Poema de domingo


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Poema de domingo
Poesia della domenica


Aos domingos as ruas estão desertas
e parecem mais largas.
Ausentaram-se os homens à procura
de outros novos cansaços que os descansem.
Seu livre arbítrio alegremente os força
a fazerem o mesmo que fizeram
os outros que foram fazer o que eles fazem.
E assim as ruas ficaram mais largas,
o ar mais limpo, o sol mais descoberto.
Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem
 pernas
e espetarem o ventre e alargarem os braços
no amplexo de amor que só eles conhecem.
O olhar aberto às largas perspectivas
difunde-se e trespassa
os sucessivos, transparentes planos.
Um cão vadio sem pressas e sem medos
fareja o contentor tombado no passeio.
É domingo.
E aos domingos as árvores crescem na cidade,
e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se
a cantar empoleirados neles.
Tudo volta ao princípio.
E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das
 vacas
e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as
 pedras
levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo,
enquanto o transeunte,
no deslumbramento do encontro inesperado,
eleva a mão e acena
para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.
Di domenica le vie sono deserte
e sembrano più larghe.
Sono assenti gli uomini alla ricerca
d’altre nuove fatiche che li rilassino.
Il loro libero arbitrio allegramente li spinge
a fare le stesse cose che han fatto
gli altri che sono andati a fare quel che fan loro.
E così le vie son rimaste più larghe,
l’aria più pulita, il sole più scoperto.
Son rimasti i beoni con più spazio per sgranchirsi
 le gambe
e grattarsi la pancia e allargare le braccia
nell’amplesso amoroso che solo loro conoscono.
Lo sguardo aperto alle ampie prospettive
si dilata e attraversa
i successivi piani trasparenti.
Un cane randagio senza fretta e senza tema
annusa il bidone caduto sul marciapiede.
È domenica.
E di domenica gli alberi crescono in città,
e gli uccelli, credendosi in campagna, s’abbandonano
al canto standovi appollaiati.
Tutto torna al principio.
E al principio il pattume del cassonetto odora di sterco
 di vacca
e l’asfalto della via scorre senza sobbalzi in mezzo
 ai sassi
portando con sé l’immagine dei fiori gialli di ginestra,
mentre il passante,
nello stordimento di quell’incontro inatteso,
alza la mano e accenna un saluto
verso il marciapiede di fronte dove nessuno passa.
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Cunha Rocha
Coimbra (1985)
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