Poema do eterno retorno


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
António Gedeão »»
 
Novos Poemas Póstumos (1990) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Poema do eterno retorno
Poesia dell’eterno ritorno


Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
se a mesma causa desse sempre o mesmo efeito
e para cada efeito houvesse sempre a mesma causa,
então o meu salgueiro
havia um dia de ressuscitar.
 
Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
eu próprio,
na efemeridade eternamente repetida
deste momento de agora
tornaria a rever o meu salgueiro.
 
Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
os milhões de milhões de milhões de átomos
que compõem os milhões de milhões de milhões de
 galáxias
dispostos de milhões de milhões de milhões de maneiras
 diferentes,
teriam forçosamente de repetir,
daqui a milhões de milhões de milhões de séculos,
exactissimamente a mesma posição que agora têm.
 
E então,
nesse dia infinitamente longínquo mas finitamente
 próximo,
eu, Fulano de Tal,
filho legítimo de Fulano de Tal e de Dona Fulana de Tal,
nascido e baptizado na freguesia de Tal,
a tanto de Tal,
neto paterno de Fulanos de Tal,
e materno de Tal e Tal,
etc, e tal,
se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
encontrar-me-ía no mesmo ponto do mesmo Universo
a olhar parvamente para o meu salgueiro.
 
Isto, é claro,
se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos.
Se non esistesse più niente
(ma proprio più niente)
se non atomi,
se la stessa causa producesse sempre lo stesso effetto
e per ogni effetto ci fosse sempre la stessa causa,
allora il mio salice
un giorno dovrebbe risuscitare.
 
Se non esistesse più niente
(ma proprio più niente)
se non atomi,
io stesso,
nella fugacità eternamente ripetuta
di questo momento attuale
tornerei a rivedere il mio salice.
 
Se non esistesse più niente
(ma proprio più niente)
se non atomi,
i milioni di milioni di milioni di atomi
che compongono i milioni di milioni di milioni di
 galassie
disposti in milioni di milioni di milioni di maniere
 differenti,
dovrebbero necessariamente ripetere,
tra qualche milione di milioni di milioni di secoli,
la stessa identica posizione che hanno adesso.
 
E allora,
in quel giorno infinitamente lontano ma finitamente
 prossimo,
io, Tal dei Tali,
figlio legittimo di Tal dei Tali e della Signora Tal dei Tali,
nato e battezzato nella Tal parrocchia,
alla Tal ora,
nipote di nonno Tal dei Tali,
e di nonna Tal dei Tali,
ecc. ecc.,
se non esistesse più niente
(ma proprio più niente)
se non atomi,
mi ritroverei nello stesso punto dello stesso Universo
a guardare ottusamente il mio salice.
 
Tutto questo, è chiaro,
se non esistesse più niente
(ma proprio più niente)
se non atomi.
________________

Claude Monet
Salice piangente (1918)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (12) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (109) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (467) Pássaro de vidro (52) Pedro Mexia (40) Poemas dos dias (28) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)