Sono das águas


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Sono das águas
Il sonno delle acque


Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme. Todas as águas dormem:
no rio, no açude,
na lagoa, no brejão, nos olhos d′água,
nos grotões fundos.
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...

Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem.
E adormece
até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...

Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono...
V’è una cert’ora
nel mezzo della notte, un’ora morta
in cui l’acqua dorme. Tutte le acque dormono:
nel fiume, nel bacino,
nella laguna, nello stagno, nelle pozzanghere,
nel fondo delle grotte.
E chi rimane sveglio,
sulla riva, tutta la nottata,
potrà sentire che la cascata
ferma la sua caduta e lo scroscio,
ché l’acqua s'è addormentata.

Acque chiare, fangose, sonnolente,
van tutte a sonnecchiare.
Dormono le gocce, le piene, la linfa delle piante,
ruscelletti e torrenti.
La rugiada sogna
sui bordi del fogliame.
E s’addormenta
persino l’acqua riscaldata,
nei bicchieri sul comodino degli agonizzanti...

Ma non proprio tutte dormono, in quest’ora
di torpore liquido e innocente.
C’è tanta gente che sta vegliando
e piangendo, tutta la notte,
perché l’acqua degli occhi
non ha mai sonno...
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Jean-Baptiste Siméon Chardin
Natura morta con prugne (1730)
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