As águas passam…


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Luís Peixoto »»
 
Regresso a Casa (2020) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


As águas passam…
Le acque passano…


As águas passam a velocidade
constante, o rio é um corpo. As
letras avançam pelas palavras,
avançam pelos versos, compõem
o poema. O poema é um corpo,
passa a velocidade constante.
A palavra medo não pode faltar
no poema, é levada pela corrente,
medo, palavra entre palavras,
distinta por um momento, medo,
e indistinta logo a seguir, passou
como passa tudo e, no entanto,
o seu significado permanece
ao longo dos versos seguintes,
alastra, contagia todo o poema,
ressoa, o medo ressoa até ser
inseparável das outras palavras,
até todas as palavras significarem
medo, como água ou como a força
da água, como velocidade constante.
O medo é grande e único, é um corpo.
Na margem do rio, estou sentado
num sofá. Vejo notícias na televisão,
como se assistisse à passagem do rio.
Deus, és tu que tens o telecomando?
Le acque passano a velocità
costante, il fiume è un corpo. Le
lettere avanzano tra le parole,
avanzano tra i versi, compongono
la poesia. La poesia è un corpo,
passa a velocità costante.
La parola paura non può mancare
nella poesia, è portata dalla corrente,
paura, parola tra le parole,
distinta per un attimo, paura,
e indistinta subito dopo, è passata
come tutto passa eppure
il suo significato persiste
lungo i versi seguenti,
si propaga, contagia tutta la poesia,
risuona, la paura risuona fino a rendersi
inseparabile dalle altre parole,
finché tutte le parole significano
paura, come acqua o come la forza
dell’acqua, come velocità costante.
La paura è grande e unica, è un corpo.
Sulla riva del fiume, sono seduto
su un divano. Guardo notizie alla televisione,
come se assistessi al passaggio del fiume.
Dio, sei tu che tieni il telecomando?
________________

Mario Schifano
Picasso in TV (1974-1975)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antonio Osorio (42) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (113) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eucanãa Ferraz (43) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Luís Peixoto (23) José Régio (41) José Saramago (40) José Tolentino de Mendonça (42) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Micheliny Verunschk (40) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (519) Paulo Leminski (43) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poemas dos dias (29) Poesie inedite (328) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (48) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)