Brinquei, pela calada...


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Brinquei, pela calada...
Di nascosto ho giocato...


Brinquei, pela calada, em sítios proibidos -
Na eira, no coradouro, perto das orquídeas.
Na eira, quando o milho era ouro,
Perto das orquídias, flores difíceis e petulantes,
No coradouro, quando a roupa branca
Secava à brandura do ar,
Que depois se estendia ao corpo.
E então tinhamos, eu e os meus primos, o perfume dos anjos,
Como nos chamavam, com a desrazão do amor,
Avós e tias. Mas os anjos,
Se outros há para além da nossa melhor natureza,
Brincam em sítios proibidos,
Como nós no coradouro,
Onde também jaziam os ossos de cães amados,
Tentam atravessar a pé o pousio das águas,
Sem saberem que o rio pode ser
Um mal tranquilo, não menos predador.
Apenas sofrem de nódoas negras sem metafísica
E de um leve tremor da primeira sombra sexuada.
Em breve começamos a roubar fruta e beijos,
brincando sempre à socapa em sítios proibidos,
mas incapazes de conter o alvoroço -
Então avós e tias chamavam-nos
Demónios, diabretes, mafarricos.
A infância começava a ser uma impostura,
Não sabíamos ainda, não ainda,
Que já tinhamos sido expulsos do paraíso.
...

Di nascosto ho giocato, in posti proibiti -
Sull’aia, nel lavatoio, vicino alle orchidee.
Sull’aia, quando il miglio era oro,
Vicino alle orchidee, fiori difficili e arroganti,
Nel lavatoio, quando la biancheria
Asciugava al tepore dell’aria,
Che poi si propagava nel corpo.
Allora avevamo, io e i miei cugini, il profumo degli angeli,
Come ci chiamavano, con l’assurdità dell’amore,
Nonne e zie. Ma gli angeli,
Se altri ne esistono oltre a noi nei momenti migliori,
Giocano in posti proibiti,
Come noi nel lavatoio,
Dove giacevano anche le ossa di cani amati;
Tentano di traversare a piedi le acque dei fontanili,
Senza sapere che il fiume può essere
Un male tranquillo, ma non meno vorace.
Soffrono solo di lividi scuri senza metafisica
E di un leggero tremito davanti alla prima ombra sessuata.
Presto cominciammo a rubare frutta e baci,
Sempre giocando di soppiatto in posti proibiti,
Ma incapaci di contenere l’agitazione -
Allora nonne e zie ci chiamavano
Demoni, diavoletti, discoli.
L’infanzia cominciava ad essere un’impostura,
Non lo sapevamo ancora, non ancora,
Che eravamo già stati espulsi dal paradiso.


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Henri Matisse
Gioia di vivere (1905–1906)
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