Elogio de Walter Benjamin


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Gilberto Nable »»
 
Poemas com (alguma) fúria & Novos elogios (2021) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Elogio de Walter Benjamin
Elogio di Walter Benjamin


Os anjos em Portbou

    Ouço que levantaste a mão contra ti mesmo
    Te antecipando ao carniceiro.
    Oito anos desterrado, observando a ascenção do inimigo.
    O suicídio do fugitivo W.B., Bertolt Brecht

1
Nestas falésias não aportam mais anjos,
senão uns fiapos de nuvens e gaivotas.
Ali aportaram, mas no outono de 1940,
grupos e grupos de refugiados de guerra,
atulhados de malas, alforjes e crianças,
todos eles a pé, nas trilhas dos Pireneus,
através bosques, plátanos e pinheiros,
ladeados de tristes casas de pedra ocre.
Fugiam do nazismo e da França ocupada,
para, atravessando a Espanha e Lisboa,
embarcarem enfim rumo às Américas.

2
A cidadezinha portuária de Portbou,
nas margens azuis do Mediterráneo,
onde vigiava um posto de alfándega,
há tempos dispensara todos os anjos,
substituindo-os pela policia aduanera.
E não há vez para fugas, naquele dia,
fins de um úmido e ameno setembro:
as fronteiras permaneciam fechadas.

3
O único ajo que por lá se arrisca,
vai apertado no fundo da mala
de Walter Benedix Benjamin.
Um anjo assustado e vesgo,
sugestivo desenho de Paul Klee,
misturado a alguns manuscritos.
E agrupados vão, noutra mala,
sapatos, quatro peças de roupas,
o cachimbo, um relógio de ouro,
quinhentos francos, uns dólares,
fotografias, óculos e jornais.

4
O Angelus Novus deste homem
segue desterrado numa velha mala:
tem as asas presas pela tempestade
que sopra do paraíso, sem cessar,
e com os olhos arregalados só vê
o acúmulo de ruinas, a barbárie,
pilhas de mortos se amontoando,
sem redenção ou misericórdia,
uns sobre os outros, até os céus.

5
O anjo, que só vê o passado,
é o Anjo da História (de Benjamin):
volta sempre as costas
e as asas para o futuro.
Mas se visse os acontecimenntos,
as sucessivas carnificinas,
ocasos e catástrofes,
que ainda esperam os instantes
no grande incêndio universal,
ele cegaria os próprios olhos,
como fez Édipo em Tebas,
para não enxergar nunca mais!

6
E este anjo torto agora percebe
na pousada Fonda de Francia,
onde pernoitaram, angustiados-
os olhos tristes do filósofo judeu
lembrando a sua própria história:
sucessão de perdas e infortúnios
que nem no exílio o deixaram.
Ele gritou: - Benjamin! Benjamin!
Tentando, quem sabe, acordá-lo,
(mas não havia som em seu grito).
E ele vê quando as mãos trêmulas
destampam um vidro de remédio,
para ingerir, e de uma única vez,
os vários comprimidos amarelos.

7
Hoje quem passa por lá
encontra um monumento
e um estranho turismo de suicídio.
Percorre, bem devagar, sombras,
escadarias, quartos e inscrições.
A cidadezinha portuária de Portbou,
às margens azuis do Mediterráneo,
è dos lugares mais belos da Catalunha.
Mas, desde então, como há muito,
todos os anjos se apartaram do mundo.

Gli angeli a Portbou

      Ho saputo che hai alzato la mano contro te stesso
      prevenendo il macellaio.
      Esule da otto anni, osservando l’ascesa del nemico
      Per il suicidio del profugo W.B., Bertolt Brecht

1
A queste falesie non approdano più angeli,
soltanto qualche brandello di nuvole e gabbiani.
Lì approdarono, era l’autunno del 1940,
gruppi e gruppi di profughi di guerra,
stracarichi di valigie, bisacce e bambini,
tutti a piedi, lungo i sentieri dei Pirenei,
in mezzo a boschi di platani e a pinete,
fra tristi case di pietra color ocra.
Fuggivano dal nazismo e dalla Francia occupata,
per poter infine far vela verso le Americhe,
attraversando la Spagna e Lisbona.

2
La cittadina portuale di Portbou,
sulle azzurre sponde mediterranee,
dove vigilava un posto di dogana,
da tempo aveva licenziato tutti gli angeli,
sostituendoli con la policia aduanera.
E non c’era modo di fuggire quel giorno,
alla fine d’un umido e ameno settembre:
le frontiere rimanevano chiuse.

3
L’unico angelo che s’avventura là,
si trova stretto in fondo alla valigia
di Walter Benedix Benjamin.
Un angelo spaurito e strabico,
suggestivo disegno di Paul Klee,
mescolato ad alcuni manoscritti.
E ammucchiati, in un’altra valigia,
ci sono scarpe, un po’ di biancheria,
la pipa, un orologio d’oro,
cinquecento franchi, qualche dollaro,
fotografie, occhiali e giornali.

4
L’Angelus Novus di quest’uomo
lo scorta, esiliato in una vecchia valigia:
ha le ali intrappolate nella tempesta
che soffia dal paradiso, senza sosta,
e con gli occhi stralunati vede soltanto
l’ammasso di rovine, la barbarie,
i cumuli di morti ammucchiati,
senza redenzione o misericordia,
gli uni sugli altri, fino al cielo.

5
L’angelo, che vede solo il passato,
è l’Angelo della Storia (di Benjamin):
volta sempre le spalle
e le ali al futuro.
Ma se vedesse gli avvenimenti,
le prossime carneficine,
i tramonti e le catastrofi,
che ancora sono in attesa degli istanti
del grande incendio universale,
egli si trafiggerebbe gli occhi,
come fece Edipo a Tebe,
per non dover mai più vedere!

6
E quest’angelo strambo ora comprende
nella pensione Fonda de Francia,
dove han pernottato, angosciati -
gli occhi tristi del filosofo ebreo
ricordando la sua storia personale:
successione di perdite e disgrazie
che l’han seguito anche in esilio.
E grida: - Benjamin! Benjamin!
Tentando, chissà, di risvegliarlo,
(ma non v’era suono in quel suo grido).
Ed egli vede quando le mani tremanti
stappano una boccetta di pastiglie,
per ingerire, e in un colpo solo,
tutte quelle compresse gialle.

7
Oggi chi passa di là
vi trova un monumento
e un singolare turismo di suicidio.
Esplora, con lentezza, tra le ombre,
le scalinate, le stanze e le iscrizioni.
La cittadina portuale di Portbou,
sulle azzurre sponde mediterranee,
è tra le località più belle della Catalogna.
Ma, da allora, è tanto tempo ormai,
tutti gli angeli si sono estraniati dal mondo.


________________

Paul Klee
Angelus Novus (1920)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (105) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (17) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)