Um Adeus Português


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Um Adeus Português
Un addio portoghese


Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros pura e a sombra
de uma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Nei tuoi occhi estremamente insidiosi
è ancora in rigoglio il più rigoroso amore
la luce di spalle pure e l’ombra
d’un tormento già decantato

No non potevi rimanere legata a me
alla ruota su cui mi decompongo
ci decomponiamo
a questo piede insanguinato che traballa
quasi medita
e procede muggendo dentro il tunnel
d’un dolore antico

Non potevi rimanere su questa sedia
dove passo il giorno impiegatizio
il giorno-per-giorno della miseria
che sale verso gli occhi giunge alle mani
ai sorrisi
all’amore mal scandito
all’idiozia allo sconforto senza bocca
alla paura inquadrata
alla gioia sonnambula alla virgola maniaca
del modo impiegatizio di vivere

Non potevi rimanere in questo letto con me
in mortale passaggio fino al giorno immondo
canino
dispotico
fino al giorno che non sorge dalla promessa
purissima dell’aurora
ma dalla miseria di una notte originata
da un giorno uguale

Non potevi rimanere legata a me
all’esiguo dolore che ciascuno di noi
reca dolcemente per mano
a questo dolore portoghese
così mite quasi vegetale

No tu non meriti questa città né meriti
questa ruota di nausea dove giriamo
fino all’idiozia
questa piccola morte
e il suo meticoloso e osceno rituale
questa nostra assurda ragione d’essere

No tu sei della città dell’avventura
della città in cui l’amore trova le sue strade
e il cimitero rovente
della sua morte
tu sei della città in cui vivi per un filo
di puro caso
in cui muori o vivi non d’asfissia
ma nelle mani di un’avventura d’un mero commercio
senza la moneta fasulla del bene e del male

In questa svolta tanto tenera e lacerante
che sarà che è già la tua partenza
ti dico addio
e come un adolescente
incespico di tenerezza
per te.

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Lionello Balestrieri
Addio (1910)
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