Fado-Canção


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Fado (1941) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Fado-Canção
Fado - Canzone


Medito o meu fado estranho:
Canto, e sei lá por que canto?
Canto, porque nada tenho
Melhor que o dom de cantar...
E canto, por me animar
Contra o silêncio, o vazio
Da minha vida frustrada
E o frio
Que anda em meu ser,
− Como quem, noite fechada,
Passando na encruzilhada,
Por escorraçar o medo
Levanta a voz a tremer...

Ao fundo da melodia
Que até parece que fala,
− A trágica estátua cala.
Mas doce é o ritmo que embala,
Doce a rima que alicia...
E eu canto, pois me alivia
Ouvir-me a mim próprio, embora
A estátua como em granito
Seus olhos só longe fite,
E erga um dedo,
Que demora,
À boca absorta no grito
Que não permite
Que grite...

E eu canto, porque desisto
De que o meu canto me exprima!
Quem me ouvira mais do que isto,
− Jogos de ritmo e rima...?
Sei que lá em baixo,
Lá em cima,
Sofro só, pairo calado.
Mas canto, para deixar
Um eco vibrar no ar
Do fútil som de embalar
Que o mundo que dorme estima...

Ai, coisas que raros sabem,
Mas que eu sei...,
Profundamente!
Os próprios raros que as sabem,
É como quem as não sente.
E eu canto-as, e é evidente
Que ninguém as reconhece
No tom que lhes dou, alheio.
Não consigo estar no meio
Nem mesmo quando parece
Que, fugido ao meu recanto,
Me achei entre a minha gente...
Por demais sei isto, sei-o!,
Muito mais do que isto..., − e canto.

Sim, canto,
Que é o meu destino,
Mas como grita um menino
Que se agarrara à sacada
Duma casa incendiada
Em que ficara esquecido...
A praça, em baixo, é deserta,
O céu, lá em cima, escondido,
A noite longa encoberta,
A sacada a grande altura,
As escadas cinza e pó,
O frágil solho a ruir,
− E o grito de angustia, só
Feriu eco a tal lonjura
Que ninguém vem acudir!

E eu sei que não vem
Ninguém,
À solidão de que morro,
Prestar a mão de socorro,
Trocar o olhar de ternura
Que me salvara do espanto.
Mas, quanto melhor o sei,
Mais creio, melhor crerei
Nesse eco a essa lonjura...,

E mais e melhor eu canto!
Medito sul mio strano destino:
Canto, ma chissà perché canto?
Canto, perché non ho niente
Di meglio del dono di cantare...
E canto, per farmi coraggio
Contro il silenzio, la vacuità
Della mia vita frustrata
E il gelo
Che avanza dentro di me,
− Come chi, nel cuor della notte,
Attraversando l’incrocio,
Per vincere la paura
Tremante, alza la voce...

Alla fine della melodia
Che pare perfino parlare,
− La tragica statua zittisce.
Ma soave è il ritmo che ammalia,
Soave la rima che incanta...
E io canto, poiché m’acquieta
Sentire me stesso, benché
La statua come granito
Coi suoi occhi scruti lontano,
E alzi un dito,
Che s’attarda,
Sulla bocca compresa nel grido
Che non consente
Che gridi...

E io canto, perché mi rifiuto
Di far sì che il mio canto mi sveli!
Chi da me ha mai udito altro se non
− Giochi di ritmo e di rima...?
Io so che laggiù,
Che là in cima,
Soffro da solo, fluttuo muto.
Ma canto, per lasciare
Nell’aria un’eco vibrante
Della frivola ninna nanna
Amata dal mondo dormiente...

Oh, cose che sanno in pochi,
Però io le so...,
Profondamente!
E quegli stessi pochi che le sanno,
Sono uguali a chi non le sente.
Ma io le canto ed è evidente
Che nessuno le riconosce
Nel tono che io dò loro, ignoto.
Non mi riesce di stare nel mezzo
Neppure quando pare
Che, rifugiato nel mio angolino,
Mi trovi fra la mia gente...
Fin troppo lo so, sì, lo so!,
E so molto più di questo..., − e canto.

Sì, io canto,
Questo è il mio destino,
Ma come strilla un bambino
Che s’aggrappa alla balconata
D’una casa andata a fuoco
Dove è stato dimenticato...
La piazza, laggiù, è deserta,
Il cielo, lassù, remoto,
La lunga notte, coperta,
La balconata è assai elevata,
Le scale, polvere e cenere,
Cede il fragile pavimento,
− E solo il grido di tormento
Riecheggia talmente distante
Che nessuno porta soccorso!

E io so che non accorre
Nessuno,
Alla solitudine di cui sto morendo,
Per dare una mano in aiuto,
Per scambiare il tenero sguardo
Capace di salvarmi dallo spavento.
Ma, quanto meglio lo so,
Più credo, o meglio crederò
In quell’eco talmente distante...,

E ancor più e meglio io canto!
________________

Robert Delaunay
Dramma politico (1914)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (27) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (482) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)