Versos encantados desde La Habana


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Versos encantados desde La Habana
Versi incantati dall’Avana


eu cometo versos
como quem caminha de madrugada por uma calle de
 la Habana

e avista sobre um muro debruçadas magnólias
materializadas como se fossem estrelas do mar
ao seu redor ramas verdes lhe guardam da escuridão
outras flores brancas caladas as observam

eu cometo versos
como quem dedilha uma guitarra cigana na Plaza de
 España
em Sevilha
numa tarde onde uma árvore toureia o vento lento
e uma dançarina de flamenco desenha pássaros com seus
 gestos
(sob sua sombra fresca dorme a poesia)

eu cometo versos
como quem lê Florbela Espanca numa quinta de Lisboa
repousado entre o branco marfim da cidade e o vermelho
 do sol
na mesa de uma taberna ao lado de uma garrafa de vinho
 tinto
descubro e me enamoro da musa e da brisa e do sal
 do mar
ao longe a praia aguarda pelos marinheiros que nunca
 se foram

eu cometo versos
como uma ilha chilena atenta à espera de um náufrago
como colheres de prata ao sol matinal de Madri
a desconfiança da liberdade ante um campo florido
como quem vê com alma e por isso não precisa mais
 dos olhos

eu cometo versos
como quem nasce de repente como quem avista a
 Andaluzia
como quem brinca com a luz sobre a pele das coisas
como o vento cochichando com o porto e com as velas
 brancas
como quem busca sereias e tesouros em mares perdidos

eu cometo versos
como amantes ensandecidos pela beleza ardem numa
 tarde de Andorra
como os suicidas que partirão ao amanhecer na carruagem
 do indizível
sem cartas nem bilhetes suicidas

eu cometo versos
como quem comete um crime e aguarda pelo castigo
 dos deuses.
io faccio versi
come chi cammina verso l’alba lungo una calle de
 la Habana

e scorge sopra un muro magnolie protese
materializzate come se fossero stelle marine
rami verdi all’intorno le riparano dall’oscurità
altri fiori bianchi muti le scrutano

io faccio versi
come chi pizzica una chitarra zigana sulla Plaza de
 España
a Siviglia
in una sera in cui un albero fa la corrida col vento lento
e una danzatrice di flamenco traccia coi suoi gesti degli
 uccelli
(alla sua fresca ombra dorme la poesia)

io faccio versi
come chi legge Florbela Espanca in una tenuta di Lisbona
oziando tra il bianco marmo della città e il rosseggiare
 del sole
al tavolo di una locanda davanti a una bottiglia di vino
 rosso
scorgo e m’innamoro della musa e della brezza e del sale
 marino
in lontananza la spiaggia resta in attesa dei marinai mai
 partiti

io faccio versi
come un’isola cilena in vigile attesa d’un naufrago
come argentei cucchiai sotto il sole nascente di Madrid
la diffidenza della libertà al cospetto d’un campo in fiore
come chi vede con l’anima e perciò gli occhi non gli
 servono più

io faccio versi
come chi nasce tutto a un tratto come chi scorge
 l’Andalusia
come chi si balocca con la luce sulla pelle delle cose
come il vento che bisbiglia con il porto e con le vele
 bianche
come chi va in cerca di sirene e di tesori in sperduti mari

io faccio versi
come amanti infatuati per la bellezza avvampano in una
 sera di Andorra
come i suicidi che all’alba se ne andranno sulla carrozza
 dell’ineffabile
senza lasciare né lettere né biglietti suicidi

io faccio versi
come chi compie un delitto e rimane in attesa del castigo
 divino
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Paul Duqueylard
Orfeo (1771)
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