Enquanto


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Enquanto
Finché


Enquanto houver um homem caído de bruços no
 passeio
E um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
Para ver quem é,
Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
E correr pelos interstícios das pedras, pressuroso e vivo
 como vermelhas minhocas
Despertas;
Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como
 luas,
Órfãos de pais e mães,
Andarem acossados pelas ruas
Como matilhas de cães;
Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
Com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
Num silêncio de espanto
Rasgado pelo grito da sereia estridente;
Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio
Cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
Amassando na mesma lama de extermínio
Os ossos dos homens e as traves das suas casas;
Enquanto tudo isso acontecer, e o mais que se não diz por
 ser verdade,
Enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,
O poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:
ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA
Finché ci sarà un uomo caduto a pancia in giù sul
 marciapiede
E un sergente che gli rigira il corpo con la punta del piede
Per vedere chi é,
Mentre il sangue sgorgherà dalle arterie aperte
E scorrerà negli interstizi fra le pietre, rapido e vivo come
 rossi lombrichi
Usciti allo scoperto;
Finché i bambini con gli occhi lividi e tondeggianti come
 lune,
Orfani di padre e madre,
Vagheranno maltrattati per le strade
Come mute di cani;
Finché i passeri dovranno tacitare il loro canto
Col cuoricino debole che salta nel loro petto fremente,
In un silenzio pieno di spavento
Lacerato dall’urlo della sirena stridente;
Finché il grande uccello di fuoco e d’alluminio
Coprirà il mondo con l’ombra rovente delle sue ali
Ammucchiando nella stessa melma di sterminio
Le ossa degli uomini e le travi delle loro case;
Finché tutto ciò accadrà, e altro che non s’ammette
 essere vero,
Finché bisognerà lottare fino allo strazio dell’agonia,
Il poeta scriverà con lettere di pece su ogni muro:
ABBASSO IL MISTERO DELLA POESIA
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Medardo Rosso
Bimbo all'asilo dei poveri (1892)
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