A província obscura


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Narlan Matos »»
 
Canto aos homens de boa vontade (2018) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


A província obscura
La provincia oscura


venho de uma obscura província da Terra
esquecida por detrás do próprio esquecimento
de desaparecidas coordenadas geográficas
nasci de um povo abandonado e aguerrido
conquistando cada aurora como uma batalha
desde menino aprendi a cultivar a vida
da mesma maneira que os campesinos
cultivavam os solos duros e salitrosos
daquelas antigas abandonadas paragens

nasci de uma gente mui simples e solar
que lavrava a alegria em seus incertos sulcos
aprendi com eles a crer na chuva e nos rios
atravessamos mapas e os caminhos obscuros
da sobrevivência dos que não foram eleitos
aprendi a ser com o gado e com leopardos
a fraternidade dos pássaros e dos grãos
a resiliência das árvores e dos ombros comuns
uma branda profunda calma ainda me habita
a calma de quem sabe quem é e de onde veio

venho de uma obscura província da Terra
separada por imensos adeuses e despedidas
todavia foi lá em meio à escuridão e à incerteza
que aprendi a amar e crer nas açucenas e nos
 homens
trabalhar o impossível como o ferreiro trabalha o ferro
que entendi que a luta pela grande vida e pela poesia
são parte de um mesmo esplendoroso amanhecer
todavia foi lá que me aprendi – sobretudo a jamais
 escapar
das mãos o insofismável pássaro verde da esperança
arrivo da un’oscura provincia della Terra
dimenticata dietro la propria dimenticanza
di estinte coordinate geografiche
son nato da un popolo negletto e battagliero
conquistando ogni aurora come in battaglia
fin da bambino ho appreso a coltivare la vita
alla stessa maniera dei contadini
che coltivavano i terreni duri e di salnitro
di quelle antiche lande abbandonate

son nato da una stirpe molto semplice e solare
che coltivava la gioia nei suoi incerti solchi
da loro ho imparato a credere nella pioggia e nei fiumi
abbiamo attraversato geografie e le oscure rotte
della sopravvivenza di quelli che non furono eletti
ho imparato la convivenza con gli armenti e con i leopardi
la fraternità degli uccelli e del frumento
la resistenza degli alberi e delle spalle normali
una serena profonda calma mi abita ancora
la calma di chi sa chi è e da dove viene

arrivo da un’oscura provincia della Terra
separata da infiniti addii e commiati
ma è stato là in mezzo all’oscurità e all’incertezza
che ho imparato ad amare e a credere nei gigli e negli
 uomini
a lavorare l’impossibile come il fabbro lavora il ferro
che ho compreso che la lotta per la grande vita e la poesia
fanno parte di uno stesso splendido mattino
ma è stato là che da solo ho imparato – anzitutto a non
 farmi mai sgusciare
dalle mani l’imprescindibile uccello verde della speranza
________________

Cláudio César
senza titolo (1991)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (105) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (16) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)