À Baco


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À Baco
A Bacco


Vou-te cantando, Baco!
Não pela colheita de hoje, que é pequena,
Mas pela de amanhã, muito maior!
Vou-te pondo nos cornos estas flores,
Que não querem ser líricas nem puras,
Mas humanas, sinceras e maduras.

Vou-te cantando, e vou cantando o sol,
A terra, a água, o lume e o suor.
Vou erguendo o meu hino
Como levanta a enxada o cavador!

Lá nesse Olimpo em geios,
Único Olimpo etéreo em que acredito,
Aí me prosterno, rendo e te repito
Que és eterno,
Mais do que Deus e mais do que o seu mito.

Beijo-te os pés — os cascos de reixelo;
Olho-te os olhos de pupila em fenda;
E sabendo que és fauno, ou sátiro ou demónio,
Sei que não és mentira nem és lenda!

Dionisos do Douro!
Pêlos no púbis como um homem,
Calos nas mãos ossudas!
E bêbado de mosto e de alegria,
À luz da negra noite e do claro dia.

Cachos de alvarelhão de cada lado
Da marca universal da natureza!
Ela, roxa e retesa
Como expressão da vida.
A beleza
Sempre no seu lugar, erguida!

E folhas de formosa pelos ombros,
Pelos rins, pelos braços,
Por onde a seiva rasga o seu caminho.
E a cabeça coberta
De cheiro a sémen e a rosmaninho.

Modula a sensual respiração
Do arcaboiço fundo do teu peito
Uma flauta de cana alegre e musical.
E és humano,
Quanto mais és viril e animal!

Eis os meus versos, pois, filho de Agosto
E dos xistos abertos.
Versos que não medi, que não contei,
Mas que estão certos,
Pela sagrada fé com que tos dei!

Per te io canto, Bacco!
Non per il raccolto d’oggi, che è sparuto,
Ma per quel di domani, assai più copioso!
Voglio posarti sulle corna questi fiori,
Che non aspirano ad esser poetici né puri,
Ma umani, autentici e maturi.

Per te io canto, e canto il sole,
La terra, l'acqua, la fiamma, il sudore.
A te il mio inno innalzo
Come alza la zappa il contadino!

Là, su quell’Olimpo di muretti a secco,
Unico Olimpo etereo in cui credo,
Io mi prosterno, m’inchino e ti ripeto
Che sei eterno,
Più di Dio stesso, e più del suo mito.

Bacio i tuoi piedi – i tuoi zoccoli di capro;
Guardo i tuoi occhi dalla pupilla a fessura;
E sapendo che sei fauno, satiro o demonio,
So che non sei né leggenda né impostura!

Dioniso del Douro!
Coi peli sul pube come un uomo,
Coi calli sulle tue mani ossute!
Ebbro di mosto e d’allegria,
Alla luce del giorno e della notte buia.

Grappoli d'alvarelhão da entrambi i lati
Universale marchio della natura!
Lei, violacea, eccitata
vera espressione della vita.
La bellezza
Sempre al suo posto, altera!

E foglie di vite sulle spalle,
Sui fianchi, tra le braccia
Ove la linfa traccia il suo cammino.
E la tua testa cinta
Dall’odore di sperma e rosmarino.

Modula la respirazione sensuale
Dell’ampia cavità entro il tuo petto
Un flauto di canna allegro e musicale.
E tanto più sei umano,
Quanto più sei virile ed animale!

Ecco, dunque, i miei versi, figlio d'Agosto
E degli ampelidacei scisti.
Versi che non ho misurato né contato,
Ma che io so precisi
Per la tenace fede con cui te li ho consacrati!

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Pieter Paul Rubens
I due satiri (1619)

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