Deixo-me cair...


Nome :
 
Collezione :
Fonte :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poesie inedite »»
nunorochamorais.blogspot.com (marzo 2022) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Deixo-me cair...
Mi lascio cadere...


Deixo-me cair. Chove.
A mágoa tenta ser demasiada,
A resignação, voz velha e sábia,
Procura confortar-me
Com todos os exemplos que vai tirando do baú.
As ilusões estouram, o coração pode menos,
Sempre um pouco menos, coberto de goteiras,
É possível que tantas impossibilidades
Acabem por vencer
E façam vingar a sua lei.
Talvez nas veias da tragédia
O sangue seja de farsa chocarreira.
Que, então, tudo se desminta, se deslace,
Que nunca tenhamos merecido
Com lágrimas fundar amor,
Que o ridículo não se apiede de nós.
Uma razão qualquer argumenta
Que um homem também se alimenta de pontapés.
Deixo-me cair, mas, então, ao principio muito longe,
Depois cada vez mais perto,
Com forças maiores e maiores,
Há uma voz que soa límpida
E que pelos caminhos distribui a abundância
Equivoca um “talvez não, talvez não”
Até que em mim há espaço
Para de pé repetir: talvez não, talvez não.

Mi lascio cadere. Piove.
Il tormento si sta spingendo all’eccesso,
La rassegnazione, vecchia e saggia voce,
Cerca di darmi conforto
Con tutti gli esempi che riesce a estrarre dal baule.
Esplodono le illusioni, il cuore ha meno vigore,
Sempre un po’ meno, coperto di goccioline,
È probabile che tante impossibilità
Finiscano per prevalere
E facciano vincere la propria legge.
Forse nelle vene della tragedia
Scorre il sangue di una farsa giullaresca.
Che, allora, tutto si sconfessi, si rimuova,
Ché non abbiamo mai meritato
Di fondare l’amore sulle lacrime,
Che il ridicolo non abbia pietà di noi.
Un poco di raziocinio dimostra
Che un uomo si alimenta anche di pedate.
Mi lascio cadere, ma, ecco, dapprima molto lontano,
Poi sempre più vicino,
Con vigore sempre più e più grande,
Vi è una voce che risuona limpida
E che lungo le strade distribuisce l’abbondanza
M’illude con un “forse no, forse no”
Fin quando c’è spazio in me
Per ripetere in piedi: forse no, forse no.

________________

Oswaldo Guayasamin
I disperati (1974)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (107) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (18) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)