Exortação ao meu anjo


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
As Encruzilhadas de Deus (1935) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Exortação ao meu anjo
Esortazione al mio angelo


Quando eu me deixar cair
No sonho de adoecer para poder dormir,
Fere-me com a tua lança!
Reaviva em mim a dor, fonte da esperança.

Quando a verdade, que é nua,
Me cegar como um sol, e eu me voltar para onde há
 lua,
E procurar jardins convencionais e plácidos,
Queima-me com teus olhos ácidos!

Quando me for mais fácil a verdade do que ter
Um papel de actor qualquer,
Como aos que assim se recreiam,
Faz-me exibir-me bobo ante os que aplaudem ou
 pateiam.

Quando eu julgar, falando, dizer tudo,
Faz ante mim sorrir teu lábio mudo!
Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!

Quando eu tiver medo do Medo
E acender fósforos nos cantos rumorosos de segredo,
Arrasta-me pelos cabelos
Para entre os pesadelos!

Quando, a meio da noite e da ansiedade,
Eu me rojar por terra e te pedir piedade,
Não me apareças nem me fales!
Deixa-me só com o meu cálix.

Quando eu te falsificar,
E alugar anjos de serrim para em seus braços me
 embalar,
Derrete o chumbo dessas casas:
Leva-me no tufão das tuas asas!

Quando eu, enfim, não puder mais,
Por tuas próprias mãos belíssimas e leais,
E sem caixões nem mortalhas,
Enterra-me na terra das batalhas.

Quando, depois de morto, a glória
Me levantar o seu jazigo e celebrar minha vitória,
Desvenda os alçapões dos meus escritos
E arranca à terra que me esconde os mais secretos dos
 meus gritos!
Quando io mi lascerò scivolare
Nel sogno d’ammalarmi pur di poter dormire,
Colpiscimi con la tua lancia!
Rianima in me il dolore, fonte di speranza.

Quando la verità, che è nuda,
Come un sole m’abbaglierà e io mi volgerò là dov’è
 la luna,
E cercherò giardini formali e pacifici,
Incendiami coi tuoi occhi acidi!

Quando mi parrà più semplice la realtà che avere
Un ruolo da attore mediocre,
Come quelli che così si divertono,
Lascia ch’io faccia il giullare davanti a chi applaude
 o fischia.

Quando penserò che parlando io possa dir tutto,
Fai sì che mi sorrida il tuo labbro muto!
Quando rinuncerò a parlare,
Stringimi la gola e forzami a gridare!

Quando io della Paura avrò Paura
E accenderò fiammiferi negli angoli assordanti di segreti,
Trascinami per i capelli
Fin dentro il regno degli incubi!

Quando, accerchiato dalla notte e dall’ansietà,
Io mi prostrerò a terra per supplicar pietà,
Non apparirmi e non parlarmi!
Lasciami da solo con il mio amaro calice.

Quando io t’ingannerò,
E affitterò angeli finti perché tra le loro braccia,
 mi cullino,
Fai fondere il piombo di queste case:
Portami nel ciclone delle tue ali!

Quando, alla fine, io non ce la farò più,
Con le tue bellissime mani leali,
E senza feretri né sudari,
Seppelliscimi nella terra delle battaglie.

Quando, dopo morto, la gloria
Mi aprirà il suo sepolcro e celebrerà la mia vittoria,
Rivela i ricettacoli dei miei scritti
E ghermisci alla terra che mi occulta le mie più segrete
 grida!
________________

Guido Reni
Michele schiaccia Satana (1636)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (27) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (482) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)