Tatão e as ruas


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Iacyr Anderson Freitas »»
 
A soleira e o século (2002) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Tatão e as ruas
Tatão e le strade


em certos lugares
interrogo os jardins
da minha infância.

interrogo sem resposta,
sem surpresa, sem esperança.

pois que jamais encontrei
aquela perfeição contida, sinto-me órfão.

a lição primeira de geometria
deu-se naqueles parques.

o velho jardineiro professava sem escândalo
ao sol do meio-dia.

ao povo simples
oficiava a sua matemática.

de um arbusto senil
fazia um cone invertido.
cubos estranhos de árvore
tomavam aos poucos a planura
e os muros vivos não cercavam:
antes ofereciam aos passantes
o espetáculo.
bordavam a cidade para o baile.

as duas filhas do jardineiro
foram estudar matemática.
de certa forma, a minha paixão pelos números
também nascera ali, intratável e física,
naqueles parques.

mas ninguém sabia melhor
proteger sua escultura.
ninguém tinha tal viço:
a ponto de morrer sob o sol do ofício
com um golpe de vento ou de árvore.

um golpe capaz de cessar,
para sempre,
todos os jardins e parques e ruas
da minha infância.
in certi posti
mi rivolgo ai giardini
della mia infanzia.

pongo domande senza risposta,
senza stupore, senza speranza.

e poiché non ho più trovato
quella sobria perfezione, mi sento orfano.

la lezione basilare di geometria
venne impartita in quei parchi.

il vecchio giardiniere educava senza scandalo
sotto il sole del mezzogiorno.

per la gente umile
officiava la sua matematica.

da un arbusto senile
ricavava un cono rovesciato.
strani cubi d’albero
riempivano un po’ alla volta il prato
e i muri pieni non coprivano:
offrivano, invece, ai passanti
lo spettacolo.
bordavano la città per il ballo.

le due figlie del giardiniere
scelsero poi gli studi di matematica.
in un certo senso, anche la mia passione
per i numeri era nata lì, scostante e fisica,
in quei parchi.

ma nessuno sapeva meglio di lui
proteggere la propria scultura.
nessuno aveva tanta energia:
giungendo a morire sotto il sole del suo lavoro
con un colpo di vento o d’albero.

un colpo in grado di abolire,
per sempre,
tutti i giardini e i parchi e le vie
della mia infanzia.
________________

Paul Cézanne
Il giardiniere Vallier (1906)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (109) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (47) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (37) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (454) Pássaro de vidro (52) Pedro Mexia (40) Poemas dos dias (24) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)