Ornitorrinco


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Gilberto Nable »»
 
Percurso da Ausência (2006) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Ornitorrinco
Ornitorinco


Sobre a mesa — a garrafa.
Em torno da mesa — o bar atônito.
Depois do bar, a rua, o bairro.
Após, as cidades, os desertos,
cordilheiras e desfiladeiros,
oceanos e precipícios,
galáxias e nebulosas,
a vastidão do mundo,
o sem-fim do universo,
com seus pilares enormes,
contrafortes onde o tempo
esbate as imensas ondas.
Depois de depois — Deus?
As Parcas tecendo o fio
de minha vida?

Consideras teu coração,
nada formidável.
Um grão de areia
grudado no milênio.
Um pingo de cálcio
na concha de um molusco.
Consideras tudo isso
e mais alguma coisa.
(Só não consideras o garçom
ao teu lado:
— Mais uma cerveja, doutor?)

De onde surgiu esse ser medievo
e que há séculos não dorme?
E por que me olha espantado
como se visse um ornitorrinco?
Na natureza nada se perde,
nada se cria,
tudo se transforma.

Sul tavolo — la bottiglia.
Intorno al tavolo — il bar attonito.
Oltre il bar, la via, il quartiere.
Più in là, le città, i deserti,
catene e valichi,
oceani e precipizi,
galassie e nebulose,
la vastità del mondo,
l’immensità dell’universo,
coi suoi enormi pilastri,
contrafforti ove il tempo
infrange le smisurate onde.
E dopo ancora — Dio?
Le Parche a tessere il filo
della mia vita?

Tu stai considerando il tuo cuore,
nulla di formidabile.
Un granello di sabbia
aggrappato al millennio.
Un frammento di calcio
nella conchiglia d’un mollusco.
Tu stai considerando tutto questo
e qualche altra cosa.
(Però non consideri il cameriere
accanto a te:
— Un’altra birra, dottore?)

Da dov’è spuntato questo essere medievale
che da secoli non dorme?
E perché mi guarda stupito
come se vedesse un ornitorinco?
In natura nulla si perde,
nulla si crea,
tutto si trasforma.

________________

Edward Hopper
Nottambuli (particolare)
(1942)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (10) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)