Aprendiz na oficina da poesia


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Rui Knopfli »»
 
Reino submarino (1962) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Aprendiz na oficina da poesia
Apprendista nella bottega della poesia


Não rimes.
Ou rima, se quiseres,
mas não violentes
a palavra.
Não busques ansioso,
qual amante inexperiente,
a palavra.

Espera antes
a sua vinda.

Música e rima
são acessórios dispensáveis:
O poema é outra coisa.

Deixa, pois
que as palavras acordem
na matriz
e caiam maduras.
Áridas ou frias,
secas e imperturbáveis,
orvalhadas, humildes,
estropiadas até,
que sejam precisas,
prenhes de significado.

Espera as palavras.
Elas viajam misteriosas,
desconhecidas ainda,
elas germinam
em ti.

Caem. Juntam-se.
Doloridas, feias
sob o visco placentário,
deselegantes por vezes,
elas procuram-se
e organizam-se.

Juntas transcendem-se,
há algo de íntimo,
coeso e secreto
nelas.

O poema está aí.
Non rimare.
Oppure rima, se preferisci,
ma senza violentare
la parola.
Non cercare bramoso,
quale amante maldestro,
la parola.

Aspetta invece
che sia lei ad arrivare.

Musica e rima
sono sussidi superflui:
La poesia è altra cosa.

Lascia, dunque
che le parole si destino
in embrione
e cadano mature.
Asciutte o fredde,
secche e impassibili,
roride, semplici,
perfino distorte,
che siano esatte,
dense di significato.

Aspetta le parole.
Esse viaggiano in incognito,
ancora inesplorate,
esse germinano
in te.

Cadono. S’aggregano.
Dolenti, brutte
sotto il vischio placentare,
trasandate a volte,
esse si cercano
e si strutturano.

Unite si trascendono,
c’è un che di intimo,
coeso e segreto
in loro.

Ecco la poesia.
________________

René Magritte
Specchio vivo
...

Amputação


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Rui Knopfli »»
 
Reino submarino (1962) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Amputação
Amputazione


Algo, em mim, está morto.
O lado direito inerte, ausente,
de mim está alheio.
Do lado esquerdo
o fito,
como se a um outro
olhasse.
Metade de mim persiste,
vive,
e contempla algo, ardendo,
estiolando,
que em mim està morto.
Um perfil que apodrece
e eu vivendo
e vendo ausentar-se de mim
algo que em mim está morto
definitivamente.
Qualcosa è morto in me.
Il lato destro inerte, assente,
mi è estraneo.
Dal lato sinistro
io lo scruto,
come se guardassi
un altro.
Metà di me perdura,
vive,
e osserva qualcosa di bruciante,
putrescente,
che è morto in me.
Un profilo che si decompone
mentre io vivo
e vedo venir meno
qualcosa che è morto in me
definitivamente.
________________

Francis Bacon
Autoritratto (1972)
...

Tenho na memória...


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (settembre 2024) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Tenho na memória...
Serbo nella memoria...


Tenho na memória, misturados
Na mesma carne de imagens,
Factos e coisas que não aconteceram,
Mas que lembro no tempo e no espaço.
E o que não aconteceu
Não é menos forte que o real,
Subsistem da mesma forma
Na mesma forma,
Com uma diferença:
O que não aconteceu
Não tem um gesto, um sorriso, um passo
Por assombração.
Serbo nella memoria, impastati
In una medesima sostanza d’immagini,
Fatti e cose che non sono avvenuti,
Ma che io rammento nel tempo e nello spazio.
E ciò che non è avvenuto
Non è meno forte del vero,
Sussistono con la stessa forma
Nella stessa forma,
Con una differenza:
In ciò che non è avvenuto
Nessun gesto, sorriso o passo
Pare un’illusione.
________________

Caravaggio
L'incredulità di san Tommaso (1600-1601)
...

A pedra no caminho


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Rui Knopfli »»
 
Reino submarino (1962) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


A pedra no caminho
La pietra sul cammino


Toma essa pedra em tua mão,
toma esse poliedro imperfeito,
duro e poeirento. Aperta em
tua mão esse objecto frio,
redondo aqui, acolá acerado.
Segura com força esse granito
bruto. Uma pedra, uma arma
em tua mão. Uma coisa inócua,
todavia poderosa, tensa,
em sua coesão molecular,
em suas linhas irregulares.
Ao meio-dia em ponto, na avenida
ensolarada, tu és um homem
um pouco diferente. Ao meio-dia
na avenida tu és um homem
segurando uma pedra. Segurando-a
com amor e raiva.
Prendi questa pietra nella tua mano,
prendi questo poliedro imperfetto,
duro e polveroso. Stringi nella
tua mano quest’oggetto freddo,
qui tondeggiante, là tagliente.
Impugna con forza questo granito
grezzo. Una pietra, un’arma
nella tua mano. Una cosa innocua,
eppure poderosa, tesa,
nella sua coesione molecolare,
nelle sue linee irregolari.
A mezzogiorno in punto, sul viale
assolato, tu sei un uomo
un poco differente. A mezzogiorno
sul viale tu sei un uomo
che stringe una pietra. Che la stringe
con amore e con rabbia.
________________

Joan Miró
Figura che lancia una pietra a un uccello (1926)
...

Terra de Manuel Bandeira


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Rui Knopfli »»
 
O País dos Outros (1959) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Terra de Manuel Bandeira
Terra di Manuel Bandeira


Também eu quisera ir-me embora
pra Pasárgada,
também eu quisera libertar-me
e viver essa vida gostosa
que se vive lá em Pasárgada
(E como seria bom, Manuel Bandeira,
fugir duma vez pra Pasárgada!).
Entanto, tudo me prende aqui
a este lugar desta cidade provinciana.
Como deixar ao abandono o olhar
luminoso dessa mulher que eu amo?
Quem responderá às inquietas
perguntas de minha filha pequena
(cabelo curto, olhos de sonho)?
Quem, no sereno da noite, para as beijar
com ternura e nos braços acalentar?
E esta vida, este sítio,
e estes homens e estes objectos?
E as coisas que amei e as que esqueci?
E os meus mortos e as doces recordações,
as conversas de café e os passeios no
entardecer fusco da cidade?
E o cinema todos os sábados, segurando
com força a mão de minha mulher?
Eles nem são amigos do rei
e a entrada lá é limitada.
Por isso é que eu não fujo
duma vez, pra Pasárgada.
Anch’io vorrei lasciare tutto
per andarmene a Pasárgada,
anch’io vorrei essere libero
e vivere quella vita piacevole
che si vive là a Pasárgada
(E come sarebbe bello, Manuel Bandeira,
fuggire per sempre a Pasárgada!).
Eppure, tutto mi trattiene qui
in questi posti di questa città di provincia.
Come lasciare in abbandono lo sguardo
luminoso di questa donna che amo?
Chi risponderà alle inquiete
domande della mia figlioletta
(capelli corti, occhi di sogno)?
Chi, sotto il cielo notturno, le bacerà
con dolcezza e le terrà tra le braccia?
E questa vita, questo luogo,
e questi uomini e questi oggetti?
E le cose che ho amato e quelle dimenticate?
E i miei morti e i dolci ricordi,
le chiacchiere al caffè e le passeggiate nel
malinconico tramonto della città?
E il cinema tutti i sabati, tenendo
salda la mano della mia donna?
Loro non sono amici del re
e l’entrata è limitata.
Ed è per questo che non fuggo
per sempre, a Pasárgada.
________________

Felice Casorati
La famiglia Consoaro Girelli (1916)
...

Ilha dourada


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Rui Knopfli »»
 
O País dos Outros (1959) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Ilha dourada
Isola dorata


A fortaleza mergulha no mar
os cansados flancos
e sonha com impossíveis
naves moiras.
Tudo mais são ruas prisioneiras
e casas velhas a mirar o tédio.
As gentes calam na voz
uma vontade antiga de lágrimas
e um riquexó de sono
desce a Travessa da Amizade.
Em pleno dia claro
vejo-te adormecer na distância,
Ilha de Moçambique,
e faço-te estes versos
de sal e esquecimento.
La fortezza affonda nel mare
gli esausti fianchi
e vagheggia immaginarie
navi moresche.
Tutto il resto sono vie prigioniere
e vecchie case che scrutano la noia.
La gente reprime nella voce
un antico desiderio di lacrime
e un risciò sonnolento
scende lungo la Travessa da Amizade.
In pieno giorno sereno
ti vedo addormentare in lontananza,
Isola di Mozambico,
e per te scrivo questi versi
di sale e d’oblio.
________________

Nicolas de Staël
Fort carré d’Antibes (1955)
...

Diagnóstico


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Rui Knopfli »»
 
O País dos Outros (1959) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Diagnóstico
Diagnosi


E aqui à sombra de meus dias
apodreço
na consumpção de ocultas
corruptas brasas.
No que queria e afinal não sou,
feneço.
Remotos, discordantes sons
raspam a vidraça.
Do sol raios não me descem ao fundo
dos olhos;
quebram-se na álgida refracção
dos gelos em que mergulho.
Brutais, ululantes, pavorosos sexos de mulher,
hiantes, gritam translúcidas chamas
no roxo manto dum Cristo de memória.
Fantasmas de vivos - não gnomos,
não duendes - sentam-se à minha
beira como aparelhos de raios X.
Pesado, lento, grosso, adocicado,
nojento sangue escorre-me
da sulfurosa boca.
Na decomposição,
total, completo, sou vivo.
Amarga-me, não ela
mas as consoladoras, desejáveis
flores
em que nunca rebentará.
E qui all’ombra dei miei giorni
imputridisco
nel consumarsi di segrete
infette braci.
In ciò a cui aspiravo e alla fin fine non sono,
mi spengo.
Distanti, stridenti suoni
graffiano la vetrata.
I raggi del sole non raggiungono il fondo
dei miei occhi;
s’infrangono nella gelida rifrazione
dei ghiacci in cui sprofondo.
Selvaggi, ululanti, terrificanti sessi di donna,
avidi, urlano diafane fiamme sul purpureo
manto di un Cristo imparato a memoria.
Fantasmi di vivi - non gnomi,
non elfi - si siedono al mio
fianco come apparecchi per i raggi X.
Greve, lento, spesso, stucchevole,
nauseabondo sangue mi cola
dalla bocca sulfurea.
Nella decomposizione,
totale, completo, io sono vivo.
Non è questa che mi amareggia,
ma i consolanti, seducenti
fiori
in cui mai si schiuderà.
________________

Mattia Moreni
Autoritratto n.°16 (1990)
...

Despedida


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Rui Knopfli »»
 
O País dos Outros (1959) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Despedida
Addio


Tudo entre nós foi dito.
Estamos cansados e tristes
neste outono de folhas pairando
e caindo.
Entre nós as palavras colocam um mundo de
silêncio e vazio estéril.
Os próprios sonhos se encheram de neblinas
e o tempo os amarelece.
Outono decisivo de folhas secas
e bancos abandonados de cimento frio
onde não cantam aves
e o vento desce em brandos rodopios.
Apenas uma vaga angústia presente,
uma saudade sem recomeços,
a lembrança tépida a gelar como
veios de mármore.
Tudo entre nós foi dito,
olhamos o apodrecer do parque,
o vento, o crepitar leve das folhas
e, sem ressentimentos, dizemos adeus
Tutto fra noi è stato detto.
Siamo stanchi e tristi
in quest’autunno di foglie che cadono
planando.
Le parole tra noi mostrano un mondo sterile
di silenzio e di vuoto.
I sogni stessi si sono ammantati di nebbie
e il tempo li ingiallisce.
Autunno cruciale di foglie secche
e panchine abbandonate di cemento freddo
dove non cantano uccelli
e il vento scende in delicate spirali.
Solo una vaga angoscia è presente,
un rimpianto irripetibile,
il tiepido ricordo a congelarsi come
vene di marmo.
Tutto fra noi è stato detto,
guardiamo l’imputridirsi del parco,
il vento, il crepitare lieve delle foglie
e, senza rancori, ci diciamo addio.
________________

Umberto Boccioni
Gli stati d’animo I - Gli Addii, serie 2 (1911)
...

Vale quanto lesa


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Iacyr Anderson Freitas »»
 
Correio das Artes (03/2019) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Vale quanto lesa
Tanto Vale ci lede


do minério
  não se inclui
no peso bruto
glebas & glebas
 de luto

rios que morreram
   no curso
de um minuto

vales vilas vidas
como insumos
    ou meros
acidentes
   de percurso

com zeros
muitos zeros
à direita do lucro

& o que resta
— um cemitério
   devoluto
(mero
    acidente
  de percurso?)

grandes açougues
  de azougue
pelas frestas

rios defuntos
de defuntas
florestas

(uma hecatombe
a cada monte)

& o peso bruto
dessas mortes
em conluio
    com os zeros
      à direita
    sempre à direita
do lucro

 (este
que prospera
    com as mortalhas
 que entrega

& muito medra
com os crimes
que nega)

este
senhores
o lucro

: para o qual
não existe
corpo insepulto :o lucro

o único
    (embora sujo
de lama & luto

embora mito)

o único o único

     (oh perdoai
  se vos repito)

o único

impoluto
del minerale
  non va incluso
nel peso lordo
zolle & zolle
 di lutto

fiumi che son spariti
   nel corso
di un minuto

valli villaggi vite
come componenti
    o semplici
incidenti
   di percorso

con zeri
molti zeri
alla destra del profitto

& ciò che resta
— un cimitero
   riconvertito
(puro
    incidente
  di percorso?)

grande macello
  di marciume
tra gli squarci

fiumi defunti
di defunte
foreste

(un’ecatombe
per ogni monte)

& il peso lordo
di queste morti
in complotto
    con gli zeri
      alla destra
    sempre alla destra
del profitto

 (quello
che prospera
    con i sudari
 che riconsegna

& molto aumenta
con i crimini
che nega)

questo
signori
il profitto

: per il quale
non esiste
corpo insepolto : il profitto

l’unico
    (sebbene sporco
di fango e di lutto

tuttavia mito)

l’unico l’unico

     (oh perdonatemi
  se ve lo ripeto)

l’unico

incontaminato
________________

Diga di Brumadinho (MG)
dopo la catastrofe del 25 gennaio 2019
...

Zero quase


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Iacyr Anderson Freitas »»
 
Ar de arestas (2013) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Zero quase
Quasi zero


inútil servir a mesa
aos fantasmas
 
: em minha solidão
elaboro círculos
inutile servire alla tavola
dei fantasmi

: nella mia solitudine  
io cammino in tondo
________________

Aldo Romano
Entropia (2008)
...

Elegia


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Iacyr Anderson Freitas »»
 
Ar de arestas (2013) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Elegia
Elegia


o inverno quer ficar contigo
neste jardim,
onde um velho dorme.
ainda não são seis horas
e a nuvem
que outrora te acusava
some no azul, desfeita
por teu brilho
que envelhece, é certo,
sem o alarde
dos ventos mesmos
de outrora.

o que procura estar contigo
não te envolve:
espera, agudo, neste jardim
inaugural
entre formigas,
jornais
e o que resta de setembro.

vives uma infância transitória
e teus cabelos cingem,
na cintura, o esboço
de um adeus
que a tua própria ausência configura.
l’inverno vuol restare con te
in questo giardino,
dove un vecchio dorme.
non sono ancora le sei
e la nube
che prima ti accusava
sale nel blu, dissolta
dal tuo fulgore
che invecchia, è certo,
senza l’esibizione
degli stessi venti
d’un tempo.

ciò che cerca di restare con te
non ti coinvolge:
aspetta, intenso, in questo giardino
principiante
tra formiche,
giornali
e quel che resta di settembre.

vivi un’infanzia transitoria
e i tuoi capelli cingono,
alla vita, l’accenno
d’un addio
che la tua stessa assenza prospetta.
________________

Daniel Garber
Ombre (1922)
...

O vento epiléptico...


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (settembre 2024) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


O vento epiléptico...
Il vento epilettico...


O vento epiléptico
Faz rodopiar a noite,
Os espelhos dormem
E, de ti, nua, emerge a Primavera,
Tal como eu a quero.
Já não há sismos nos alfabetos
Nem violinos rompidos
Que a noite outrora traria.
Desperta em mim a respiração solta
Do sol sobre as praias e prados do Verão,
Dança indiana e doce da luz,
Lenta e tépida,
Tu dormes, acesa.
Il vento epilettico
Fa volteggiare la notte,
Gli specchi dormono
E, da te, nuda, emerge la Primavera,
Così come io la voglio.
Non ci sono più sismi negli alfabeti
Né i violini straziati
Che un tempo la notte avrebbe recato.
Si ridesta in me lo spontaneo respiro
Del sole sulle spiagge e sui prati estivi,
Danza indiana e dolce della luce,
Lenta e tiepida,
Tu dormi, accesa.
________________

Paul Delvaux
Venere dormiente (1943)
...

Lugar


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Iacyr Anderson Freitas »»
 
Quaradouro (2007) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Lugar
Posto


Nunca tivemos lugar neste mundo.

Ontem amávamos tanto
o que agora esquecemos.

Amanhã venderemos a qualquer preço
o que hoje nos faz
mudar de endereço.

Por isso invejamos aquela árvore:
porque soube
qual era o lugar, porque nele soube
deixar raízes

e em silêncio
levitar.
Mai abbiamo avuto un posto in questo mondo.

Ieri amavamo tanto
ciò che oggi abbiamo scordato.

Domani venderemo a qualunque prezzo
quel che oggi ci fa
cambiare d’indirizzo.

Per questo invidiamo quell’albero:
perché ha riconosciuto
qual era il suo posto, perché ha saputo
lasciarvi le radici

e in silenzio
levitare.
________________

Albrecht Dürer
Studio di abete rosso (1495-1500)
...

E sobre o deserto


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Iacyr Anderson Freitas »»
 
Quaradouro (2007) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


E sobre o deserto
E sopra il deserto


condenação primeira: carregar
os despojos dessa tarde, arrastá-la
para fora do tempo,
enterrá-la onde não haja escape.

como os que buscam no alforje,
entre serpes, o alimento de seus mortos,
também ofertarei meu corpo
às figurações da chuva e do trópico,
também poderei ungir
as cartilagens nulas de seu nome.

e sobre o deserto
e sobre os despojos de tudo
o que restou da tarde em seu transporte
permanece a mesma busca,
incessante, de uma terra mais
profunda e gasta, cada dia mais distante.
castigo primario: trasportare
le reliquie di questa serata, trascinarle
al di fuori del tempo,
sotterrarle dove non possano scappare.

come chi fruga nello zaino, tra i serpenti,
cercando il cibo dei suoi morti,
anch'io presterò il mio corpo
alle movenze della pioggia e del tropico,
anch'io potrò ungere
le inesistenti cartilagini del loro nome.

e sopra il deserto
e sulle reliquie di tutto ciò
ch’è rimasto della serata nel suo fervore
permane la stessa ricerca,
incessante, di una terra più profonda
e consunta, giorno dopo giorno più distante.
________________

Sebastiaan Bremer
The Sunken Forest (2023)
...

e retorna o morto...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Iacyr Anderson Freitas »»
 
Quaradouro (2007) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


e retorna o morto...
e ritorna il morto...


e retorna o morto
sepulto em cal e número

o que é memória
ressurge em múltiplos
e nos acena agora

e retorna o morto
como se nos visitasse

entra pelo casario
curva-se

imóvel no sobrado
é de todos
nosso mais triste convidado.
e ritorna il morto
sepolto in calce e numerato

quel ch’è memoria
risorge in multipli
ed ora ci saluta

e ritorna il morto
come se ci visitasse

entra nella vecchia casa
si curva

immobile nel solaio
è di tutti
il nostro più triste invitato.
________________

Cecily Brown
All the nightmares came today (2012)
...

Constelação


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Iacyr Anderson Freitas »»
 
Quaradouro (2007) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Constelação
Costellazione


por incontáveis noites
por dias tão numerosos
quanto léguas de vento
a estibordo
navego o mar que me soterra
busco a ilha prometida
a constelação de ilhas
ou mesmo a terra
— essa
que virá sobre meu corpo
qual cidade
de coisas mortas ou vencidas
coisas nascidas do limbo
crescidas do limbo
para uma qualquer mitologia
que desconheço
per innumerevoli notti
per giorni incalcolabili
quanto le leghe del vento
a tribordo
navigo questo mare che mi sotterra
cerco l’isola promessa
la costellazione di isole
o proprio la terra
— quella
che verrà a coprire il mio corpo
come città
di cose morte o vinte
cose nate dal limbo
cresciute dal limbo
per qualche mitologia
che io ignoro
________________

Francesco Casorati
Battello illuminato dalla luna (1960)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (27) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (482) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)