Voz numa pedra


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Voz numa pedra
Voce da una pietra


Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Ísis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco e flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do mênstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe a cidade futura
onde “a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela”
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhes como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
“a machadada e o propósito de não sacrificar-se
não constituirão ao sol coisa nenhuma”
nada está escrito afinal

Non adoro il passato
non sono tre volte maestro
non sono venuto a patti con l’oltretomba
non è per questo che mi trovo qui
di certo ho visto Osiride però a quel tempo si chiamava Luiz
di certo sono stato con Iside ma le dissi di chiamarmi João
nessuna proprio nessuna parola è completa
neppure in tedesco che ne ha di lunghissime
così neanch’io ti dirò mai quello che so
a meno che si tratti dell’arco con freccia nerazzurra del vento

Non dico come quell’altro: so di non sapere
so bene d’aver sempre saputo un po’ di cose
che questo ha il suo peso
che provoco le tormente e osservo l’arcobaleno
credendo che lui sia l’agente supremo
del cuore del mondo
vascello di libertà depurata dal mestruo
rosa viva davanti ai nostri occhi
Ancora lontana lontana la città futura
in cui “la poesia non darà più ritmo
all’azione perché le camminerà davanti”
Si estingueranno i predicatori di morte?
Si estingueranno gli sterminatori d’amore?
Si estinguerà la tortura degli occhi?
Passami dunque quel coltello a serramanico
perché c’è un sacco di cose da cominciare a potare
passamelo e non guardarmi come si guarda un mago
depositario del miracolo della verità
“il colpo d’ascia e l’intenzione di non sacrificarsi non
rappresenteranno alcunché sotto il sole”
in fondo non c’è nulla di scritto

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Damien Hirst
Piccolo arcobaleno di farfalle (2020)
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