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Devia morrer-se de outra maneira...
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Si dovrebbe morire altrimenti...
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Na morte de Manuela Porto
Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio". E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir a despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. "Adeus! Adeus!" E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes... (primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... ) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen... como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis... |
Per la morte di Manuela Porto
Si dovrebbe morire altrimenti. Trasformarci in fumo, ad esempio. O in nuvole. Quando ci sentissimo stanchi, stufi dello stesso sole che si reinventa tutte le mattine, convocare gli amici più intimi con un biglietto d’invito per il rito del Grande Dissolvimento: “Tal dei Tali comunica alla V.S. Ill. che si trasformerà in nuvola, oggi alle ore 9. Abito da passeggio”. E allora, solennemente, con passi al rallentatore, abiti scuri, occhi diafani da cerimonia, assisteremmo tutti al commiato. Calde strette di mano. Fremiti di tenerezza. “Addio! Addio!” E, poco a poco, lentamente, senza patimento, con un languore capace di strappar radici... (prima, gli occhi... successivamente, le labbra... e dopo i capelli...) la carne, invece di decomporsi, comincerebbe a dissolversi in fumo... così lieve... così sottile... così polline... come quella nuvola lassù (vedete?) — in questa sera d’autunno appena sfiorata dalle labbra azzurre del vento... |
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René Magritte Grande famiglia (1963) |
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