Aurora


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Aurora
Aurora


O poeta ia bêbedo no bonde.
O dia nascia atrás dos quintais.
As pensões alegres dormiam tristíssimas.
As casas também iam bêbedas.

Tudo era irreparável.
Ninguém sabia que o mundo ia acabar
(apenas uma criança percebeu mas ficou calada),
que o mundo ia acabar às 7 e 45.
Últimos pensamentos! últimos telegramas!
José, que colocava pronomes,
Helena, que amava os homens,
Sebastião, que se arruinava,
Artur, que não dizia nada,
embarcam para a eternidade.

O poeta está bêbedo, mas
escuta um apelo na aurora:
Vamos todos dançar
entre o bonde e a árvore?

Entre o bonde e a árvore
dançai, meus irmãos!
Embora sem música
dançai, meus irmãos!

Os filhos estão nascendo
com tamanha espontaneidade.
Como é maravilhoso o amor
(o amor e outros produtos).
Dançai, meus irmãos!
A morte virá depois
como um sacramento.

Il poeta era sbronzo sul tram.
Il giorno nasceva dietro i cortili.
Le pensioni allegre dormivano tristissime.
Persino le case erano sbronze.

Tutto era ineluttabile.
Nessuno sapeva che il mondo stava per finire
(solo un bimbo lo intuì ma rimase in silenzio),
che il mondo stava per finire alle 7 e 45.
Ultimi pensieri! Ultimi telegrammi!
José, che aggiungeva pronomi,
Helena, che amava gli uomini,
Sebastião, che stava andando in rovina,
Artur, che non diceva niente,
s’avviano verso l'eternità.

Il poeta è sbronzo, ma
sente un richiamo nell'aurora:
Andiamo tutti a ballare
fra il tram e l'albero?

E fra il tram e l'albero
ballate, fratelli miei!
Sebbene senza musica
ballate, fratelli miei!

I figli stanno nascendo
con estrema spontaneità.
Com’é bello l’amore
(l’amore e altri prodotti).
Ballate, fratelli miei!
La morte poi verrà
come un sacramento.

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Paul Delvaux
Il treno blu (1946)
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