Amava as histórias de toda a gente...


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Amava as histórias de toda a gente...
Amava le storie di tutta la gente...


Amava as histórias de toda a gente,
Porque essa era a verdadeira respiração do mundo.
O terror era a ausência de linguagem,
O uivo dos lobos da serra
Quando andava à lenha
Ou o pai, ofegante e moribundo no quarto,
Com os pulmões soterrados pela mica.
Aos sessenta anos, quis aprender a ler,
Como se só assim pudesse sair da escuridão,
Fugir dos lobos. E, desde então,
Aproveitava todas as oportunidades para escrever.
Eram sobretudo, os envelopes de Natal,
Onde introduzia notas,
Apondo por fora o nome de cada sobrinho,
Numa caligrafia esforçada,
E era claro que, para ela,
Como para nós agora,
Cada um desses nomes manuscritos
Representava uma vitória,
Um afecto que, roubado ou indizível,
Ganhava a mais justa forma.
Aos oitenta anos, um ataque
Paralisou-lhe parcialmente a boca
E com dificuldade articulava consoantes.
A sua fala converteu-se num vocalismo vazio,
Grandes lagos brancos, glaciais, espaço informe,
Som por modelar; ou já sentido puro
Que só a custo podíamos alcançar.

Amava le storie di tutta la gente,
Perché era lì il vero respiro del mondo.
Era terrore l’assenza di linguaggio,
L’ululato dei lupi della serra
Quando andava a far legna
O suo padre, ansimante e moribondo nella stanza,
Coi polmoni soffocati dalla mica.
A sessant’anni, volle imparare a leggere,
Come se solo così potesse uscire dal buio,
Sfuggire ai lupi. E, da allora,
Sfruttava ogni occasione per scrivere.
Erano soprattutto, le buste di Natale,
In cui introduceva una mancia,
Scrivendo fuori il nome di ogni nipotino,
In una calligrafia stentata,
Ed era chiaro che, per lei,
Come per noi adesso,
Ciascuno di quei nomi scritti a mano
Rappresentava una vittoria,
Un affetto che, rubato o indicibile,
Acquisiva la sua forma più esatta.
A ottant’anni, un attacco
Le paralizzò parzialmente la bocca
E con difficoltà articolava le consonanti.
La sua parlata si convertì in un vocalismo vuoto,
Grandi laghi bianchi, ghiacciati, spazio informe,
Suono da plasmare; o già puro significato
Che solo a fatica avremmo potuto cogliere.

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Alighiero Boetti
Dall'oggi al domani (1986)
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