E sobre o deserto


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E sobre o deserto
E sopra il deserto


condenação primeira: carregar
os despojos dessa tarde, arrastá-la
para fora do tempo,
enterrá-la onde não haja escape.

como os que buscam no alforje,
entre serpes, o alimento de seus mortos,
também ofertarei meu corpo
às figurações da chuva e do trópico,
também poderei ungir
as cartilagens nulas de seu nome.

e sobre o deserto
e sobre os despojos de tudo
o que restou da tarde em seu transporte
permanece a mesma busca,
incessante, de uma terra mais
profunda e gasta, cada dia mais distante.
castigo primario: trasportare
le reliquie di questa serata, trascinarle
al di fuori del tempo,
sotterrarle dove non possano scappare.

come chi fruga nello zaino, tra i serpenti,
cercando il cibo dei suoi morti,
anch'io presterò il mio corpo
alle movenze della pioggia e del tropico,
anch'io potrò ungere
le inesistenti cartilagini del loro nome.

e sopra il deserto
e sulle reliquie di tutto ciò
ch’è rimasto della serata nel suo fervore
permane la stessa ricerca,
incessante, di una terra più profonda
e consunta, giorno dopo giorno più distante.
________________

Sebastiaan Bremer
The Sunken Forest (2023)
...

e retorna o morto...


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e retorna o morto...
e ritorna il morto...


e retorna o morto
sepulto em cal e número

o que é memória
ressurge em múltiplos
e nos acena agora

e retorna o morto
como se nos visitasse

entra pelo casario
curva-se

imóvel no sobrado
é de todos
nosso mais triste convidado.
e ritorna il morto
sepolto in calce e numerato

quel ch’è memoria
risorge in multipli
ed ora ci saluta

e ritorna il morto
come se ci visitasse

entra nella vecchia casa
si curva

immobile nel solaio
è di tutti
il nostro più triste invitato.
________________

Cecily Brown
All the nightmares came today (2012)
...

Constelação


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Constelação
Costellazione


por incontáveis noites
por dias tão numerosos
quanto léguas de vento
a estibordo
navego o mar que me soterra
busco a ilha prometida
a constelação de ilhas
ou mesmo a terra
— essa
que virá sobre meu corpo
qual cidade
de coisas mortas ou vencidas
coisas nascidas do limbo
crescidas do limbo
para uma qualquer mitologia
que desconheço
per innumerevoli notti
per giorni incalcolabili
quanto le leghe del vento
a tribordo
navigo questo mare che mi sotterra
cerco l’isola promessa
la costellazione di isole
o proprio la terra
— quella
che verrà a coprire il mio corpo
come città
di cose morte o vinte
cose nate dal limbo
cresciute dal limbo
per qualche mitologia
che io ignoro
________________

Francesco Casorati
Battello illuminato dalla luna (1960)
...

Aqui nos despedimos


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Aqui nos despedimos
Qui noi ci separiamo


que a imagem de um lenço
fique gravada, no silêncio
deste campo, entre coisas
já perdidas pelo desgaste da aurora.

coisas, coisas não de todo
amanhecidas ainda, aqui
nos despedimos, perenidade
dos ventos, adeus, adeus.

que no silêncio
deste campo
fique apenas a imagem
de um lenço

branco
che l’immagine d’un fazzoletto
rimanga impressa, nel silenzio
di questo campo, tra le cose
già perdute con l’esaurirsi dell’aurora.

cose, cose non ancora
del tutto ridestate, qui
noi ci separiamo, persistenza
dei venti, addio, addio.

che nel silenzio
di questo campo
resti soltanto l’immagine
d’un fazzoletto

bianco
________________

Paul Klee
Intensificazione statico-dinamica (1923)
...

Às vezes, queria traçar o percurso...


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Às vezes, queria traçar o percurso...
A volte vorrei tracciare il percorso...


Às vezes, queria traçar o percurso
De estar perdido de qualquer saber,
De já não nomear nada a partir do que sei,
Fixar a têmpora da manhã
E não reconhecer, de ignorar
Todos os gritos dos mudos sinais,
Apagar mapas, dissolver álgebras,
Partir leis contra a ignorância
Ou contra o exótico assombro
De uma excepção, de um descaminho.
 
Às vezes, perco-me,
Longe da pauta dos passos,
Apenas regido pelo êxtase desesperado
De estar perdido.
Às vezes, perco-me no tempo,
Mas em tempos infantis,
Pois possuo sempre saber suficiente
Para me recortar da branca desorientação
E regressar aos mapas dos nomes
E dos sinais.
A volte vorrei tracciare il percorso
Dello smarrimento d’ogni sapere,
Del non menzionare più nulla partendo da ciò che so,
Scrutare le tempora del mattino
E non riconoscerle, ignorare
Tutti i suoni dei taciti segni,
Cancellare le mappe, disgregare algebre,
Violare leggi contro l’ignoranza
O contro l’inusitato sconcerto
Di un’eccezione, di un disorientamento.
 
A volte mi perdo,
Lontano dal solco dei passi,
Guidato soltanto dall’estasi disperata
Dell’essermi perduto.
A volte mi perdo nel tempo,
Ma in un tempo infantile,
Poiché possiedo sempre sufficiente sapere
Per sottrarmi al bianco smarrimento
E far ritorno alle mappe dei nomi
E dei segni.
________________

Nicolas de Staël
Parc des Princes (1952)
...

Três horas


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Três horas
Tre di notte


no verbo nos movemos
sem festa

e o texto
esconde sempre
       outro dédalo

aceso em seu cavalo
ci districhiamo fra le parole
ma senza festa
  
e il testo
nasconde sempre
       un altro labirinto

latente nel suo ventre
________________

Scuola del Tintoretto
Il labirinto d’amore (particolare) (1550-60)
...

Doze horas


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Doze horas
Ore dodici


doze sóis a pino
no ar parado de maio
 
apodrecendo
 
não há silêncio maior
que essa tarde
abelhas mais violentas
 
não há silêncio maior
que esses sóis
 
no ar parado de maio
apodrecendo
dodici soli a picco
nell’aria ferma di maggio

a marcire

non c’è maggior silenzio
che questo meriggio
né api più infuriate

non c’è maggior silenzio
che questi soli

nell’aria ferma di maggio
a marcire
________________

Vincent Van Gogh
Mezzogiorno - Riposo dal lavoro (1890)
...

Serenata


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Serenata
Serenata


Uma saudade prisioneira
Numa guitarra,
Subindo pela encosta
Da noite negra,
Subindo como um perfume,
Um momento.

Uma saudade 
Que brota da guitarra
E em mim se confunde
Com a tua imagem.

Nas águas da guitarra,
A saudade
É o teu reflexo.
Una nostalgia prigioniera
D’una chitarra,
Che sale lungo la china
Della notte nera,
Che sale come un profumo,
In un istante.

Una nostalgia
Che sgorga dalla chitarra
E in me si confonde
Con la tua immagine.

Nelle acque della chitarra,
La nostalgia
È il tuo riflesso.
________________

Pablo Picasso
Chitarra (Amo Eva) (1912)
...

Apenas ele


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Apenas ele
Soltanto lui


tudo muito quieto
não fosse o menino
brincando
na memória
 
eis minha infância
entre os móveis
como o retrato
de cecília
&
alguém toca o piano
    apenas ele
    destoa
    da mobília
tutto molto quieto
se non ci fosse il bambino
che gioca
nella memoria
 
ecco la mia infanzia
in mezzo ai mobili
come il ritratto
di cecilia
&
qualcuno suona il piano
    soltanto lui
    stona
    con la mobilia
________________

Pablo Picasso
Uomo che suona il piano (1957)
...

A incidência da coincidência...


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A incidência da coincidência...
L’incidenza della coincidenza...


A incidência
Da coincidência
O impacto
Do acto

O certo
Do que não ‘stá perto
Sol esbatido
Por detrás do vidro
É quando sou fraco
Que procuro ser opaco
L’incidenza
della coincidenza
L’impatto
Dell’atto

L’evidenza
Di ciò che sta a distanza
Sole smorzato
Al di là del vetro
È quando sono insicuro
Che tendo a farmi oscuro
________________

Ira Svobodova
Visione notturna (2011)
...

Antes da queda e do canto


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Antes da queda e do canto
Prima della caduta e del canto


nenhum mar
nenhuma rosa
nenhum inverno rompeu meu corpo

estou como há muito
no exílio
antes da queda e do canto

a fome dos que me assassinaram
ruge em mim
continuada

ah eu tive os infernos por herança
eu sozinho
voltei meus olhos a Sodoma
bebi o incêndio em vária fonte
amei o efêmero
com seus dosséis ao lado

minha memória fez-se um túmulo
e este será todo o meu legado.
nessun mare
nessuna rosa
nessun inverno ha spezzato il mio corpo

sto come molto tempo fa
in esilio
prima della caduta e del canto

la fame di quelli che m’hanno assassinato
ruggisce in me
incessante

ah io ho avuto l’inferno in eredità
io da solo
ho rivolto i miei occhi a Sodoma
ho bevuto l’incendio da varie fonti
ho amato l’effimero
coi suoi baldacchini accanto

la mia memoria s’è fatta una tomba
e questo sarà tutto il mio lascito.
________________

Andrea Carlo Pedrazzini
Canto (De Bestiarum Naturis) (1958)
...

Visita do avô


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Visita do avô
Visita del nonno


Na casa deserta
a tua sombra projetou-se,  
severa e fria.

Sem pressa ou palavra
tomou-me pela mão
 
e caminhamos.
 
Eis o velho sobrado,
a minha velha contemplação do mundo,
as terras de meu pai.

Uma pequena viagem, pois,
e a esfoladura se abre
nos ombros.
Os lenitivos sulcam 
a fuligem do rosto.
 
Ao cabo de tudo, 
um silêncio floriu.
E fundo.  
 
Foi quando percebi
que enfim te conhecera,
que aquela 
era enfim a tua presença, 
 
tão alheia e esquiva 
na hora imensa. 
Nella casa deserta 
la tua ombra si protese,  
fredda e severa.

Senza fretta e silente
mi prese per la mano
 
e c’incamminammo.
 
Ecco la vecchia dimora,
dove un tempo contemplavo il mondo,
le terre di mio padre.

Un breve viaggio, dunque,
e la lacerazione s’apre
sulle spalle.
Lacrime balsamiche solcano  
la fuliggine del volto.
 
Alla fine di tutto, 
germogliò un silenzio.
E profondo.  
 
Fu allora che compresi
d’averti finalmente conosciuto,
che quella 
era finalmente la tua presenza, 
 
così estranea e schiva 
nell’ora immensa.
________________

Albert Anker
La devozione verso il nonno (1893)
...

Vem a noite


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Vem a noite
Viene la notte


   A Camilo Mota

Vem a noite aqui parir seu desconsolo:

uma criança
com os olhos
para o ocaso de junho.

Eis que o vento arrastra
o lixo dominical,
tange os jornais
para um chão
de outras datas,
um chão
anterior ao própio
tempo

e de onde,
de repente,
ele se move.
   A Camilo Mota

Viene la notte qui a partorire il suo sconforto:

un fanciullo
con gli occhi
fissi su un tramonto di giugno.

Ecco che il vento ghermisce
i rifiuti domenicali,
scaglia i giornali
verso un suolo
d’altre date,
un suolo
anteriore al proprio
tempo

e dal quale,
all’istante,
egli si scosta.
________________

Félix Ziem
Effetto serale (1825-1911)
...

Uma árvore


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Uma árvore
Un albero


   para José Afrânio M. Duarte

A única imagem pessoal:
aquela árvore sob a chuva,
impassível e dura.

A cidade à deriva,
cortinas alvas avançando mais e mais
para a noite, por duas semanas
– e nenhum azul, nenhuma réstia
de luz ou lume.

Casas com âncoras nos batentes.
Lodo, lixo, limo. A paisagem
começa a empalidecer.
Mal se adivinha a montanha ao lado.

Uma densa parede sela a vista.
As águas tracionam terra e céu.
Agora tudo compõe
uma irmandade
sem contornos.
O que era realidade
vai girando
sua manivela.

Mesmo a topografia se curva
ao temporal, sem pressa.

Alheia ao desespero,
apenas aquela árvore.

Impassível em sua metáfora, entregue
à total condenação:

estar na chuva, sob o jugo,
testemunhar a tudo,
avessa ao céu e ao chão
   per José Afrânio M. Duarte

L’unica immagine personale:
quell’albero sotto la pioggia,
impassibile e duro.

La città alla deriva,
bianche cortine che avanzano sempre di più
verso la notte, per due settimane
– e niente di blu, nessun barlume
di luce o di fuoco.

Case con ancore ai battenti.
Melma, scorie, limo. Il paesaggio
comincia a impallidire.
Si riconosce a stento la montagna accanto.

Una densa parete impedisce la vista.
Le acque trascinano terra e cielo.
Ora tutto compone
una fraternità
senza contorni.
Ciò che era realtà
gira
la sua manovella.

Perfino la topografia si curva
alla tempesta, senza fretta.

Alieno allo sconforto,
solo quell’albero.

Impassibile nella sua metafora, arreso
alla condanna totale:

stare sotto la pioggia, sotto il giogo,
testimone di tutto,
avverso al cielo e al suolo.
________________

Théodore Rousseau
Tramonto vicino ad Arbonne (1846)
...

Um estranho se apresenta


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Um estranho se apresenta
Un estraneo si presenta


Não posso me reconhecer
nos documentos que me deram.

Sinto muito,
mas essa fotografia não é minha,
assim como não são esses
os meus pais.

Há muito me perdi, desencontrei-me.
Sequer conheço
a mão que me escreve agora
ou a cidade que me arrasta
para uma data qualquer
nessa certidão de nascimento.

Não tenho esposa.
Não tive filhos.
Jamais poderei dizer
diante de qualquer juizo
o meu verdadeiro nome.

Meu passado não me sabe
ainda.

A meu lado, sem palavra,
urge um ouro derruído
Non posso riconoscermi
nei documenti che mi hanno dato.

Mi dispiace molto,
ma questa fotografia non è mia,
così come questi non sono
i miei genitori.

Da tempo mi sono perduto, mi sono lasciato.
Non conosco nemmeno
la mano che ora scrive per me
o la città che mi trascina
verso una data qualunque
in questo certificato di nascita.

Non ho una moglie.
Non ho avuto figli.
Non potrei mai dire
davanti a qualunque tribunale
il mio vero nome.

Il mio passato non mi conosce
ancora.

Accanto a me, senza parlare,
incombe una ricchezza in rovina.
________________

Petrus de Man
senza titolo (2012)
...

Tatão e as ruas


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Tatão e as ruas
Tatão e le strade


em certos lugares
interrogo os jardins
da minha infância.

interrogo sem resposta,
sem surpresa, sem esperança.

pois que jamais encontrei
aquela perfeição contida, sinto-me órfão.

a lição primeira de geometria
deu-se naqueles parques.

o velho jardineiro professava sem escândalo
ao sol do meio-dia.

ao povo simples
oficiava a sua matemática.

de um arbusto senil
fazia um cone invertido.
cubos estranhos de árvore
tomavam aos poucos a planura
e os muros vivos não cercavam:
antes ofereciam aos passantes
o espetáculo.
bordavam a cidade para o baile.

as duas filhas do jardineiro
foram estudar matemática.
de certa forma, a minha paixão pelos números
também nascera ali, intratável e física,
naqueles parques.

mas ninguém sabia melhor
proteger sua escultura.
ninguém tinha tal viço:
a ponto de morrer sob o sol do ofício
com um golpe de vento ou de árvore.

um golpe capaz de cessar,
para sempre,
todos os jardins e parques e ruas
da minha infância.
in certi posti
mi rivolgo ai giardini
della mia infanzia.

pongo domande senza risposta,
senza stupore, senza speranza.

e poiché non ho più trovato
quella sobria perfezione, mi sento orfano.

la lezione basilare di geometria
venne impartita in quei parchi.

il vecchio giardiniere educava senza scandalo
sotto il sole del mezzogiorno.

per la gente umile
officiava la sua matematica.

da un arbusto senile
ricavava un cono rovesciato.
strani cubi d’albero
riempivano un po’ alla volta il prato
e i muri pieni non coprivano:
offrivano, invece, ai passanti
lo spettacolo.
bordavano la città per il ballo.

le due figlie del giardiniere
scelsero poi gli studi di matematica.
in un certo senso, anche la mia passione
per i numeri era nata lì, scostante e fisica,
in quei parchi.

ma nessuno sapeva meglio di lui
proteggere la propria scultura.
nessuno aveva tanta energia:
giungendo a morire sotto il sole del suo lavoro
con un colpo di vento o d’albero.

un colpo in grado di abolire,
per sempre,
tutti i giardini e i parchi e le vie
della mia infanzia.
________________

Paul Cézanne
Il giardiniere Vallier (1906)
...

Schopenhauer


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________________


Schopenhauer
Schopenhauer


De uma filosofia
que não transcende o dia

(esse tão claro dia)
quem necessitaria?
Di una filosofia
che non trascenda il giorno

(un così chiaro giorno)
chi mai avrebbe bisogno?
________________

Ludwig Sigismund Ruhl
Ritratto di Arthur Schopenhauer (1815)
...

Nuvola degli autori (e alcune opere)

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