gatto e il dizionario


... tigre em miniature.
Maurice Rollinat

Um gato se aproxima. Está com fome.
Abandonado ao deus-dará da rua.
Daqui a pouco, uma roda que significa o universo em seu
 eixo, o esmagará.
Sem que nenhuma estrela ou flor se mude do lugar onde
 está.

Chamo-o para junto do meu corpo.
Aqueço-o com o meu sobretudo londrino.
Os seus olhos são verdes. São mais verdes
que os da mulher que o abandonou na rua
ao passar em seu carro, como uma sereia
montada num peixe.

E como (dada a minha condição pedestre)
jamais poderia eu possuir um tigre de Bengala,
farei, deste gato mosqueado,
o meu tigre, que se conservou criança,
para enfeite do mundo, só dos homens.

Afinal, para a pequena floresta rotativa onde moro,
me basta este minúsculo tigre, ornamental.

Não posso ter um quadro de Van Gogh,
tenho uma cópia.
Não posso ter dois pintarroxos no ar voando
tenho um, na mão.

(Que é a infância senão a alegria de ter uma coisa por
 outra?)

Não tenho as coisas do bazar de Deus,
tenho um dicionário.
Não tenho a mulher que vi na última corrida do Jóquei,
tenho a sua fotografia.

(O segredo da vida não está em a gente
se contentar com uma coisa por outra?)

Em meu dicionário de objetos achados,
o gato é o meu tigre.

(Ah, este gato me dará sempre a ilusão de eu ser menino,
 aqui,
ou caçador de tigres, na África).
... tigre in miniatura.
Maurice Rollinat

Un gatto s’avvicina. Ha fame.
Abbandonato al se-Dio-vorrà della strada.
Tra poco, una ruota che rappresenta l’universo sul suo
 asse, lo schiaccerà.
Senza che alcuna stella o fiore cambi il posto dove
 sta.

Lo chiamo vicino al mio corpo.
Lo scaldo col mio soprabito londinese.
Sono verdi i suoi occhi. Sono più verdi
di quelli della donna che l’ha abbandonato sulla via
passando con la sua macchina, come una sirena
montata su un pesce.

E poiché (data la mia condizione pedestre)
mai io potrei possedere una tigre del Bengala,
farò, di questo gatto maculato,
la mia tigre, ch’è rimasta cucciola,
per abbellire il mondo, solo quello degli uomini.

In fondo, per la piccola foresta girevole in cui abito,
mi basta questa minuscola tigre, ornamentale.

Non posso avere un quadro di Van Gogh,
ma ne ho una copia.
Non posso avere due cardellini che volano nell’aria
ma ne ho uno, in mano.

(Che cos’è l’infanzia se non la gioia d’avere una cosa per
 un’altra?)

Non ho le cose del bazar di Dio,
ma ho un dizionario.
Non ho la donna che ho visto all’ultima corsa dei Jockey,
ma ho la sua fotografia.

(Il segreto della vita non sta nel far sì che la gente
s’accontenti d’una cosa per un’altra?)

Nel mio dizionario di oggetti trovati,
il gatto è la mia tigre.

(Ah, questo gatto mi darà l’illusione d’essere sempre un
 bambino, qui,
o un cacciatore di tigri, in Africa).
________________

Charles Wysocki
Frederick the Literate (1992)
...

Já saudades de tudo...


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Já saudades de tudo...
Già è nostalgia di tutto...


Já saudades de tudo,
Do milagre que as tuas mãos sabiam ser,
Da tua graça que realmente amanhece,
Saudades de ser possível pensar
Na possibilidade das coisas que não vivemos,
Saudades do teu calor no meu casaco
E de um frio que não mais terei,
Saudades de uma chuva que ouvi contigo,
De livros na tua voz,
O sal vagamente lírico de uma tristeza
Que se foi tornando mais obscura,
Que se adensou e não passa.
Saudades de uma cidade,
O mar, o rio e a bruma,
Saudades do teu beijo misturado
Com vinho quente, ou chocolate, ou canela
Saudades do meu nome na tua boca,
O nome que, agora, cansado, de flanco,
Morre algures em ti.
Già è nostalgia di tutto,
Del miracolo che sapevano essere le tue mani,
Della tua grazia che realmente rinasce,
Nostalgia del pensare possibile
La possibilità di cose che non abbiamo vissuto,
Nostalgia del tuo calore nel mio cappotto
E d’un freddo che non proverò più,
Nostalgia d’una pioggia che ho ascoltato con te,
Di libri nella tua voce,
Il sale vagamente lirico di una tristezza
Ch’è divenuta più oscura,
Che s’è addensata e non passa.
Nostalgia di una città,
Del mare, del fiume e della nebbia,
Nostalgia del tuo bacio mischiato
Con il vino caldo, o il cioccolato, o la cannella
Nostalgia del mio nome sulla tua bocca,
Il nome che, adesso, stanco, in disparte,
Muore in qualche parte di te.
________________

Jens Fänge
Trasposizioni - (2020)
...

Depois de tudo


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Depois de tudo
Dopo tutto


Mas tudo passou tão depressa.
Não consigo dormir agora.

Nunca o silêncio gritou tanto
nas ruas da minha memória.

Como agarrar líquido o tempo
que pelos vãos dos dedos flui?

Meu coração é hoje um pássaro
pousado na árvore que eu fui.
Ma tutto è passato così in fretta.
E adesso io non riesco a dormire.

Mai il silenzio ha gridato tanto
nelle strade della mia memoria.

Come afferrare il tempo
che liquido mi sfugge tra le dita?

Il mio cuore oggi è un uccello
posato sull’albero ch’io fui.
________________

Marc Chagall
La foresta incantata (1945)
...

Visita à casa paterna


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Visita à casa paterna
Visita alla casa paterna


O flautim do meu sangue soluça
diante de uma fotografia.
As folhas vestem de perguntas
verdes o silêncio.

Ouve-se o musgo caminhar, no muro,
entre as formigas.
A única coisa quieta
é a pedra
que me taquigrafa as palavras
e as rugas.
L'ottavino del mio sangue singhiozza
davanti a una fotografia.
Le foglie rivestono di verdi
domande il silenzio.

Si sente il muschio camminare, sul muro,
tra le formiche.
L’unica cosa quieta
è la pietra
che mi stenografa le parole
e le rughe.
________________

Vassily Kandinsky
Paesaggio con case (1909)
...

Sob um guarda-chuva


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Sob um guarda-chuva
Sotto un parapioggia


1
As luzes caíram trêmulas, na calçada.
E escorrem líquidas.

São luzes de todas as cores,
em pequenos naufrágios sobre o asfalto.

Se eu pudesse gemer como este vento,
como diria o poeta. . .
E abro o pequeno céu com asa de morcego
mas chove em mim pelo vão de uma estrela.

A chuva me dá, sempre, uma sensação de raiz.
Tenho a impressão de estar coberto
de folhas verdes, espirrando água.
O mar estronda, carregado de prata
e peixes.
E eu logo penso em meu pai, lavrador.
Roupa cheirando chuva, o cabelo escorrido na testa.
Os sapatos no barro.
A chuva, para ele, era uma festa com arco-íris
ou sem arco-íris.

Pássaro branco sob o guarda-chuva
em exercício de ficar parado
sinto-me preso entre os quatro pontos cardeais
desta esquina pingando horas.
Nada mais falso do que um boletim meteorológico.

Ganhou da lua e da minha esperança.
Onde estarão os pequeninos barcos de papel de minha
 infância?
Estarão jogados, como objetos já sem uso
no cemitério dos navios mortos?

Penso na seca do Nordeste
no país das fatalidades cíclicas e dos contrastes
entre a rosa do sol e o Dilúvio.
A rosa do sol escondida no abismo do mapa
inteiramente cor de cinza.
A sensação da ausência, a árvore da chuva
desfeita em galhos torrenciais.
E eu, aqui, a afogar-me em água e, lá, o Nordeste de
 rosto enxuto.

2
O céu me atrai, porém a terra — com este cheiro
de chuva —
me dá uma sensação de raiz.

A terra pode mais que o céu, quando a chuva
me molha a memória, me fecunda,
e eu sinto peixes e orquídeas no corpo.
Mas enquanto a chuva cai, torrencial,
e o vento a arrasta pelos cabelos de prata,
fico pensando, sob o meu guarda-chuva.

Penso que é absurdo comparar com a chuva
as nossas lágrimas (isso é demais, ó poeta).
Lágrimas quentes, que nos queimam os olhos,
e caem por dentro sobre ocultas feridas,
com este choro sem sal.

Além disso, os problemas municipais já esquecidos
e os nacionais, também, renascem, sob a chuva.
Os automóveis gritam, pedindo passagem,
uns roucos, outros tocando um começo de música.
Discutem prefeitura e tarde escura
a eterna questão do trânsito.
Um trovão quis contar-me um violento segredo
mas soletrou, apenas. Que monstruosa verdade
não terá ele pretendido dizer-me?

3
Deus rabiscou no espaço uma palavra de fogo
que não pude entender, por não saber hebraico,
mas que deve estar escrita em alguma passagem da
 Bíblia.
Onde terá caído esta faísca elétrica?

O que vale, pra mim, é que a casinha pequenina
onde nasceu o nosso amor, tem um coqueiro ao lado.

E se Franklin inventou pára-raios de luxo
para os arranha-céus, Deus botou um coqueiro
para servir de pára-raios junto à casa do pobre.
Dia sem céu.
(Nisto um transeunte
 
saiu correndo, atrás do seu chapéu)
1
Le luci sono cadute tremule, sulla strada.
E scorrono liquide.

Sono luci di tutti i colori,
in piccoli naufragi sull’asfalto.

Se io potessi gemere come questo vento,
come direbbe il poeta...
E apro il piccolo cielo con ali di pipistrello
ma piove in me dal vuoto di una stella.

La pioggia mi dà, sempre, una sensazione di radice.
Ho l’impressione d’esser coperto
di foglie verdi, che emanano acqua.
Il mare rimbomba, carico d’argento
e di pesci.
E io subito penso a mio padre, contadino.
Vestiti odorosi di pioggia, i capelli grondanti sulla fronte.
Le scarpe infangate.
La pioggia era, per lui, una festa con arcobaleno
o senza arcobaleno.

Uccello bianco sotto il parapioggia
nel tentativo di rimanere fermo
mi sento chiuso tra i quattro punti cardinali
sotto questo riparo che gocciola ore.
Niente di più falso di un bollettino meteorologico.

S’è servito della luna e della mia speranza.
Dove saranno le piccole barche di carta della mia
 infanzia?
Giaceranno abbandonate, come oggetti ormai inutili
nel cimitero delle navi morte?

Penso alla siccità del Nordest
nel paese delle tragedie cicliche e dei contrasti
tra la rosa del sole e il Diluvio.
La rosa del sole nascosta nell’abisso della mappa
completamente grigia.
La sensazione d’assenza, l’albero della pioggia
disfatto in rami torrenziali.
E io, qui, ad affogarmi nell’acqua e, là, il Nordest a testa
 asciutta.

2
Il cielo mi attrae, però la terra — con quest’odore
di pioggia —
mi dà una sensazione di radice.

La terra ha più potere del cielo, quando la pioggia
mi bagna la memoria, mi feconda,
e io sento pesci e orchidee nel corpo.
Ma mentre la pioggia cade, torrenziale,
e il vento la trascina per i capelli d’argento,
mi metto a pensare, sotto il mio parapioggia.

Penso che è assurdo paragonare alla pioggia
le nostre lacrime (questo è troppo, poeta).
Lacrime calde, che ci bruciano gli occhi,
e ci cadono dentro su occulte ferite,
con questo pianto senza sale.

Per giunta, i problemi municipali già scordati
e quelli nazionali, pure, rinascono, sotto la pioggia.
Le automobili strombazzano, chiedendo strada,
certe rauche, altre suonando un attacco di musica.
Discutono prefettura e tarda sera
l’eterna questione del traffico.
Un tuono voleva confidarmi un violento segreto
ma balbettò appena. Quale mostruosa verità
avrà mai tentato di dirmi?

3
Dio ha scarabocchiato nello spazio una parola di fuoco
che io non ho capito, non sapendo l’ebraico,
ma che probabilmente sta scritta in qualche passaggio
 della Bibbia.
Dove sarà caduta quella scarica elettrica?

Quel che conta, per me, è che la casetta piccolina
dove è nato il nostro amore, abbia una palma al fianco.

E se Franklin ha inventato parafulmini di lusso
per i grattacieli, Dio ha collocato una palma
che facesse da parafulmini accanto alla casa del povero.
Giornata senza cielo.
(In quella un passante

uscì correndo, dietro al suo cappello)
________________

Henri Cartier-Bresson
Passo nella piazza allagata (1932)
...

O canto da Juriti


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O canto da Juriti
Il canto del Juriti


Eu ia andando pelo caminho
em pleno sertão, o cafezal tinha ficado lá longe...
Foi quando escutei o seu canto
que me pareceu o soluço sem fim da distância...
 
A ânsia de tudo o que é longo como as palmeiras...
A saudade de tudo o que é comprido como os rios...
O lamento de tudo o que é roxo como a tarde...
O choro de tudo o que fica chorando por estar longe...
bem longe.
Stavo andando lungo il cammino
in pieno sertão, la piantagione di caffè era rimasta laggiù...
E fu allora che sentii il tuo canto
che mi parve l’interminabile singhiozzo della distanza...
 
L’anelito per tutto ciò che è alto come le palme...
Il rimpianto per tutto ciò che è lungo come i fiumi...
Il lamento per tutto ciò che è viola come il tramonto...
Il pianto per tutto ciò che piange per star lontano...
tanto lontano.
________________

Cândido Portinari
O lavrador de café (1939)
...

Não sou o herói do dia


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Não sou o herói do dia
Non sono l’eroe del giorno


Não sou o herói do dia.
A vida me obrigou
a comparecer, sem convite, ao banquete,
em que me vejo, agora, erguendo a taça,
não sei a quem.
Soldado que lutou sem querer, por força
do original pecado, e em cujo peito não fulgura,
até hoje, nenhuma
condecoração.

Não sou o herói do dia. Passei pela vida
como quem passa
por um jardim público, onde há uma rosa proibida
por edital.
A rosa de ninguém, a rosa anónima
que aparece jogada sobre o túmulo
do desconhecido, todas as manhãs.

É bem verdade que, em menino, eu possuía uma banda
 de música
que tocava no circo, acompanhava enterro,
que tomava parte em procissão de encontro
e nos triunfos da legalidade.
Hoje, porém, - pergunto -, onde o pistão, o bombardino,
 o saxofone, a flauta, a clarineta,
os instrumentos todos dessa banda de música?
Todos quebrados, os respectivos músicos caídos
num só horizonte.
Minha banda de música, se existe,
é agora
de homens descalços e instrumentos mudos.

Não sou o herói do dia.

Ah, o silêncio
de alguns amigos que deviam falar e não falam.
O grande silêncio
da banda de música que devia tocar e não toca.
O silêncio espantoso
de quem devia estar gritando
desesperadamente, e ficou quieto.
E ficou quieto, sem explicação.
Maestro, não é hora de tocar-se o hino nacional?

Ah, positivamente,
não sou o herói do dia!
Non sono l’eroe del giorno.
La vita mi ha costretto
a comparire, senza invito, al banchetto,
in cui mi trovo, ora, levando il calice,
non so per chi.
Soldato che ha lottato, controvoglia, per effetto
del peccato originale, e sul cui petto non luccica,
fino ad ora, nessuna
decorazione.

Non sono l’eroe del giorno. Ho attraversato la vita
come chi passa
per un giardino pubblico, dove una rosa è proibita
per decreto.
La rosa di nessuno, la rosa anonima
che appare gettata sopra la tomba
di uno sconosciuto, tutte le mattine.

È pur vero che io, da bambino, avevo una mia banda
 musicale
che suonava nel circo, accompagnava le esequie,
che prendeva parte alla processione del Venerdì santo
e ai trionfi della legalità.
Oggi, però, - mi domando -, dove sono il corno,
 il bombardino, il sassofono, il flauto, il clarinetto,
tutti gli strumenti di questa banda di musica?
Tutti distrutti, i rispettivi musicisti caduti
su un solo orizzonte.
La mia banda di musica, se esiste,
è ora
di uomini scalzi e strumenti muti.

Non sono l’eroe del giorno..

Ah, il silenzio
di alcuni amici che dovrebbero parlare e non parlano.
Il grande silenzio
della banda di musica che dovrebbe suonare e non suona.
Il silenzio spaventoso
di chi dovrebbe gridare
disperatamente, ed è rimasto quieto.
Ed è rimasto quieto, senza spiegazione.
Maestro, non è ora di suonare l’inno nazionale?

Ah, certamente,
non sono l’eroe del giorno!
________________

Nicolas de Staël
I musicisti - Ricordo di Sidney Bechet (1952-1953)
...

Anoitecer


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Anoitecer
All’imbrunire


Homem, cantava eu como um pássaro
ao amanhecer. Em plena unanimidade
de um mundo só.
Como, porém, viver num mundo onde todas as coisas
tivessem um só nome?
 
Então, inventei as palavras.
E as palavras pousaram gorjeando sobre o rosto
dos objetos.
 
A realidade, assim, ficou com tantos rostos
quantas são as palavras.
 
E quando eu queria exprimir a tristeza e a alegria
as palavras pousavam em mim, obedientes
ao meu menor aceno lírico.
 
Agora devo ficar mudo.
Só sou sincero quando estou em silêncio.
 
Pois, só quando estou em silêncio
elas pousam em mim — as palavras —
como um bando de pássaros numa árvore
ao anoitecer.
Uomo, cantavo io come un uccello
sul far del giorno. In piena consonanza
con un mondo uniforme.
Ma come vivere in un mondo in cui tutte le cose
avevano un solo nome?
 
Allora, inventai le parole.
E le parole si posarono gorgheggiando sulla pelle
degli oggetti.
 
La realtà ebbe, così, tante facce
quante sono le parole.
 
E quando io volevo esprimere tristezza o allegria,
le parole si posavano su di me, obbedienti
al mio minimo accenno lirico.
 
Adesso devo rimanere muto.
Sono sincero solo quando resto in silenzio.
 
Infatti, solo quando sto in silenzio
esse si posano su di me — le parole —
come uno stormo d’uccelli su un albero
all’imbrunire.
________________

Joan Miró
Paesaggio catalano - Il cacciatore (1924)
...

Acrobatismo


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Acrobatismo
Acrobazia


Parou o vento. Todas as árvores
quiseram ver o salto original.
Então,
quedaram-se todas
com os seus anéis azuis de orvalho,
e os seus colares de ouro teatral,
prestando muita atenção.
Foi como se um silêncio fofo de veludo
começasse a passear seus pés de lã por tudo.
Nisto uma folha
sai, muito viva, de uma rama,
e vai cair sem o menor rumor
sobre o tapete de grama.
É um louva-a-deus lépido e longo
que se jogou de um trapézio
como um pequeno palhaço verde
e lá se foi, a rodopiar,
às cambalhotas
no ar.
Cessò il vento. Tutti gli alberi
vollero vedere il salto originale.
Allora,
s’ammutolirono tutti
coi loro anelli blu di rugiada,
e le loro collane d’oro teatrale,
prestando molta attenzione.
Fu come se un soffice silenzio di velluto
cominciasse a posare i suoi piedi di lana dappertutto.
Ecco che una foglia
si stacca, molto viva, da un ramo,
e ricade senza il minimo rumore
sopra un tappeto erboso.
È una mantide agile e lunga
che s’è buttata da un trapezio
come un piccolo pagliaccio verde
e se n’è andata, volteggiante,
piroettando
nell’aria.
________________

Becca Stadtlander
Mantide religiosa (2006)
...

Reúno toda a memória...


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Reúno toda a memória...
Raccolgo tutta la memoria...


Reúno toda a memória
Onde quero que entres 
Sem que eu precise de falar
Ou sequer lembrar:
Há demasiada viagem
Entre a memória e os lábios.
Raccolgo tutta la memoria
Là dove voglio che tu entri 
Senza che mi occorra parlare
E neppure ricordare:
È un viaggio troppo lungo
Tra la memoria e le labbra.
________________

Keith Haring
Labirinto (1989)
...

A outra vida


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A outra vida
L’altra vita


Não espero outra vida, depois desta.
Se esta é má
Por que não bastará aos deuses, já,
A pena que sofri?
Se é boa a vida, deixará de o ser,
Repetida.
Non spero in un’altra vita, dopo questa.
Se questa é crudele
Perché agli dei non dovrebbe bastare
La pena che già ho dovuto patire?
Ma se la vita è buona, più non lo sarà,
Se ripetuta.
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Matthew Wong
Eterno ritorno (2017)
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Os olhos da fotografia


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Altra traduzione:
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Os olhos da fotografia
Gli occhi della fotografia


Ela perdeu na guerra o filho
mas guardou-lhe a fotografia
olhando de frente.
Guardou, principalmente,
os olhos da fotografia
por onde o morto olha de frente
(depois de tanta luta)
o mundo em que vivemos.

Todo morto é mais sincero
do que quando vestido de palavras.
A vida é, quase sempre,
uma falsificação das coisas.
Assim, o da fotografia
cuja malícia é olhar de frente
(depois de tanta luta)
adquiriu uma maior verdade.
Maior, depois de fria.
A ausência da fala humana
lhe dá o prestígio da sinceridade
absoluta.
Os olhos da fotografia seguem-na,
de frente –
olhos por onde o morto espia
insistentemente
a sua mãe e o mapa-mundi.
Ella perse in guerra il figlio
ma ne conservò la fotografia
dove guardava di fronte.
Conservò, principalmente,
gli occhi della fotografia
nella quale il morto guarda di fronte
(dopo tante battaglie)
il mondo in cui viviamo.

Ogni morto è più sincero
di quando era vestito di parole.
La vita è, quasi sempre,
una falsificazione delle cose.
Così, quello della fotografia
la cui malizia è lo sguardo frontale
(dopo tante battaglie)
ha acquisito una maggiore verità.
Maggiore, ora che è fredda.
L’assenza della parola umana
le dà il prestigio della sincerità
assoluta.
Gli occhi della fotografia la seguono,
di fronte –
occhi dai quali il morto scruta
insistentemente
sua madre e il mappamondo.
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Gustav Jäger
Ritratto di soldato (disegno) (1917)
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