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Jogo de Espelhos
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Gioco di specchi
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Entro... seja onde for. Começo a disfarçar,
A fingir que estou bem, muito à vontade. Mas a verdade é que não sei como hei-de estar, Nem sei não deixar ver que esta é que é a verdade! Suspeitando-me todos de possesso, No olhar de toda a gente encontro o mesmo grito: − «Fora!» Correcto, sério, frio, amàvelmente me despeço, A fingir que não fui mandado embora... Fora, o lamento do vento Embala-me, embebeda-me, adormenta-me. Sinto-me bem!, que bem!, todo embrulhado em sofrimento... E o halo do martírio tenta-me. Que bom que é ficar só, posto de lado Subir a longa queda até ao fim, Chegar exausto, incompreendido, caluniado...! E desato em soluços sobre mim. Choro. Choro na noite longa e lôbrega, transido Como um menino ruim atrás da porta. Mas comigo, Consolo-me em sentir-me incompreendido, Porque o menino ruim não merecia tal castigo... Assim a esta paródia do meu mal Se ajunta a minha megalomania: Julgo-me Cristo numa cruz, Camões num hospital, E o supremo dandismo da desonra me inebria. De dândi, volto, pois, aos clubes e aos salões. Visto a minha grandeza ante o furor deles e delas. Sofro, superiormente, obscenidades e empurrões. Sento-me, triste até à morte, a olhar os vidros das janelas... Ora no espelho em frente, uma caricatura, Um rosto cego, mudo, escanhoado, empoado, Garante-me que sou aquela compostura, Esse sepulcro caiado... Por que não torno para a rua? Enjoam-me os cristais, as luzes, os decotes. Que bom que deve ser passear lá fora, sob a lua, Sereníssimamente, a colher miosótis! Porém na rua, há uma taberna; há um bordel; há escuro; Há fêmeas; ópios; vinho; há desespero; há gosto... − É então que tu vens, tu, Mestre que eu procuro!, É então que tu vens...! E cospes-me no rosto. |
Entro... dove, non si sa. Comincio a simulare,
Fingendomi a mio agio, del tutto in libertà. Ma in realtà non so come mi devo comportare, Né so non palesare che è questa la realtà! Tutti sospettano che io sia un invasato, Nello sguardo di tutti leggo lo stesso grido: − «Fuori!» Garbato, serio, freddo, amabilmente mi congedo, Facendo finta di non essere stato cacciato... Fuori, il gemito del vento M’accarezza, m’inebria, m’addormenta. Mi sento bene!, come sto bene!, tutto preso dal patimento... E un alone di martirio mi tenta. È bello restar da solo, emarginato, Risalire il lungo pendio fino al suo colmo, Giungere esausto, incompreso, screditato...! E in singhiozzi compiangendomi prorompo. Piango. Piango nella notte lunga e sinistra, timoroso Come un bimbo inquieto dietro la porta. Eppure Mi consolo nel sentirmi un incompreso, Perché il bimbo inquieto non meritava un tal castigo... Così a questa parodia del mio male Si aggiunge la mia megalomania: Mi sento Cristo in croce, Camões in un ospedale, E m’estasia il supremo dandismo della ribalderia. Da dandy, torno perciò, ai club e ai saloni. Indosso la mia dignità contro queste persone funeste. Subisco, con superiorità, volgarità e spintoni. Mi siedo, mortalmente triste, e guardo i vetri delle finestre... Ora davanti allo specchio, una caricatura, Un viso cieco, muto, ben sbarbato, incipriato, M’assicura che sono io quell’artefatta creatura, Quel sepolcro imbiancato... Perché non torno nella via? Mi disgustano i cristalli, le luci, i décolletés. Che bello dev’essere passeggiare laggiù, sotto la luna, Placidamente, a cogliere nontiscordardimé! Ma nella via c’è una taverna; c’è un bordello; c’è buio profondo; Ci son femmine, oppio, vino; c’è angoscia e riso... − È allora che vieni tu, Maestro che io sto cercando!, È allora che tu vieni...! E mi sputi in viso. |
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Nils Von Dardel Al bar (1920) |
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