Poema do afinal


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Poema do afinal
Poesia dell’alfine


No mesmo instante em que eu, aqui e agora,
Limpo o suor e fujo ao Sol ardente,
Outros, outros como eu, além e agora,
Estremecem de frio e em roupas se agasalham.

Enquanto o Sol assoma, aqui, no horizonte,
E as aves cantam e as flores em cores se exaltam,
Além, no mesmo instante, o mesmo Sol se esconde,
As aves emudecem e as flores cerram as pétalas.
Enquanto eu me levanto e aqui começo o dia,
Outros, no mesmo instante, exactamente o acabam.
Eu trabalho, eles dormem; eu durmo, eles trabalham.
Sempre no mesmo instante.

Aqui é Primavera. Além é Verão.
Mais além é Outono. Além, Inverno.
E nos relógios igualmente certos,
Aqui e agora,
O meu marca meio-dia e o de além meia-noite.

Olho o céu e contemplo as estrelas que fulgem.
Busco as constelações, balbucio os seus nomes.
Nasci a olhá-las, conheço-as uma a uma.
São sempre as mesmas, aqui, agora e sempre.

Mas além, mais além, o céu é outro,
Outras são as estrelas, reunidas
Noutras constelações.

Eu nunca vi as deles;
Eles,
Nunca viram as minhas.

A Natureza separa-nos.
E as naturezas.
A cor da pele, a altura, a envergadura,
As mãos, os pés, as bocas, os narizes,
A maneira de olhar, o modo de sorrir,
Os tiques, as manias, as línguas, as certezas.

Tudo.

Afinal
Que haverá de comum entre nós?

Um ponto, no infinito.
Nello stesso istante in cui io, qui e adesso,
Mi tergo il sudore e rifuggo il Sole ardente,
Altri, altri come me, altrove e adesso,
Tremano per il freddo e s’avvolgono in calde vesti.

Mentre il Sole s’affaccia, qui, all’orizzonte,
E cantano gli uccelli e i fiori i loro colori sfoggiano,
Altrove, nello stesso istante, lo stesso Sole si nasconde,
Tacciono gli uccelli e i fiori rinserrano i petali.
Mentre io mi alzo e qui la mia giornata inauguro,
Altri, precisamente nello stesso istante, la concludono.
Io lavoro e loro dormono; io dormo e loro lavorano.
Sempre nello stesso istante.

Qui è Primavera. Altrove è estate.
Più in là è autunno. E oltre è inverno.
E sugli orologi, ugualmente precisi,
Qui e adesso,
Il mio segna mezzogiorno e quello al di là, mezzanotte.

Guardo il cielo e contemplo le stelle che rifulgono.
Cerco le costellazioni, balbetto i loro nomi.
Son nato per guardarle, ad una ad una le conosco.
Sono sempre le stesse, qui, ora e sempre.

Ma al di là, ancora più al di là, diverso è il cielo,
Diverse sono le stelle, raccolte
In altre costellazioni.

Io non ho mai visto le loro;
Loro,
Non hanno mai visto le mie.

La Natura ci separa.
E le nature.
Il colore della pelle, l’altezza, le proporzioni,
Le mani, i piedi, le bocche, i nasi,
Il modo di guardare e di sorridere,
I tic, le manie, le lingue, le certezze.

Tutto.

Alfine
Che cosa avremo in comune con loro?

Un punto, nell’infinito.
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Giuseppe Arcimboldo
Le quattro stagioni (1563)
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