Um nome na vidraça


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Um nome na vidraça
Un nome sul vetro


A guriazinha
desenha as letras do seu nome na vidraça
– encantadoramente mal feitas –
as letras escorrem...
Enquanto isto,
umas pessoas morrem,
outras nascem...
Entre umas e outras,
viro mais uma página
desta novela policial.
E exatamente à página 293, verifico,
quando o herói vai torcendo cautelosamente o trinco
 da porta,
interrompo
a leitura
e ele e todos os outros personagens ficam parados.
Eu sou o Deus catastrófico: não ligo,
olho agora a litografia da parede
– um trigal muito louro e acima dele apenas uma asa
contra o céu azul.
É como se eu abrisse uma janela na frustração
 da chuva!
Bem, neste momento as pessoas já devem ter morrido
 ou nascido
A verdade, minha filha,
é que eu não sei como parar este poema:
nos dias de chuva sobem do fundo do mar os navios
 fantasmas
sobem ruas, casas, cidades inteiras,
e procissões, manifestações, os primeiros
e os últimos encontros, o padre-cura e o boticário
discutindo política na esquina...
(A guriazinha
apaga as letras lacrimejantes da vidraça.
E recomeça...)

La ragazzina
disegna le lettere del suo nome sul vetro
– deliziosamente malfatte –
le lettere si liquefanno...
Nel medesimo tempo,
c’è gente che muore,
c’è gente che nasce...
Tra gli uni e gli altri,
giro una pagina in più
di questo romanzo giallo.
Ed esattamente a pagina 293, verifico,
quando l’eroe ruota con circospezione il chiavistello della
 porta,
interrompo
la lettura
e questo e tutti gli altri personaggi rimangono immobili.
Sono io il Dio catastrofico: non m’interessa,
adesso io guardo la litografia sulla parete
– un campo di biondo grano e sopra soltanto un’ala
sullo sfondo del cielo azzurro.
È come se aprissi una finestra nella frustrazione della
 pioggia!
Dunque, a questo punto le persone dovrebbero esser già
 nate o morte.
La verità, figlia mia,
è che io non so come interrompere questa poesia:
nei giorni di pioggia, risalgono dal fondo del mare le navi
 fantasma
risalgono strade, case, città intere,
e processioni, rivelazioni, i primi
e gli ultimi incontri, il curato e il farmacista
in discussioni politiche all’angola della via...
(La ragazzina
cancella le lacrimose lettere dal vetro.
E ricomincia...)

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Vincent van Gogh
Pioggia (1889)
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