Jogo de Espelhos


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
As Encruzilhadas de Deus (1935) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Jogo de Espelhos
Gioco di specchi


Entro... seja onde for. Começo a disfarçar,
A fingir que estou bem, muito à vontade.
Mas a verdade é que não sei como hei-de estar,
Nem sei não deixar ver que esta é que é a verdade!

Suspeitando-me todos de possesso,
No olhar de toda a gente encontro o mesmo grito: −
 «Fora!»
Correcto, sério, frio, amàvelmente me despeço,
A fingir que não fui mandado embora...

Fora, o lamento do vento
Embala-me, embebeda-me, adormenta-me.
Sinto-me bem!, que bem!, todo embrulhado em
 sofrimento...
E o halo do martírio tenta-me.

Que bom que é ficar só, posto de lado
Subir a longa queda até ao fim,
Chegar exausto, incompreendido, caluniado...!
E desato em soluços sobre mim.

Choro. Choro na noite longa e lôbrega, transido
Como um menino ruim atrás da porta. Mas comigo,
Consolo-me em sentir-me incompreendido,
Porque o menino ruim não merecia tal castigo...

Assim a esta paródia do meu mal
Se ajunta a minha megalomania:
Julgo-me Cristo numa cruz, Camões num hospital,
E o supremo dandismo da desonra me inebria.

De dândi, volto, pois, aos clubes e aos salões.
Visto a minha grandeza ante o furor deles e delas.
Sofro, superiormente, obscenidades e empurrões.
Sento-me, triste até à morte, a olhar os vidros das
 janelas...

Ora no espelho em frente, uma caricatura,
Um rosto cego, mudo, escanhoado, empoado,
Garante-me que sou aquela compostura,
Esse sepulcro caiado...

Por que não torno para a rua?
Enjoam-me os cristais, as luzes, os decotes.
Que bom que deve ser passear lá fora, sob a lua,
Sereníssimamente, a colher miosótis!

Porém na rua, há uma taberna; há um bordel; há
 escuro;
Há fêmeas; ópios; vinho; há desespero; há gosto...

− É então que tu vens, tu, Mestre que eu procuro!,
É então que tu vens...!
    E cospes-me no rosto.
Entro... dove, non si sa. Comincio a simulare,
Fingendomi a mio agio, del tutto in libertà.
Ma in realtà non so come mi devo comportare,
Né so non palesare che è questa la realtà!

Tutti sospettano che io sia un invasato,
Nello sguardo di tutti leggo lo stesso grido: −
 «Fuori!»
Garbato, serio, freddo, amabilmente mi congedo,
Facendo finta di non essere stato cacciato...

Fuori, il gemito del vento
M’accarezza, m’inebria, m’addormenta.
Mi sento bene!, come sto bene!, tutto preso dal
 patimento...
E un alone di martirio mi tenta.

È bello restar da solo, emarginato,
Risalire il lungo pendio fino al suo colmo,
Giungere esausto, incompreso, screditato...!
E in singhiozzi compiangendomi prorompo.

Piango. Piango nella notte lunga e sinistra, timoroso
Come un bimbo inquieto dietro la porta. Eppure
Mi consolo nel sentirmi un incompreso,
Perché il bimbo inquieto non meritava un tal castigo...

Così a questa parodia del mio male
Si aggiunge la mia megalomania:
Mi sento Cristo in croce, Camões in un ospedale,
E m’estasia il supremo dandismo della ribalderia.

Da dandy, torno perciò, ai club e ai saloni.
Indosso la mia dignità contro queste persone funeste.
Subisco, con superiorità, volgarità e spintoni.
Mi siedo, mortalmente triste, e guardo i vetri delle
 finestre...

Ora davanti allo specchio, una caricatura,
Un viso cieco, muto, ben sbarbato, incipriato,
M’assicura che sono io quell’artefatta creatura,
Quel sepolcro imbiancato...

Perché non torno nella via?
Mi disgustano i cristalli, le luci, i décolletés.
Che bello dev’essere passeggiare laggiù, sotto la luna,
Placidamente, a cogliere nontiscordardimé!

Ma nella via c’è una taverna; c’è un bordello; c’è buio
 profondo;
Ci son femmine, oppio, vino; c’è angoscia e riso...

− È allora che vieni tu, Maestro che io sto cercando!,
È allora che tu vieni...!
    E mi sputi in viso.
________________

Nils Von Dardel
Al bar (1920)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (27) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (482) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)