Epitáfio


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Nuno Júdice »»
 
Meditação sobre Ruínas (1994) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Epitáfio
Epitaffio


Morreram da epidemia, os melhores: a uns,
levou-os a peste; a outros, a gripe a que
chamaram pneumónica; e houve os da
doença de S. Vito; os da lepra, os da
tísica, galopante ou não. Isto, quando
não davam um tiro na cabeça, não se
enforcavam num candeeiro, não se deitavam
ao rio. Houve ainda os que deixaram
de escrever; os que beberam até perder
o juízo; os que, pura e simplesmente,
desistiram sem nada explicar. Como
se a vida dependesse de tão pouco –
linhas rabiscadas em papéis baratos,
frases que podiam ou não rimar,
pensamentos...  que poderiam ter
guardado para eles próprios. No
entanto, quando os leio, percebo o seu
desespero. A beleza não aparece
todos os dias à vista do homem;
a perfeição nem sempre parece
uma coisa deste mundo. Sim:
subo as escadas até ao fim,
de onde se vê a cidade, embora
o tempo esteja de tempestade. O
que se passa, neste instante, sob
aqueles tectos? Que epidemia, mais
subtil, prende ao chão os que,
ainda há pouco, sonhavam com o voo?

Morirono durante un’epidemia, i migliori: alcuni,
se li portò la peste; altri, l’influenza che
chiamarono spagnola; e ci furono quelli col
ballo di S. Vito; quelli con la lebbra, quelli con la
tisi, galoppante o meno. Questo, quando
non si tiravano un colpo in testa, non si
appendevano a un lampione, non si gettavano
nel fiume. Ci furono anche quelli che smisero
di scrivere; quelli che si diedero al bere fino a
perdere la ragione; quelli che, in modo puro e semplice,
si arresero senza dare spiegazioni. Come
se la vita dipendesse da cose minime –
righe scarabocchiate su carta a buon mercato,
frasi che potevano rimare oppure no,
pensieri...  che avrebbero potuto
tenere per sé stessi.
Tuttavia, quando li leggo, io sento la loro
disperazione. La bellezza non compare
tutti i giorni alla vista dell’uomo;
la perfezione non sempre pare
una cosa di questo mondo. Sì:
salgo le scale fino in cima,
da dove si vede la città, malgrado
il tempo minacci temporale. Che
cosa accade, in questo istante, sotto
quei tetti? Che epidemia, più
sottile, trattiene al suolo quelli che,
ancora poco fa, sognavano di volare?

________________

Gustave Caillebotte
Giovane uomo alla finestra (1875)

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (22) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (4) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)