O Velho da Montanha


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Francese »»
«« 55 / Sommario (56) / 58 »»
________________


O Velho da Montanha
Il Vecchio della Montagna


Tudo não é muito. Há para além disso
E um rio corre depois de acabar.
Seja como for, a importância esfolha-se
E a árvore aprende a não amar
As suas folhas, ou não demasiado –
Só o bastante para que nasçam.
Vim para ser como as pedras,
Mas ainda não alcancei esta ciência.
Há ecos, transportes, nada que seja muito;
Precisamente, um rio corre para além disso,
Até ao último fim, o último dia
Chegando à primeira noite
E mais nada precisamente.
É verdade, arrefece. Tudo se torna mais lento.
Mas há coisas que ainda voltam. Coisas.
Já não sei o que são ou como se dizem.
Às vezes, a minha memória não se deixa lembrar;
Outras, acorda luzes que não aconteceram
E, então, és tu que me guias –
Às vezes, estás viva, outras morta,
Porque eu não sei e a memória mo esconde. Coisas.
Que não voltem. Diz-lhes.
E aos outros, diz-lhes que não os abandonei,
Sei onde estão e não os guardo em túmulos.
Diz-lhes, se puderes, que a minha vida foi justa,
Tão-pouco te abandonei a ti. Diz-lhes:
Se te deixei, a isso me obrigou
A usura de outros amores que eram teus,
Diz-lhes a verdade que puderes,
Diz-lhes do paraíso o que vires,
Porque aí hão-de viver,
Na margem que lhes deres
De uma luz que não cesse,
De uma luz que depende de ti,
Se findares, o milagre extingue-se.
O que hás-de dizer é outra coisa,
A mesma coisa sempre nova.
O que te hão-de dizer é a mesma coisa:
A peste no coração, nunca além disso.
Por favor, não voltes. Já sabes tudo.
Que te amo. Deixa-me agora
Cegar, secar, ser parte da montanha.
Enquanto ela não me toma,
Ser nada mais do que este relevo
De veias e ossos,
E o odor senil de urina.

Tutto non è granché. C’è dell’altro al di là
E un fiume scorre anche dopo la fine.
Comunque sia, l’importanza si riduce
E l’albero impara a non amare
Le sue foglie, o non troppo –
Solo quel che basta perché nascano.
Sono venuto per essere come le pietre,
Ma non ho ancora afferrato questa scienza.
Ci sono echi, trasporti, niente che sia granché;
Sicuramente, un fiume scorre al di là di questo,
Fino all’ultimo fine, fino all’ultimo giorno
Giungendo alla prima notte
E niente di più, sicuramente.
È vero, si raffredda. Tutto diventa più lento.
Ma ci sono cose che ancora ritornano. Cose.
Io non so cosa sono o come si chiamano.
Talvolta la mia memoria non si lascia ricordare;
Altre volte, risveglia delle luci mai esistite,
E allora, sei tu che mi guidi –
Talvolta sei viva, altre volte sei morta,
Perché io non lo so e la memoria me lo nasconde. Cose.
Che non ritornino. Diteglielo.
E agli altri, dite loro che non li ho abbandonati,
So dove sono e non li custodisco in sepolcri.
Diglielo, se puoi, che è stata giusta la mia vita,
Che mai t’ho abbandonata a te stessa. Diglielo:
Se io t’ho lasciata, a questo m’ha obbligato
Il logorio d'altri amori che erano tuoi,
Dì loro la verità che puoi,
Dì loro ciò che del paradiso hai visto,
Perché lì dovranno vivere
Al margine che offrirai loro
D’una luce che non s’esaurisca,
D’una luce che dipende da te,
Se tu scompari, s’estingue il miracolo.
Quello che tu dirai è un’altra cosa,
La stessa cosa sempre nuova.
Quello che ti diranno è la stessa cosa:
La peste nel cuore, niente al di là di questo.
Per favore, non tornare. Sai già tutto.
Che ti amo. Adesso lascia che io diventi
Cieco, arido, che io sia parte della montagna.
Ma finché essa non m’incorpori,
Che io no sia altro che questo rilievo
Di vene e d'ossa,
E questo odore senile d'urina.

________________

Caravaggio
San Girolamo (1605-1606)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (11) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (109) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (467) Pássaro de vidro (52) Pedro Mexia (40) Poemas dos dias (28) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)