Cântico Negro


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Poemas de Deus e do Diabo (1925) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Cântico Negro
Cantico Negro


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha Mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
“Vieni di qui” – mi dicono certi con occhi dolci
tendendomi le braccia, e sicuri
che sarebbe bello che io li stessi a sentire
quando mi dicono: “vieni di qui”!
Li osservo con occhi stanchi,
(c’è, nei miei occhi, ironia e languore)
e incrocio le braccia,
e mai vado verso di loro…

la mia gloria è questa:
creare inumanità!
non conformarmi a nessuno.
– perché io vivo con la stessa indolenza
con cui ho straziato il ventre di mia madre.

No, io non andrò di là! Andrò solo dove
i miei passi mi conducono…

Se a quel che io domando nessuno di voi risponde
perché mi ripetete: “vieni di qui”?
Preferisco dileguarmi in vicoli fangosi,
turbinare nel vento,
come cenci, strascicare i piedi sanguinanti,
piuttosto che andare di là…

Se son venuto al mondo, è stato
solo per deflorare foreste vergini,
e per imprimere le mie orme nella sabbia inviolata!
tutto il resto non vale niente.

quindi, come sarete voi
che mi darete stimoli, strumenti e coraggio
per far sì ch’io superi i miei ostacoli?
Scorre nelle vostre vene l’antico sangue degli avi,
E voi amate quel ch’è facile!
Io amo la Distanza e il Miraggio,
amo gli abissi, i torrenti, i deserti…

andate! voi che avete strade,
avete giardini, avete aiuole,
voi che avete patrie, avete tetti,
e avete norme e trattati, e filosofi, e saggi.
Io ho la mia Follia!
La sollevo come una torcia che riluce nella notte scura,
e sento spuma, e sangue, e salmi sulle labbra…

Sono Dio e il Diavolo a guidarmi, nessun altro!
Tutti hanno avuto un padre, tutti una madre;
ma io, che non ho mai inizio né ho mai fine,
dall'amore tra Dio e il Diavolo son nato.

Ah! che nessuno mi offra benevole intenzioni!
Non mi si chiedano definizioni!
Nessuno mi dica: “Vieni di qui”!
La mia vita è una tormenta sfrenata,
è un'onda che s’è sollevata.
è un nuovo atomo che ha preso vita…
non so dove me ne andrò,
non so dove sto andando,
– so che non andrò di là!
________________

Max Ernst
Notturno (1967)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (27) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (482) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)