Canção


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Régio »»
 
Mas Deus é Grande (1945) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Canção
Canzone


Sobe, canção, do fundo da amargura
Que me nivela ao que me amarga! Voa,
E acima, além da minha vil tristura,
Se eu não perdoo, tu, perdoa!

Se eu não perdoo, porque sou da argila
Que por tão frágil quão pesada ataco,
Perdoa tu que aérea vais, tranquila,
Bailando sobre todo o opaco.

Canta a heróica renúncia de viver
Como quem morre a par e passo..., e vive
Por, antes de morrer, ter de vencer
A morte-em-vida que o cative.

Que importa que ninguém te sonde os ritmos,
Nem saiba ler, cantor, as tuas actas
E os teus jogos de sons e logaritmos
Fixos em tábuas inda intactas?

Voa, canção, na solidão enorme
De ser maior do que o seu próprio ser
E velar quando tudo, em volta, dorme,
− Único a não adormecer!

A ti, cantor, não te foi dado o sono
Que entre plumas, colchões e cobertores
Todos os mais afunda em abandono:
A ti, suor, suor, suores...

Que o dormir é daqueles que te amaram
Demasiado humano, os vis amigos!,
E quando o vento e o céu te solevaram,
Se te volveram inimigos.

Sobe, canção, sempre mais alto! mais
Que a exígua voz humana que te entoa.
Sobe, estrangula os seus soluços e ais,
Que a vida é bela! a morte é boa!

Que a vida é bela quando a tu levantas
No desfraldar das asas infinitas,
E boa a morte quando tu a cantas,
E sobre nós, voando, a agitas!

Voa, canção! E tu, finda a contenda,
Cantor dos pés de barro e olhar de lume,
Pede ao teu Val de Lágrimas que fenda,
E te aproveite como estrume.
Levati, canzone, dal fondo di quell’amarezza
Che mi uniforma a ciò che m’amareggia! Vola,
E lassù, oltre la mia indegna tristezza,
Se non perdono io, almeno tu, perdona!

Se io non so perdonare, essendo d’argilla,
Materia sia fragile che pesante, e combatto,
Perdona tu che leggiadra vai, tranquilla,
Danzando sopra tutto quel che c’è d’opaco.

Canta l’eroico rifiuto di vivere
Come chi muore e nel contempo... vive
Sicché possa, prima di morire, vincere
Quella morte che in vita lo reclude.

Che importa che nessun t’indaghi i ritmi,
Né sappia decifrare, o cantore, i tuoi atti
E le tue varianti di suoni e i logaritmi
Fissati su tavole tuttora intatte?

Vola, canzone, nella solitudine enorme
D’essere maggiore della sua stessa natura
E veglia quando ogni cosa, intorno, dorme,
− Unico a non dormire ancora!

A te, o cantore, non fu concesso il sonno
Che tra piume, coperte e cuscini
Fa tutti inabissar nell’abbandono:
Per te solo sudore, sudore, sudori...

Giacché dormono quelli che t’hanno amato
Stimandoti fin troppo umano, i vili amici!,
Ma quando il vento e il cielo t’hanno elevato,
Ti si sono rivoltati contro da nemici.

Levati, canzone, sempre più in alto, più
Dell’esile voce umana che t’intona.
Levati, placa i suoi singhiozzi e su
Che bella è la vita e la morte è buona!

Che bella è la vita quando tu la osanni
Dispiegando le sconfinate ali,
E buona è la morte quando tu la canti,
E sopra noi la ostenti, mentre voli!

Vola, canzone! E tu, risolta la tenzone,
Cantore dai piedi d’argilla e sguardo sublime,
Chiedi che si scinda la tua Valle di Lacrime,
E ti utilizzi poi come concime.
________________

Tony Feher
Mediodia (2012)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (27) José Saramago (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (482) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (28) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)