Páscoa


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Mas Deus é Grande (1945) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Páscoa
Pasqua


Há quanto, há quanto já que os versos me não vinham!
Ausente, seco, nulo, é que eu, feliz, andava.
E as asas que outro tempo ao alto me sustinham,
Meu sentir-me assim bem mas depenava.

Vivendo como quem lhe sabe bem dormir
Sabendo que lá fora há chuva e ventania,
Quase esquecido, já, de ter de me cumprir,
Oco de tudo é que eu, feliz, vivia.

Tão oco de ilusões como dos desesperos
Sem os quais nada, em nós, nos força ir mais além,
Há quanto, há quanto já meus altos fados feros
Me davam tréguas!, e eu vivia bem.

E os versos não me vindo, eu não fazia versos,
Pois versos para quê?, se eu era, enfim, feliz,
Só corrigindo, atento, os que aí há dispersos
Comemorando infernos em que os fiz!

Hoje, porém, peguei num lápis, num papel,
Sobre o meu ombro, Alguém, pesando, se inclinou,
E, sob o seu ditado, a pena tinta em fel,
O meu mal no papel se derramou...

Alastra, sangue meu!, que és Espírito, e excedes
Os exíguos canais das minhas curtas veias,
E a quem com sede vem molhar os lábios, pedes
Aspirações, paixões, sonhos, ideias...

Que cego, cego andava!, e louco!, e surdo-mudo!,
Enquanto me arrastei, julgando ser viver
Esse fechar o olhar cansado sobre tudo,
Sem, sobre tudo, te sentir correr!

Bem hajas, pois, quem quer que me feriste fundo
Quando já me eu julgava a salvo em chão seguro,
E me atiraste, assim, de novo para o mundo
Em que entro imundo, e me levanto puro!
Da quanto, da quanto i versi non mi venivano più!
Svagato, sterile, nullo, lietamente me ne andavo.
E le ali che in altri tempi mi tenevano su,
Quel mio benessere pian piano le spiumava.

Vivendo come chi s’accontenti di dormire
Conscio che là fuori non c’è che pioggia e vento,
Quasi immemore, ormai, di dovermi realizzare,
Di tutto svuotato, vivevo lieto e contento.

Così libero d’amarezze e da illusioni
Senza le quali niente ad andar oltre ci sprona,
Da quanto, da quanto ormai i miei inclementi destini
Mi davano requie!, e con me la vita era buona.

E se i versi non venivano, non componevo versi,
E versi poi perché?, se infine ero felice
Solo rivedendo, solerte, quelli andati dispersi
Rammentando l’inferno in cui li feci!

Oggi, tuttavia, afferrai carta e matita,
Sopra la mia spalla, Qualcuno, dolente, si curvò,
E, sotto dettatura, la penna in fiele inumidita,
Il mio dolore sulla pagina si riversò...

Trabocca, sangue mio!, tu che sei Spirito e invadi
I sottili canali delle mie corte vene,
E a chi viene a bagnare le assetate labbra, chiedi
Aneliti, passioni, sogni, idee...

Com’era cieco!, com’ero folle!, e sordomuto!,
Allora io mi trascinavo, convinto fosse vivere
Quel distogliere lo sguardo stremato su tutto,
Senza, soprattutto, sentirti fluire!

Chiunque tu sia, ti ringrazio per avermi ferito a fondo
Quando ormai pensavo d’esser salvo in terreno sicuro,
E mi gettasti, così, di nuovo verso il mondo
Ove io entro immondo, per risorgere puro!
________________

S.K. Sahni
Space - G (2011)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (27) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (482) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)