Being beauteous


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Being beauteous
Being beauteous


O meu amigo inglês que entrou no quarto da cama e
correu de um só gesto todas as cortinas
sabia o que corria
digo disse direis era vergonha
era sermos estranhos ... mais do que isso: estrangeiros
e tão perto um do outro naquela casa
mas eu vejo maior ... mais escuro dentro do corpo
e descobri que a luz é coisa de ricos
gente que passa a vida a olhar para o sol
cultivar abelhas no sexo ... liras na cabeça
e mal a noite tinge a faixa branca da praia
vai a correr telefonar para a polícia

E não bem pelas jóias de diamante os serviços de bolso
e as criadas
digo ricos de espírito
ricos de experiência
ricos de saber bem como decorre
para um lado o sémen para o outro a caca
e nos doces intervalares
a urina as bibliotecas as estações o teatro
tudo o que já amado
e arrecadado no canto do olho a implorar mais luz para
ter sido verdade

O meu amigo inglês não se lembrava
senão dos gestos simples do começo
e corria as cortinas e criava
para além do beijo flébil que podemos
a viagem sem fim e sem regresso

Il mio amico inglese che entrò nella stanza da letto e chiuse
le tende con un unico gesto
sapeva quel che chiudeva
io dico lui disse voi direte che era una vergogna
il fatto è che eravamo strani ... e non basta: stranieri
e così vicini l’uno all’altro in quella casa
ma io vedo meglio ... se c’è più buio dentro il corpo
e ho scoperto che la luce è roba da ricchi
per quelli che passano la vita guardando il sole
allevando api nei loro sessi ... e lire nella testa
e non appena la notte tocca la fascia bianca della spiaggia
corrono a telefonare alla polizia

E non tanto per i gioielli con diamanti per i beauty case e per
le cameriere
intendo i ricchi di spirito
ricchi d’esperienza
ricchi nel sapere bene come s’incanala
da un lato il seme dall’altro la cacca
e nei dolci intermezzi
c’è l’urina le biblioteche le stazioni il teatro
tutto quel che s’è amato
e accumulato nell’angolo dell’occhio che implora più luce
perché tutto è stato vero

Il mio amico inglese ricordava soltanto
i gesti semplici dell’inizio
e chiudeva le tende e creava
al di là dell’arrendevole bacio che osavamo
il viaggio senza fine e senza ritorno

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Maria Helena Vieira da Silva
La macchina ottica (1937)
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