Génesis


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Génesis
Genesi


No princípio era o verbo, e eu traduzia-o
em palavras com um sentido fundo como o poço
de onde as mulheres puxavam os baldes de água,
à tarde, para refrescar o chão de agosto. Nas
cordas de roupa do quintal, eu estendia as palavras
para as secar: e via o sol atravessá-las até ao osso,
dissecando o seu corpo mais vago — as vogais fechadas
do fim, ou a enunciação de um infinito
Até ao limite do verbo.

No principio também eram as coisas: umas
sobre as outras, no alinhamento curvo do destino,
como se não estivessem para cair nessa trepidação
de rimas que um fim de verso pode trazer. Então,
levantava-as do chão onde se tinham partido em pedaços,
as coisas brancas da lua e as coisas vermelhas do sol,
e colava-as na parede, vendo o muro subir
até ao tecto celeste.

E no fim, volta a ser o verbo. Arranha-me a língua
com as suas unhas de consoantes; e pego-lhe ao colo,
para que não fira os pés nas pedras do campo, ouvindo
a sua voz de carne e osso escrever-me, no fundo
da cabeça, e a toda a largura da alma, a frase
redonda do amor. Trabalho a sua sintaxe, até
descobrir as articulações do segredo; e abraço
o corpo que nasce na conjugação
das suas pálpebras, abertas até ao fundo
dos olhos, onde te vejo.

In principio era il verbo, ed io lo traducevo
in parole con un senso profondo come il pozzo
dal quale le donne sollevavano i secchi d’acqua,
la sera, per rinfrescare il suolo d’agosto. Sulle
corde da bucato del cortile, io stendevo le parole
ad asciugare: e vedevo il sole trapassarle fino all’osso,
sezionando il loro corpo svuotato — le vocali chiuse
della fine, o l’enunciazione d’un infinito
Fino al limite del verbo.

In principio c’erano anche le cose: le une
sulle altre, nel curvo allineamento del destino,
come se stessero per cadere in quella trepidazione
di rime che può verificarsi alla fine di un verso. Allora,
le sollevavo da terra dove s’erano rotte in mille pezzi,
le cose bianche della luna e le cose rosse del sole,
e le incollavo alla parete, vedendo il muro salire
fino al soffitto celeste.

E alla fine, torna ad esserci il verbo. Mi graffia la lingua
con le sue unghie di consonante; ed io lo prendo in braccio,
perché non si ferisca i piedi sui sassi del campo, sentendo
la sua voce in carne e ossa scrivermi, ben dentro
la mia testa, e per tutta l'ampiezza dell’anima, la frase
rotonda dell’amore. Ritocco la sua sintassi, fino
a scoprire le articolazioni del segreto; e abbraccio
il corpo che nasce dalla congiunzione
delle sue palpebre, aperte fino al fondo
degli occhi, dove ti vedo.


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Paul Klee
Dal grigiore della notte (1918)
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