Eu decidi ir ser feliz…



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Eu decidi ir ser feliz...
Ho deciso che sarò felice...


Eu decidi ir ser feliz com os outros,
Decidi tentar ver neles e eles em mim
Essa criança que chora,
Tenra forma de gente,
Quase ninguém ainda.
Eu decidi que ninguém ficaria
  Na soleira do esquecimento,
Insultado pelo Dezembro que sulca as ruas.
Eu decidi que haveria um Natal maior
Que as árvores e os presépios e os presentes
E a bondade obrigatória, forçada, engolida.
Eu decidi que o Natal seria um gesto
E não um programa inerte, pendente.
Eu decidi moldar o coração
Num amor para todos
Porque o Gonzaga sabia:
“Eu tenho um coração maior que o mundo.”
Eu decidi ser fiel à estrela
Sufocada no céu convulsionado
Por tantas outras luzes
Eu decidi ser fiel e seguir a estrela
Esquecida
Atraiçoada.
Ho deciso che sarò felice con gli altri,
Ho deciso di tentar di vedere in loro e loro in me
Quel bimbo che piange,
Tenera forma in nuce,
Quasi nessuno ancora.
Ho deciso che nessuno rimarrà
Sulla soglia dell’oblio,
Insultato da un dicembre che solca le strade.
Ho deciso che ci sarà un Natale più grande
Degli alberi e dei presepi e dei regali
E della bontà d’obbligo, forzata, subita.
Ho deciso che il Natale sarà un gesto
E non un programma inerte, sospeso.
Ho deciso di plasmare il cuore
In un amore per tutti
Perché il Gonzaga lo sapeva:
“Io ho un cuore più grande del mondo.”
Ho deciso d’essere fedele alla stella
Soffocata nel cielo stravolto
Da tante altre luci
Ho deciso d’essere fedele e seguire la stella
Dimenticata
Tradita.
________________

Aldo Romano
Ex Voto (2006)
...

Balada ditirambica do grande filho-da-puta


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Discurso sobre o Filho-da-Puta (1977) »»
 
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Balada ditirambica
do grande filho-da-puta
Ballata ditirambica
del grande figlio-di-puttana


o grande filho-da-puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho-da-puta,
e não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

no entanto,
há filhos-da-puta
que já nascem grandes
e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta

o grande filho-da-puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho-da-puta.

por isso
o grande filho-da-puta
tem orgulho em ser
o grande filho-da-puta.

todos
os pequenos filhos-da-puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

dentro do
grande filho-da-puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho-da-puta.

é o grande filho-da-puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
o grande filho-da-puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho-da-puta:
o grande filho-da-puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho-da-puta.
il grande figlio-di-puttana
anch’egli, in qualche caso, comincia
con l’essere
un piccolo figlio-di-puttana,
e non esiste figlio-di-puttana,
per quanto piccolo,
che non possa
trasformarsi
in un grande figlio-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

eppure,
esistono figli-di-puttana
che già nascono grandi
e figli-di-puttana
che nascono piccoli,
dice il grande figlio-di-puttana.

d’altronde,
i figli-di-puttana
non si misurano a
spanne, dice ancora
il grande figlio-di-puttana

il grande figlio-di-puttana
ha una grande
visione delle cose
e lo manifesta in
tutto quel che fa
e dice
d’essere proprio
il grande figlio-di-puttana.

perciò
il grande figlio-di-puttana
va fiero d’essere
il grande figlio-di-puttana.

tutti
i piccoli figli-di-puttana
sono duplicazioni in
piccole dimensioni
del grande figlio-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

dentro al
grande figlio-di-puttana
stanno in nuce
tutti i
piccoli figli-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

tutto quel ch’è buono
per il grande
non può
non essere altrettanto buono
per i piccoli figli-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

il grande figlio-di-puttana
venne concepito
dal grande signore
a sua immagine e
somiglianza,
dice il grande figlio-di-puttana.

è il grande figlio-di-puttana
che dà al piccolo
tutto quello di cui
questi ha bisogno per essere
il piccolo figlio-di-puttana,
dice il grande figlio-di-puttana.

d’altronde,
il grande figlio-di-puttana vede
di buon occhio
la crescita
del piccolo figlio-di-puttana:
il grande figlio-di-puttana
il grande signore
Segnale Segreto
Simbolo Supremo
ovvero,
il grande figlio-di-puttana.
________________

George Grosz
Caino o Hitler all'inferno (1944)
...

Balada ditirambica do pequeno filho-da-puta


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Balada ditirambica
do pequeno filho-da-puta
Ballata ditirambica
del piccolo figlio-di-puttana


O pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.

no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o pequeno filho-da-puta.

o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho-da-puta.

no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho-da-puta.

todos os grandes
filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

dentro do
pequeno filho-da-puta
estão em ideia
todos os grandes filhos da puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.

tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

o pequeno filho-da-puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho-da-puta.

é o pequeno filho-da-puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.

de resto,
o pequeno filho-da-puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho-da-puta.
Il piccolo figlio-di-puttana
è sempre
un piccolo figlio-di-puttana;
ma non esiste figlio-di-puttana,
per quanto piccolo,
che non possieda
la sua propria
grandezza,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

eppure, ci sono
figli-di-puttana che nascono
grandi e figli-di-puttana
che nascono piccoli,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

d’altronde,
i figli-di-puttana
non si misurano a
spanne, dice ancora
il piccolo figlio-di-puttana.

il piccolo
figlio-di-puttana
ha una piccola
visione delle cose
e mostra in
tutto quel che fa
e che dice
d’essere proprio
il piccolo
figlio-di-puttana.

eppure,
il piccolo figlio-di-puttana
va fiero
d’essere
il piccolo figlio-di-puttana.

tutti i grandi
figli-di-puttana
sono duplicazioni a
grandi dimensioni
del piccolo
figlio-di-puttana,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

dentro al
piccolo figlio-di-puttana
stanno in nuce
tutti i grandi figli-di-puttana,
dice il
piccolo figlio-di-puttana.

tutto quel che è male
per il piccolo
è male
per il grande figlio-di-puttana,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

il piccolo figlio-di-puttana
venne concepito
dal piccolo signore
a sua immagine
e somiglianza,
dice il piccolo figlio-di-puttana.

è il piccolo figlio-di-puttana
che dà al grande
tutto quello di cui
questi ha bisogno
per essere il grande figlio-di-puttana,
dice il
piccolo figlio-di-puttana.

d’altronde,
il piccolo figlio-di-puttana vede
di buon occhio
la crescita
del grande figlio-di-puttana:
il piccolo figlio-di-puttana
il piccolo signore
Soggetto Sollecito
Semplice Superfluo
ovvero,
il piccolo figlio-di-puttana.
________________

George Grosz
Café (particolare) (1915)
...

Tango


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Tango
Tango


sacrificaram tudo a deus, e
o que nâo sacrificaram a deus
sacrificaram pelos vindouros

os quais
 
sacrificaram tudo a deus, e
o que nâo sacrificaram a deus
sacrificaram pelos vindouros

os quais

sacrificaram tudo a deus, e
que nâo sacrificaram a deus
sacrificaram pelos vindouros

os quais

e assim sucessivamente
PARA OS VINDOUROS AINDA NÂO
PARA DEUS JÁ TALVEZ TENHA VALIDA A PENA.
sacrificarono tutto a dio, e
quel che non sacrificarono a dio
lo sacrificarono per i posteri
 
i quali
 
sacrificarono tutto a dio, e
quel che non sacrificarono a dio
lo sacrificarono per i posteri

  i quali
 
sacrificarono tutto a dio, e
quel che non sacrificarono a dio
lo sacrificarono per i posteri
 
i quali
 
e via dicendo
PER I POSTERI ANCORA NO
PER DIO FORSE NE È GIÀ VALSA LA PENA.
________________

Pier Dandini
Sacrificio di Ifigenia (1700 ca.)
...

Paixão, morte e 1.ª aparição de frankenstein


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Paixão, morte
e 1.ª aparição de frankenstein
Passione, morte
e 1.ª apparizione di frankenstein


como se sabe: frankenstein foi preso por denúncia,
já perto da fronteira leste, coisa de meia ho
ra a pé, apenas. foi revistado, farejado pelos cães,
algemado e depois transportado e apresentado à na
ção no decurso do telejornal. acusado de semear o
terror, frankenstein foi condenado por toda a nação,
embora não tenha chegado a ser condenado por um
tribunal regular. enquanto o julgamento era prepa
rado, frankenstein foi metido numa daquelas celas
hermeticamente isoladas, todas pintadas de branco
e perpetuamente mergulhada no silêncio e numa tez
artificial; celas donde um tipo como eu ou tu só
sai com os pés para a frente, ou então de pé, mas
nesse caso com a cabeça mole como fruta do chão.
frankenstein no entanto era um tipo mais forte que
eu ou tu. frankenstein aguentou dois anos de pri
são preventiva, sem um canário sequer que lhe fi
zesse companhia, pois as leis desta nação só permi
tem aos presos a companhia de um canário depois de
dois anos de bom comportamento. acerca do compor
tamento de frankenstein nada sei. a nação e o seu
jornal sabem tudo acerca do comportamento de fran
kenstein. e sabem também como frankenstein morreu.
eu não sei como frankenstein morreu. mas a nação
e o seu jornal (a «sua imagem») sabem como
 frankenstein morreu.
corre agora o boato que o colapso do antigo
chefe da polícia foi causado pela aparição de fran
kenstein. mas quem garante que assim tenha sido?
bom, um tipo como frankenstein talvez. mas um tipo
como eu e tu que chances tem de aparecer depois
de morto? não, um tipo como eu e tu não sei que
chances tem depois de morto, para dizer a verdade,
 nesta nação
nem sei que chances tem depois de vivo, um tipo
como eu e tu, de resto era isso que frankenstein
não se cansava de dizer, todo o tempo, todo o tempo.
come si sa: frankenstein fu arrestato su denuncia,
già prossimo alla frontiera orientale, roba di mezz’o
ra a piedi, appena. fu perquisito, annusato dai cani,
ammanettato e poi trasportato e presentato alla na
zione durante il telegiornale. accusato di seminare il
terrore, frankenstein fu condannato da tutta la nazione,
pur non essendo arrivato ad essere condannato da un
tribunale regolare. mentre la sentenza era in prepa
razione, frankenstein fu messo in una di quelle celle
ermeticamente isolate, tutte dipinte di bianco
e perpetuamente immersa nel silenzio e in un ambiente
artificiale; celle da cui un tipo come me e te esce
soltanto con i piedi in avanti, o anche in piedi, ma
in questo caso con la testa molle come frutta marcita.
frankenstein dunque era un tipo più forte di
me e di te. frankenstein sopportò due anni di pri
gione preventiva, senza neanche un canarino a far
gli compagnia, poiché le leggi di questa nazione consen
tono ai prigionieri la compagnia di un canarino solo dopo
due anni di buona condotta. a proposito della con
dotta di frankenstein non so nulla. sono la nazione e il suo
giornale a saper tutto della condotta di fran
kenstein. e sanno anche come frankenstein morì.
io non so come frankenstein morì. ma la nazione
e il suo giornale (la «sua immagine») sanno come
 frankenstein morì.
corre ora voce che il collasso del precedente
capo della polizia fu causato dall’apparizione di fran
kenstein. ma chi può garantire che sia andata così?
beh, forse un tipo come frankenstein. ma un tipo
come me e te che probabilità hanno di apparire dopo
morto? no, un tipo come me e te non so che
probabilità hanno dopo morti, di dire la verità, in questa
 nazione
né so che probabilità hanno dopo esser vissuti, un tipo
come me e te, del resto era questo che frankenstein
non si stancava di dire, tutto il tempo, tutto il tempo.
________________

Lynd Ward
Mary Shelly. Frankenstein (1934)
...

Elegia


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Elegia
Elegia


já nada é o que era
e provavelmente nunca mais o será
e mesmo que o fosse
algo me diz que já não seria o que era
porque o que era
era o que era por ser o que era
do que eu me lembro muito bem
embora eu então não fosse o que agora sou
mas o que agora sou
ou estou a ser
é deixar de ser o que sou
porque eu sou deixando de ser
deixar de ser é a minha maneira de ser
sou a cada instante
o que já não sou
e o mesmo se deve passar com tudo o que é
motivo por que não admira que assim seja
quer dizer
que nada seja o que era
e se assim é
ou já não é
seja ou não seja
nulla ormai è ciò che era
e probabilmente non lo sarà mai più
e quand’anche lo fosse
qualcosa mi dice che ormai non sarebbe ciò che era
perché ciò che era
era ciò che era dovendo essere ciò che era
cosa di cui mi ricordo molto bene
benché io allora non fossi ciò che sono ora
ma ciò che ora sono
o sono intento ad essere
è cessare di essere ciò che sono
perché io sto cessando d’essere
cessare d’essere è la mia maniera d’essere
sono ad ogni istante
ciò che già più non sono
e lo stesso deve accadere per tutto ciò che è
ragion per cui non meraviglia che sia così
vale a dire
che nulla sia ciò che era
e che ora sia così
o già non lo sia più
sia quel che sia
________________

Amedeo Modigliani
Ritratto di Chaïm Soutine (1916)
...

Civilidade


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Civilidade
Buone maniere


não tussa madame
reprima a tosse

não espirre madame
reprima o espirro

não soluce madame
reprima o soluço

não cante madame
reprima o canto

não arrote madame
reprima o arroto

não cague madame
reprima a merda

e quando estourar
que seja devagarinho
e sem incomodar, ok madame?

ok, monsieur.
non tossisca madame
reprima la tosse

non starnutisca madame
reprima lo starnuto

non singhiozzi madame
reprima il singhiozzo

non canti madame
reprima il canto

non rutti madame
reprima il rutto

non defechi madame
reprima la merda

e se dovesse scoppiare
che sia sommessamente
e senza disturbare, ok madame?

ok, monsieur.
________________

John Singer Sargent
Madame X (Madame Pierre Gautreau) (1884)
...

Prestidigitação


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Corpos estranhos (1973) »»
 
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Prestidigitação
Prestidigitazione


com a porta fechada vê-se
a porta. com a porta aberta
vê-se o corredor. no corre
dor vêem-se portas. com as
portas fechadas vêem-se p
ortas. com as portas abert
as vêem-se corredores. nos
corredores vêem-se portas.
com as portas abertas vê
em-se camas. nas camas vê
em-se lençóis. nos lençóis
vêem-se caras. nas caras
vêem-se dois olhos ou não.
um nariz ou não. uma boca ou
não. duas orelhas ou uma só.
entre as camas circula o
enfermeiro. de resto nesta
secção as visitas são proi
bidas.
con la porta chiusa si vede
la porta. con la porta aperta
si vede il corridoio. nel corri
doio si vedono delle porte. con le
porte chiuse si vedono delle p
orte. con le porte apert
e si vedono corridoi. nei
corridoi si vedono porte.
con le porte aperte si ved
ono dei letti. sui letti si ved
ono lenzuola. sulle lenzuola
si vedono dei visi. sui visi
si vedono due occhi o no.
un naso o no. una bocca o
no. due orecchie o una sola.
tra i letti circola l’
infermiere. del resto in questa
sezione le visite sono proi
bite.
________________

Léon Spilliaert
La porta aperta (1938)
...

Dísticos


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Alberto Pimenta »»
 
Corpos estranhos (1973) »»
 
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Dísticos
Distici


dizes:
eu é que sei quais são os interesses de todos.
e não sabes
que todos sabem também quais são os teus interesses?

dizes:
é necessário construir o futuro.
agora compreendo porque afundas o presente:
para lançares os alicerces.

dizes:
eu quero a paz.
sim, acredito.
já seria altura de gozares
o que ganhaste na guerra.
tu dici:
io so bene quali sono gli interessi di tutti.
e non sai
che anche gli altri sanno quali sono i tuoi interessi?

tu dici:
è necessario costruire il futuro.
ora comprendo perché mandi a fondo il presente:
per porre le fondamenta.

tu dici:
io voglio la pace.
sì, ci credo.
sarebbe ormai il momento di goderti
ciò che hai intascato con la guerra.
________________

Félix Vallotton
Verdun (1917)
...

Palavra de ordem


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Os entes e os contraentes (1971) »»
 
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Palavra de ordem
Parola d’ordine


lutaremos pela vitória se preciso for
até ao último homem, disse o general. a
ssim foi. o último homem levantou o br
aço em sinal de vitória e depois deix
ou-o cair. tornou a levantar o braço e
m sinal de vitória e tornou a deixá-l
o cair. uma vez mais levantou o braço
em sinal de vitória e uma vez mais o
deixou cair. depois sentou-se e descal
çou as botas. de vez em quando lembrav
a-se e levantava o braço em sinal de
vitória, deixando-o depois cair. passad
o algum tempo o último homem tornou a
calçar as botas, levantou-se e pôs-se
a caminho. de vez em quando levantava
um braço em sinal de vitória e tornav
a a deixá-lo cair. ao fim de alguns di
as vinha-lhe sangue à boca, sofria de
vômitos e diarréias, tinha pruridos e
sarna pelo corpo todo. de vez em quan
do ainda levantava o braço para colh
er um fruto de alguma árvore, mas deix
ava-o cair de cansaço. morreu de inani
ção ao sétimo dia depois da vitória q
uando ia quase a entrar no deserto.
lotteremo per la vittoria se occorrerà
fino all’ultimo uomo, disse il generale. c
osì fu. l’ultimo uomo sollevò il br
accio in segno di vittoria e poi lo la
sciò ricadere. tornò a sollevare il braccio i
n segno di vittoria e tornò a lasciarl
o ricadere. un’altra volta sollevò il braccio
in segno di vittoria e un’altra volta lo
lasciò ricadere. poi si sedette e sfil
ò gli stivali. di tanto in tanto si ricordav
a di sollevare il braccio in segno di
vittoria, lasciandolo poi ricadere. passat
o un po’ di tempo l’ultimo uomo tornò a
infilarsi gli stivali, si alzò e si mise
in cammino. di tanto in tanto sollevava
un braccio in segno di vittoria e tornav
a a lasciarlo ricadere. alcuni giorni dop
o gli venne uno sbocco di sangue, soffriva di
vomito e diarrea, aveva pruriti e
scabbia su tutto il corpo. di tanto in tan
to sollevava ancora il braccio per cogli
ere un frutto da qualche albero, ma lo lasci
ava ricadere per la stanchezza. morì d’ine
dia il settimo giorno dopo la vittoria q
uando era quasi sul punto di entrare nel deserto.
________________

Claudio Zunino
Morte nel deserto (2018)
...

O poeta


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Alberto Pimenta »»
 
Os entes e os contraentes (1971) »»
 
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O poeta
Il poeta


no decurso do tempo
mudou muito até
a improporção das
partes parece ter
se acentuado com a
idade, o rosto está
mais achatado, os o
lhos um maior que
o outro a pele enr
ugada sobretudo no
ventre. tem os dent
es podres as nádeg
as e coxas coberta
s de espessa camad
a de gordura o vem
tre dilatado e um
cheiro pestilento
liberta-se-lhe do
corpo sujo dado ao
comércio venéreo e
cuidando sempre da
invenção de vícios
para os usos da vi
d
a
nel corso del tempo
è molto cambiato perfino
la sproporzione delle
parti sembra essersi
accentuata con l’
età, il viso è
più schiacciato, gli o
cchi uno più grande de
ll’altro la pelle raggri
nzita soprattutto sul
ventre. ha i dent
i guasti le nati
che e le cosce copert
e d’uno spesso strat
o di grasso il ven
tre dilatato e un
lezzo mefitico
gli si sprigiona dal
corpo sudicio dato al
commercio venereo e
sempre intento all’
invenzione di vizi
per le pratiche della vi
t
a
________________

Francis Bacon
Ritratto di Lucien Freud (1965)
...

Biografia


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O Labirintodonte (1970) »»
 
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Biografia
Biografia


colaborou
manifestou
apreciou
indagou
condenou rezou
assinou rezou
defecou rezou
e assim passou
os seus dias
e as noites
quentes e frias
collaborò
manifestò
apprezzò
indagò
condannò pregò
firmò pregò
defecò pregò
e passò così
i suoi dì
e le sue notti
al caldo e al freddo
________________

Jusepe de Ribera
Vecchio legato a un albero e giovane che defeca (~1627-1630)
...

Os passarinhos


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Antônio Brasileiro »»
 
Como Aquela Montanha Sossegada (2018) »»
 
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Os passarinhos
I passerotti


Um passarinho acaba de pousar
  perto de mim.
Digo: Olá, passarinho! Não responde.
Até me dá as costas.
Talvez descanse um pouco de seu longo dia.
Também lhe dou as costas.
Volto ao meu caderno de poemas
e estamos quites.

É bom sempre estar quites
  com os passarinhos.
Un passerotto s’è appena posato
  di fianco a me.
Dico: Ciao, passerotto! Non risponde.
Mi dà perfino le spalle.
Forse si riposa un po’ della sua lunga giornata.
Anch’io gli dò le spalle.
Torno al mio quaderno di poesie
e siamo pari.

È sempre bello essere alla pari
  con i passerotti.
________________

Dario Sogmaister
Passerotti (2020)
...

Aqui chegado...


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Poemas dos dias (2022) »»
 
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Aqui chegado...
Giunto sin qui...


Aqui chegado, que lugar é este?
O coração das águas corre,
Turbulento, eu vim com a lama
Até encontrar detença aqui,
Na margem tranquila.
Cheguei tão longe – que lugar é este?
São os teus olhos,
Não posso voltar para trás.

Giunto sin qui, che posto è questo?
Scorre il cuore delle acque,
Turbolento, son venuto col fango
Fino a trovare sollievo qui,
Sulla riva tranquilla.
Così lontano son giunto – che posto è questo?
Sono i tuoi occhi,
Non posso tornare indietro.

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Félix Vallotton
La Dordogne a Carennac (1925)
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Olha, Daisy


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Como Aquela Montanha Sossegada (2018) »»
 
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Olha, Daisy
Guarda, Daisy


Olha, Daisy, estou muito cansado.
Acho que não vou vê-la mais à noite.
Vou ler uns livros sobre alguns fantasmas
e rabiscar uns certos desconfortos.
Também quero arrumar uns papéis velhos
deixados nas gavetas da memória —
um homem nunca é mais que amargo espelho
a rebuscá-lo: farpa, sanha, horda
de animais medonhos. Olha, Daisy,
estou muito cansado, como disse,
e mesmo o amor da carne agora fez-se,
dentro de mim, sobejo à longa festa.
Meu espírito, vês, já açambarca
a matéria que sou. Já o que resta
é o homem em sua solitária barca.
Guarda, Daisy, sono molto stanco.
Non credo che ti rivedrò più di notte.
Leggerò dei libri su qualche fantasma
e scribacchierò sopra un certo malessere.
Voglio anche riordinare delle vecchie carte
abbandonate nei cassetti della memoria —
un uomo non è mai altro che un amaro specchio
che si rovista dentro: schegge, rancori, branchi
di animali spaventosi. Guarda, Daisy,
sono molto stanco, come dicevo,
e adesso anche l’amore carnale è diventato,
dentro di me, l’avanzo di una lunga festa.
Il mio spirito, vedi, ormai s’accaparra
tutta la materia che sono. Ormai ciò che resta
è l’uomo nella sua solitaria barca.
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Emiliano di Cavalcanti
Figura femminile (1920)
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