Epílogo


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Cristina Cesar »»
 
Luvas de pelica (1980) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Epílogo
Epilogo


I am going to pass around in a minute some lovely, glossy-blue picture postcards.
I am going to pass around in a minute some lovely, glossy-blue picture postcards.
Num minuto vou passar para vocês vários cartões-postais belos e brilhantes.
Tra un attimo vi farò passare delle cartoline illustrate belle e lucenti.
Esta é a mala de couro que contém a famosa coleção.
Reparem nas minhas mãos, vazias.
Meus bolsos também estão vazios.
Meu chapéu também está vazio. Vejam. Minhas mangas.
Viro de costas, dou uma volta inteira.
Questa è la valigia di cuoio che contiene la famosa collezione.
Osservate le mie mani, vuote.
Anche le mie tasche sono vuote.
Anche il mio cappello è vuoto. Vedete. Le mie maniche.
Mi giro di spalle, faccio un giro completo.
Como todos podem ver, não há nenhum truque, nenhum alçapão escondido, nem jogos de luz enganadores.
Come tutti possono vedere, non c’è trucco, nessun trabocchetto nascosto, né giochi di luce ingannevoli.
A mala repousa nesta cadeira aqui.
La valigia è posata su questa sedia qui.
Abro a mala com esta chave mestra em cerimônias do tipo, se me permitem a brincadeira.
Apro la valigia con questa chiave maestra di cerimonie del genere, se mi consentite la battuta.
A primeira coisa que encontramos na mala, por cima de tudo, é – adivinhem – um par de luvas.
La prima cosa che incontriamo nella valigia, sopra tutto il resto, è – indovinate – un paio di guanti.
Ei-las.
Pelica.
Coisa fina.
Visto as luvas – mão esquerda... mão direita... corte... perfeito.
Isso me lembra ...
Eccoli.
Pelle.
Roba fina.
Indosso i guanti – mano sinistra... mano destra... fattura... perfetta.
Questo mi ricorda.
Um jovem artista perdido na elegante Berlim da Belle Époque, sozinho, em vão procurando por prazer. Passa um grupo ruidoso de patinadores, e uma mulher de branco deixa cair a sua luva, uma luva com seis botões forrados, branca, longa, perfumada. O jovem corre, apanha a luva, mas reluta se deve aceitar ou não o desafio. Afinal decide ignorá-lo, guarda a luva no bolso e volta caminhando para o seu hotel por ruas mal iluminadas.
Un giovane artista perduto nell’elegante Berlino della Belle Époque, solo, nella vana ricerca del piacere. Passa un rumoroso gruppo di pattinatori, e una donna vestita di bianco lascia cadere il suo guanto, un guanto con sei bottoni foderati, bianco, lungo, profumato. Il giovanotto corre, afferra il guanto, ma non sa decidersi se deve accettare o no la sfida. Infine decide di ignorarla, ripone il guanto nella tasca e torna verso il suo hotel camminando per strade mal illuminate.
Mas assim me desvio do meu propósito desta noite. Depois se houver tempo concluirei esta história fantástica, onde entra até uma carruagem de Netuno, um morcego gigantesco que sorri e foge sempre, e um oceano de folhagens.
Ma così mi sto allontanando dal mio proposito di questa notte. Dopo, se ci sarà tempo, concluderò questa storia fantastica, in cui entra persino una carrozza di Nettuno, un pipistrello gigantesco che sorride e fugge sempre, e un mare di foglie.
Quem sabe esta não é exatamente aquela luva? No entanto temos aqui não apenas uma, mas o par; é muito delicado e contrasta com este terno preto.
Chissà che questo non sia esattamente quel guanto? Ma intanto qui non ne abbiamo uno solo, ma il paio completo; è molto delicato e contrasta con questo vestito nero.
A valise de couro conterá objetos de toucador?
Não, meus amigos.
La valigia di cuoio conterrà oggetti per il trucco?
No, amici miei.
Como todos podem ver, mediante uma ligeira rotação que faço na cadeira sobre a qual ela se encontra, a valise contém apenas papel ... cartões... dezenas, talvez centenas de cartões-postais.
Come tutti potete vedere, mediante una leggera rotazione che imprimo alla sedia sulla quale essa si trova, la valigia non contiene che carta... cartoline... decine, forse centinaia di cartoline illustrate.
Strana valigia!
Ed ora, attenzione.
Étrange valise !
Et maintenant, attention.
Com minhas mãos enluvadas – um momento enquanto abotoo uma... e depois outra... cuidadosamente... não há fraude... ajusto os punhos, assim... – agora com estas mãos, ao acaso, apanho o primeiro cartão-postal, que contemplo por um instante sob a luz... há um reflexo... mas vejo aqui uma moça afogada entre os juncos... passo o primeiro cartão, por favor passem uns para os outros... segundo cartão: a Avenida Atlântica... vão passando... cadilaque em Acapulco... Carmem... Centro Pompidou... igreja no Alabama... castelo visto do levante... dois cupidos de óculos escuros... o ladrão de joias e a duquesa... e este aqui, Fred Astaire em Lady be good, ou não faz arte, menina... nostálgica... e uma Marilyn, e aqui a praia em Clacton com bingo e fish and chips... O Boeing da Air France... bondes subindo a ladeira em São Francisco... um urso-polar no zoo de Barcelona... Salomé... Londres... outra Salomé... vão passando, vão passando.
Con le mie mani guantate – un momento, prima ne abbottono una... e poi l’altra... accuratamente... non c’è inganno... sistemo i polsi, così... – ora con queste mani, a caso, prendo la prima cartolina, che contemplo per un istante sotto la luce... c’è un riflesso... ma vedo qui una ragazza circondata dai cespugli... passo la prima cartolina, per favore fatele passare dall’uno agli altri... seconda cartolina: l’Avenida Atlântica... fate passare... cadillac ad Acapulco... Carmen... Centro Pompidou... chiesa in Alabama... castello visto da oriente... due Cupidi con gli occhiali scuri... il ladro di gioielli e la duchessa... e questo qui, Fred Astaire in Lady be good, o l’arte non c’entra, bambina... nostalgica... e una Marilyn, e qui la spiaggia di Clacton con bingo e fish and chips... Il Boeing dell’Air France... tram che s’inerpica sulla salita a São Francisco... un orso polare allo zoo di Barcellona... Salomé... Londra... altra Salomé... fate passare, fate passare.
Meus amigos, isto é uma valise, não é uma cartola com coelhos.
Amici miei, questa è una valigia, non è un cilindro con
i conigli.
Temos cartões para a noite inteira.
Alexandria... Beirute... Praga...
Abbiamo cartoline per tutta la notte.
Alessandria... Beirut... Praga...
Sejam misteriosas, um quadro de Paul... Gauguin, seguido de O que, estás com ciúme? uma pergunta malandra em tom capcioso, assim tomando sol na praia.
Siate misteriose, un quadro di Paul... Gauguin, seguito da Che c’è, sei geloso? una domanda birichina in tono ambiguo, mentre si prende il sole sulla spiaggia.
E outros de museu aqui:
O olho, como um balão bizarro, se dirige para o
infinito;
Ed eccone altre da museo:
L’occhio, come una bizzarra mongolfiera, si dirige verso l’infinito;
No horizonte, o anjo das certitudes, e no céu sombrio, um olhar interrogador;
All’orizzonte, l’angelo delle certezze, e nel cielo cupo, uno sguardo inquisitorio;
A dama em desespero;
O sangue da Medusa;
As mães malvadas;
Tranco a porta sobre mim;
O beijo;
Outro beijo;
O ciúme novamente,
La dama disperata;
Il sangue della Medusa;
Le madri malvagie;
Chiudo la porta dietro di me;
Il bacio;
Un altro bacio;
La gelosia di nuovo,
e agora o verdadeiro Morro dos ventos uivantes, seguindo de uma curiosa competição esportiva, e de alguma pornografia, e de um padrinho Cícero.
ed ora il vero Cime tempestose, seguito da una curiosa competizione sportiva, e da un po’ di pornografia, e da un piccolo padre Cícero.
Meus amigos, eu não sei onde nós vamos parar.
Amici miei, io non so dove andremo a finire.
Continuo a passar mais rapidamente estes cartões. Reparem nesses bolinhos presos com elástico, e aliás ia me esquecendo de dizer, podem e devem verificar se no verso há palavras rabiscadas, este aqui por exemplo, “Para quando serão nossas próximas horas exquisitas?”, esquisitas com xis, ou este aqui, “O Posto 6, onde passei minha infância e minha adolescência, como está mudado!”, ou este outro, ouçam só, “Fico tentando te mandar um pedacinho de onde estou mas fica faltando sempre”. E um com letra bem miúda: “Acalmei bem, me distraí, não penso tanto, penso a te”. Acho que o final está em italiano. Vão lendo, vão lendo, a maioria está em branco mesmo, com licença.
Continuo a far passare più velocemente le cartoline. Guardate queste tenute alla rinfusa con l’elastico, e a proposito mi stavo dimenticando di dirvi, che potete e dovete verificare se sul retro ci sono parole scribacchiate senza cura, come queste per esempio, “Quando vivremo ancora i nostri prossimi momenti delisiosi?”, deliziosi con la esse, o questo qui, “Il Posto 6, dove ho trascorso la mia infanzia e la mia adolescenza, com’è cambiato!”, o quest’altro, state a sentire, “Sto tentando di mandarti un pezzettino del luogo dove sto ma manca sempre qualcosa”. E una a caratteri piccolissimi: “Mi sono calmato, mi sono svagato, non penso tanto, penso a te”. Penso che la fine sia in italiano. Leggete, leggete, per lo più sono senza testo, chiedo scusa.
Eu preciso sair mas volto logo.
Devo uscire ma torno subito.
Um cisco no olho, um pequeno cisco; na volta continuo a tirar os cartões da mala, e quem sabe, quando o momento for propício, conto o resto daquela história verdadeira, mas antes de sair tiro a luva, deixo aqui no espaldar desta cadeira.
Un frustolo nell’occhio, un frustolino; al ritorno continuerò a togliere cartoline dalla valigia, e chissà, quando sarà il momento giusto, vi racconterò il resto di quella storia vera, ma prima di uscire mi tolgo il guanto, lo lascio qui sulla spalliera di questa sedia.
________________

Roger de la Fresnaye
Il mago (1921)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (20) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (429) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (21) Poemas Sociais (30) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)