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Chama-se Wisława Szymborska.
Exausta, a cabeça na pedra, recosta.
Parece, então, ouvir um cochicho;
aproxima um pouco mais o ouvido:
*
Não mais o sono em que, pedra, permaneço há milênios;
desabotoo em portas e janelas; brunindo-me,
faço em corredores claros o que outrora compacta
indiferença; sem os fáceis da matéria lassa, invento
paredes menos ferozes; contorço, sem avesso, oco
que me tornasse mais leve, como acontece aos fetos,
como deve ser sair de um ovo; dói,
porque não há desabrochar suave, em pétalas, quando
se ignora totalmente a primavera e tudo o que se sabe,
não podes imaginar, é o cavo escuro do chão;
porque não se pode ir às apalpadelas, ao vento,
quando se é uma coisa contra a qual o vento se quebra,
águas se quebram; mesmo sem poder abrir-me às cegas,
pois o risco seria quebrar-me, não há senão prosseguir
em trevas, sem ouvidos, sem cheiro, só o peso,
o letargo sem tréguas que só cabem aos que dormem
inorgânicos, aos que são o caroço e em tudo essa noite
que não se arranca, mesmo se, pedras, translúcidas;
ainda assim, persevero; não conte, senhora: assaltei
as chaves com que os minerais se trancam; transudo
os grãos adversos que me vedavam salas varandas
venezianas e a duras penas avanço contra a brutalidade
empedernida; arquiteto-me, revessa, por querer ser
um “ele”, casa aberta a poder dizer como lhe digo agora:
entra!
*
A poeta desperta
ou pensa
que desperta.
Lembra: uma pedra
abrindo-se
a ela.
Está confusa. Que sonho!
Acende um cigarro,
emocionada.
Que belo!
Muito embora a pedra
tenha lhe parecido
um tanto pernóstica.
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Si chiama Wisława Szymborska.
Esausta, accosta il capo alla pietra.
Pare allora di udire un bisbiglio;
tende l’orecchio un po’ più vicino:
*
Non più il sonno in cui, io pietra, persisto da millenni;
dischiudo porte e finestre; nel ricompormi,
creo corridoi chiari là dove prima era compatta
indifferenza; senza la vacuità della piatta materia, invento
pareti meno aspre; mi contorco, senza interno, cava
per diventar più leggera, come succede ai feti,
come dev’essere uscire da un uovo; fa male,
perché non c’è quel soave sbocciare, in petali, quando
s’ignora totalmente la primavera e tutto quel che si sa,
non puoi immaginarlo, é l’oscura cavità del terreno;
perché non si può andare a tastoni, al vento,
quando si è una cosa contro la quale il vento si spezza,
le acque si spezzano; pur non potendo aprirmi alla cieca,
ché correrei il rischio di spezzarmi, non resta che proseguire
nelle tenebre, senza udito, senza olfatto, solo peso,
letargo ininterrotto che spetta solo a quelli che dormono
inorganici, a quelli che sono guscio e ovunque questa notte
che non si può strappar via, anche se, pietre, trasparenti;
eppure, insisto; non lo dica in giro, signora: ho sottratto
le chiavi con cui si sigillano i minerali; rimuovo
le particelle ostili che m’impedivano sale verande
veneziane e con gran pena avanzo contro la brutalità
fossilizzata; mi progetto, a rovescio, volendo essere
un “lui”, casa aperta così da poter dire come le dico ora:
entra!
*
La poetessa si desta
o pensa
di svegliarsi.
Ricorda: una pietra
che si dischiude
per lei.
È confusa. Che sogno!
Accende una sigaretta,
commossa.
Che bello!
Quantunque la pietra
le sia sembrata
piuttosto saccente.
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