Necrológio dos desiludidos do amor


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Necrológio dos desiludidos do amor
Necrologio dei disillusi dall’amore


Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

I disillusi dall’amore
si stanno sparando pallottole nel petto.
Dalla mia stanza sento l’artiglieria.
Le amate smaniano per il piacere.
Oh quanto materiale per i giornali.

Disillusi sì, ma fotografati,
hanno scritto lettere chiarificatrici,
hanno adottato tutti i riguardi
per il rimorso delle amate.
Pum pum pum addio, o mia tediata.
Io parto, tu rimani, ma ci rivedremo
nell’azzurro cielo o nel lugubre inferno.

I medici stanno facendo l’autopsia
dei disillusi che si sono uccisi.
Che cuori grandi possedevano.
Viscere immense, trippe sentimentali
e uno stomaco colmo di poesia.

Andiamo ora al cimitero
a portare i corpi dei disillusi
competentemente incassati
(passioni di prima e di seconda classe).

I disillusi proseguono da illusi,
senza cuore, senza trippe, senza amore.
L’unica fortuna, i loro denti d’oro
non serviranno come pegno finanziario
e coperti di terra perderanno il fulgore
mentre le amate danzeranno un samba
scatenato, violento, sulle loro tombe.

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Edouard Manet
Suicida (1877)
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