O navio de espelhos


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O navio de espelhos
La nave di specchi


O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

(Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele)

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

(O seu porão traz nada
nada leva à partida)

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

(A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto)

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo

La nave di specchi
non naviga, cavalca

Il suo mare è la foresta
che le serve da livello

Al crepuscolo riflette
sole e luna nei suoi fianchi

(Per questo il tempo ama
insieme a lei giacersi)

Agli armatori non piace
la sua rotta luminosa

(A chi sta in movimento
sembra che non si muova)

Quando raggiunge un porto
nessuno consente l’approdo

(Niente porta la sua stiva
niente reca alla partenza)

Voci e aria pesante
è tutto ciò che trasporta

(E sull’albero maestro
par riflettersi una porta)

I suoi diecimila capitani
han tutti la stessa faccia

(La stessa cintura scura
lo stesso grado e ruolo)

Quando se ne ammutina uno
ci son diecimila ribelli

(Come negli occhi della mosca
si riflettono gli oggetti)

E quando uno di loro solleva
il corpo sull’albero maestro
e scruta il mare nel profondo

Tutta la nave cavalca
(come nello spazio gli astri)

Dal principio del mondo
fino alla fine del mondo

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Mário Cesariny
A modo nostro nel Mondo (1967)
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