A morte da água


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A morte da água
La morte dell’acqua


Um dos passeios que mais gosto de dar é ir a esposende
ver desaguar o cávado. Existe lá um bar apropriado para
isso. Um rio é a infância da água. As margens,
 o leito,
tudo a protege. Na foz é que há a aventura do mar
largo. Acabou-se qualquer possível árvore geneológica,
visível no anel do dedo. Acabou-se mesmo qualquer
passado. É o convívio com a distância, com o
incomensurável. É o anonimato. E a todo o momento há
água que se lança nessa aventura. Adeus margens
verdejantes, adeus pontes, adeus peixes conhecidos.
Agora é o mar salgado, a aventura sem retorno, nem
mesmo na maré cheia. E é em esposende que eu gosto
de assistir, durante horas, a troco de uma imperial, à
morte de um rio que envelheceu a romper pedras e
plantas, que lutou, que torneou obstáculos. Impossível
voltar atrás. Agora é a morte. Ou a vida.
Una delle gite che più mi piace fare è andare a Esposende
a veder sfociare il Cávado. Là esiste un bar ben situato per
questo scopo. Un fiume è l’infanzia dell’acqua. Le rive,
 il letto,
tutto la protegge. È alla foce che inizia l’avventura del mare
aperto. S’è concluso ogni possibile albero genealogico,
visibile dall’anello al dito. S’è concluso ogni
passato. È il convivio con la distanza, con
l’incommensurabile. È l’anonimato. E in ogni istante v’è
acqua che si getta in quest’avventura. Addio rive
verdeggianti, addio ponti, addio pesci conosciuti.
Ora è il mare salato, l’avventura senza ritorno, neppure
con l’alta marea. Ed è a Esposende che mi piace
assistere, per ore, in cambio di un’Imperial, alla
morte di un fiume che è invecchiato travolgendo pietre e
piante, che ha lottato, che ha aggirato ostacoli. Impossibile
tornare indietro. Adesso è la morte. O la vita.
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Carlo Carrà
Foce del fiume Cinquale (1928)
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