Improviso para Beatriz


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Improviso para Beatriz
Improvviso per Beatrice


Eu ontem vi a sombra do teu rosto,
nascendo nas ondas do lago calmo,
no ventre de tua mãe.
E eras profundamente peixe.

Entre uma imagem e outra,
no claro-escuro da sala,
o ultrassonografista sorriu,
e mediu cuidadoso o teu fêmur.

Todavia em certo momento,
naquela tela líquida,
a tua mãozinha brilhou
com um gesto humano.

Loucas geografias da alma,
que ainda hoje, cegos,
palmilhamos cheios de dedos,
chips, flashs, bytes, aparelhos.

Eu quis tocar a tua mão, Beatriz,
como o lavrador abençoa a semente.
Ou quem sabe um animal lambendo a cria
em funda escuridão placentária.

Um pai sabe pouco das coisas.
Consulta o relógio, paga as contas.
No mais, sobe escadas arrastando legumes,
impostos, repolhos, feito um burro cansado.
Um pai sabe pouco das coisas.

Mas embora pouco sabendo,
é capaz de imaginar o teu sorriso de criança.
A cor futura dos teus cabelos,
o som perfeito da tua voz em meu ouvido.

E te agradece por isso.

Ieri ho visto l’ombra del tuo volto,
nascere dalle onde del lago calmo,
nel ventre di tua madre.
E eri profondamente pesce.

Tra un’immagine e l’altra,
nel chiaro-scuro della sala,
l’ecografista ha sorriso,
e ha misurato attento il tuo femore.

Tuttavia ad un certo punto,
su quello schermo liquido,
la tua manina è emersa
con un gesto umano.

Folli geografie dell’anima,
che ancor oggi, ciechi,
digitiamo pieni di dita,
chip, flash, byte, apparecchi.

Avrei voluto toccare la tua mano, Beatrice,
come il contadino che benedice la semente.
Oppure, chissà, un animale che lecca il piccolo
nella fitta oscurità placentare.

Un padre sa poco di queste cose.
Consulta l’orologio, paga i conti.
Al massimo, sale le scale portando la spesa,
verdure, cavoli, come un asino stanco.
Un padre sa poco di queste cose.

Ma pur sapendo poco,
è capace d’immaginare il tuo sorriso di bimba.
Il colore futuro dei tuoi capelli,
il suono perfetto della tua voce al mio orecchio.

E di questo ti è grato.

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Louise Bourgeois
Donna casa (2005)
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