Poema da Pandemia & outros descalabros


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Gilberto Nable »»
 
Poemas com (alguma) fúria & Novos elogios (2021) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Poema da Pandemia & outros descalabros
Poema della Pandemia & altri sconquassi


          Tout suffocant
          Et blême, quand
          Sonne l’heure,
          Je me souviens
          Des jours anciens
          Et je pleure.
          Chanson d’automne, Paul Verlaine
 
... Pois nesse vento sopra uma areia viva
que inflama a fala e os pulmões.
 
É portanto um vento da febre,
um ruinoso alento da peste,
que parece nascer de algum vale sombrio,
embora surja das montanhas azuis da China,
ou da garganta de um novo dragão.
Vem de repente e sem aviso.
Vem de repente e nada se sabe.
Escancara a boca imensa
e esparrama no mundo
esta fina névoa de aflição.
 
Começa a ventar dentro das igrejas vazias,
sobre os velórios urgentes e as covas,
sobre as longas avenidas dos cemitérios
abertas como feridas na terra molhada.
Venta na noite povoada de sirenes.
Sopra leve nas ruas, nas esquinas e nas praças desertas,
nas escolas sem correrias e gritos de crianças,
nos bares despovoados de alegria,
sobre os bordéis, estradas e restaurantes lacrados.
Não há mais festas, nem abraços, nrm beijos, nem risos,
mas velas acesas e lenços úmidos de lágrimas.
É um vento que não para,
por vezes quase uma brisa.
Assopra e entra pelos nossos ouvidos,
atravessa os óculos, as certezas,
as luvas e as máscaras.
 
Está soprando agora sobre os hospitais,
em seus heliportos e altas chaminés,
sobre os telhados e as janelas abertas,
os braços exaustos e os balões de oxigênio.
Venta nos aventais de médicos e enfermeiras
desfraldados como trêmulas bandeiras brancas,
bandeiras inúteis da trégua que não virá.
São ruídos extenuantes de tosse e dor,
de tubos deslizando nas traqueias,
tropéis ruidosos de macas
e alarmes de respiradores.
 
Ó como a vida é uma linha frágil,
folha breve e que o vento leva!
Pois nesse vento sopra uma areia viva
que inflama a fala e os pulmões.

          Pieno d’affanno
          E stanco, quando
          L’ora batte,
          Io mi rammento
          Remoti giorni
          E piango.
          Canzone d’autunno, Paul Verlaine
 
... E intanto spira in questo vento sabbia viva
che infiamma la parola ed i polmoni.
 
È dunque un vento di febbre,
un nefasto respiro di peste,
che sembra nascere da qualche tetra valle,
benché sorga dai monti azzurri della Cina,
o dalla gola d’un nuovo dragone.
D’un tratto viene e senza preavviso.
D’un tratto viene, non se ne sa niente.
Spalanca l’immensa bocca
e per il mondo propaga
questa sottile nebbia d’afflizione.
 
Comincia a soffiare dentro le chiese vuote,
sopra le veglie urgenti e sulle fosse,
sopra i lunghi viali dei cimiteri
aperti come ferite nella terra bagnata.
Soffia nella notte gremita di sirene.
Spira lieve per le vie, agli angoli e nelle piazze deserte,
nelle scuole senza le corse e le urla dei piccini,
nei bar spopolati d’allegria,
sopra i bordelli, le strade e i ristoranti serrati.
Non ci sono più feste, né abbracci, né baci, né risate,
ma ceri accesi e fazzoletti umidi di lacrime.
È un vento che non s’arresta,
a volte quasi una brezza.
Spira ed entra dalle nostre orecchie,
trapassa gli occhiali, le certezze,
i guanti e le mascherine.
 
Ora sta soffiando sopra gli ospedali,
sui loro eliporti e sugli alti camini,
sopra i tetti e le finestre aperte,
su braccia esauste e bombole d’ossigeno.
Spira sui camici di medici e infermiere
svolazzanti come tremule bandiere bianche,
inutili bandiere di una tregua che non verrà.
Rumori estenuanti di tosse e di dolore,
di tubi che scendono nelle trachee,
chiassoso viavai di barelle,
e allarmi di respiratori.
 
Ahi, che linea labile è la vita,
foglia fugace che il vento porta via!
E intanto spira in questo vento sabbia viva
che infiamma la parola ed i polmoni.


________________

Giovanni di Paolo
Allegoria della peste (xv sec.)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (105) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (17) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)