Autorretrato


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Autorretrato
Autoritratto


De português tenho a nostalgia lírica
de coisas passadistas, de uma infância
amortalhada entre loucos girassóis e folguedos;
a ardência árabe dos olhos, o pendor
para os extremos: da lágrima pronta
à incandescência súbita das palavras contundentes
do riso claro à angústia mais amarga.

De português, a costela macabra, a alma
enquistada de fado, resistente a todas
as ablações de ordem cultural e o saber
que o tinto, melhor que o branco,
há-de atestar a taça na ortodoxia
de certas vitualhas de consistência e paladar telúrico.

De português, o olhinho malandro, concupiscente
e plurirracial, lesto na mirada ao seio
entrevisto, à nesga de perna, à fímbria de nádega;
a resposta certeira e lépida a dardejar nos lábios,
o prazer saboroso e enternecido da má-língua.

De suíço tenho, herdados de meu bisavô,
um relógio de bolso antigo e um vago, estranho nome.
Di portoghese ho il lirico rimpianto
per le cose nostalgiche, per un’infanzia
avvolta nel velame di folli kermesse e girasoli;
l’araba intensità degli occhi, la propensione
per gli estremi: dalla lacrima facile
alla repentina irruenza di parole graffianti
dalla risata limpida all’angoscia più amara.

Di portoghese, le costole spettrali, l’anima
incistata di fado, resistente a ogni
rimozione d’ordine culturale e la cognizione
che il bicchiere di rosso, più del bianco,
debba certificare l'ortodossia
di certe cibarie di consistenza e sapore tellurico.

Di portoghese, l’occhiata malandrina, concupiscente
e multirazziale, lesta nella sbirciata al seno
intravisto, al pezzetto di gamba, alla curva di natica;
la risposta diretta e arguta che dalle labbra fulmina,
il piacere gustoso e dilettevole della maldicenza.

Di svizzero ho, ereditati dal mio bisnonno,
un vecchio orologio da polso e uno strano cognome.
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Paula Santos
Garofano (2022)
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