Devia morrer-se de outra maneira...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
José Gomes Ferreira »»
 
Poesia III (1962) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Devia morrer-se de outra maneira...
Si dovrebbe morire altrimenti...


     Na morte de Manuela Porto

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os
 cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de
  outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
     Per la morte di Manuela Porto

Si dovrebbe morire altrimenti.
Trasformarci in fumo, ad esempio.
O in nuvole.
Quando ci sentissimo stanchi, stufi dello stesso sole
che si reinventa tutte le mattine, convocare
gli amici più intimi con un biglietto d’invito
per il rito del Grande Dissolvimento: “Tal dei Tali comunica
alla V.S. Ill. che si trasformerà in nuvola, oggi
alle ore 9. Abito da passeggio”.
E allora, solennemente, con passi al rallentatore, abiti
scuri, occhi diafani da cerimonia, assisteremmo tutti
al commiato.
Calde strette di mano. Fremiti di tenerezza.
“Addio! Addio!”
E, poco a poco, lentamente, senza patimento,
con un languore capace di strappar radici...
(prima, gli occhi... successivamente, le labbra... e dopo i
 capelli...)
la carne, invece di decomporsi, comincerebbe a dissolversi
in fumo... così lieve... così sottile... così polline...
come quella nuvola lassù (vedete?) — in questa sera
  d’autunno
appena sfiorata dalle labbra azzurre del vento...
________________

René Magritte
Grande famiglia (1963)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (107) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (19) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)