O cágado


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O cágado
La tartaruga


Numa dobra da serra
há um minadouro,
uma bica,
e um poço azul.
E ali, na água redonda, pequenina e fria,
mora um cágado escafandrista,
filósofo pessimista,
que tem a mania de perseguição.

Quando o sol bate de cheio,
ele traz para fora a cuia emborcada,
e se aquece, aberto, em cima da laje,
chato, cascudo e feio.
Mas, se alguém pisa perto,
ele escorrega e pula, na água mansa
que explode e respinga.

Leva bom tempo
para assomar o focinho
de periscópio.
Mas, se é falso o alarma,
lá vem aflorando, levemente, à tona,
a concha remendada com fiapos de limo.
Depois, mais afoito,
o prudente reptil
passeia o dorso, convexo e abaulado,
como um “U-18”
da base de Kiel.

E o caipira guarda a vida do monstrengo
(Ai! meus pecados todos!…),
se o matarem, o olho d’água se evapora
(Ai! minha felicidade pequenina!…)
E o cágado, lento e pré-diluviano,
na cacimba da grota, espera outro Dilúvio…
In un anfratto della serra
c’è una sorgente,
una cascata,
e un pozzo blu.
E lì, nell’acqua, tonda, piccolina e fredda,
abita una tartaruga palombara,
filosofa pessimista,
che soffre di manie di persecuzione.

Quando il sole batte a picco,
lei si sfila il guscio vuoto,
e si scalda, libera, sulla pietraia,
piatta, sgraziata e brutta.
Ma, se qualcuno le passa accanto,
lei scivola e si butta nell’acqua calma
che esplode e schizza.

Ci mette un po’ di tempo
a far sbucare il musetto
a periscopio.
Ma, se è un falso allarme,
ecco che ritorna, cautamente, a galla,
col guscio insudiciato da filamenti d’alga.
Dopo, più audace,
il rettile prudente
mostra il suo dorso, a coperchio di baule,
come un “U-18”
della base di Kiel.

E il selvaggio difende la vita del draghetto
(Ai! tutti i miei peccati!…),
se lo ammazzasse, la pozza d’acqua evaporerebbe
(Ai! la mia piccola felicità!…)
E la tartaruga, lenta e antidiluviana,
nel pozzo della grotta, aspetta un altro Diluvio…
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Jean-Louis Jabalé
Tartaruga marina (2009)
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