Rélogio


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Ana Martins Marques »»
 
Da arte das armadilhas (2011) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


Rélogio
Orologio


De que nos serviria
um relógio?

se lavamos as roupas brancas:
é dia

as roupas escuras:
é noite

se partes com a faca uma laranja
em duas:
dia

se abres com os dedos um figo
maduro:
noite

se derramamos água:
dia

se entornamos vinho:
noite

quando ouvimos o alarme da torradeira
ou a chaleira como um pequeno animal
que tentasse cantar:
dia

quando abrimos certos livros lentos
e os mantemos acesos
à custa de álcool, cigarros, silêncio:
noite

se adoçamos o chá:
dia

se não o adoçamos:
noite

se varremos a casa ou a enceramos:
dia

se nela passamos panos úmidos:
noite

se temos enxaquecas, eczemas, alergias:
dia

se temos febre, cólicas, inflamações:
noite

aspirinas, raio-x, exame de urina:
dia

ataduras, compressas, unguentos:
noite

se esquento em banho-maria o mel que cristalizou
ou uso limões para limpar os vidros:
dia

se depois de comer maçãs
guardo por capricho o papel roxo escuro:
noite

se bato claras em neve:
dia

se cozinho beterrabas grandes:
noite

se escrevemos a lápis em papel pautado:
dia

se dobramos as folhas ou as amassamos:
noite

(extensões e cimos:
dia
camadas e dobras:
noite)

se esqueces no forno um bolo
amarelo:
dia

se deixas a água fervendo
sozinha:
noite

se pela janela o mar está quieto
lerdo e engordurado
como uma poça de óleo:
dia

se está raivoso
espumando
como um cachorro hidrófobo:
noite

se um pinguim chega a Ipanema
e deitando-se na areia quente sente ferver
seu coração gelado:
dia

se uma baleia encalha na maré baixa
e morre pesada, escura,
como numa ópera, cantando:
noite

se desabotoas lentamente
tua camisa branca:
dia

se nos despimos com ânsia
criando em torno de nós um ardente círculo de panos:
noite

se um besouro verde brilhante bate repetidamente
contra o vidro:
dia

se uma abelha ronda a sala
desorientada pelo sexo:
noite

de que nos serviria
um relógio?
A che cosa ci servirà
un orologio?

se laviamo panni bianchi:
è giorno

panni scuri:
è notte

se col coltello tagli un’arancia
in due:
giorno

se apri con le dita un fico
maturo:
notte

se versiamo dell’acqua:
giorno

se rovesciamo del vino:
notte

quando sentiamo il trillo del tostapane
o del bollitore come un animaletto
che tenta di cantare:
giorno

quando apriamo certi libri lenti
e li manteniamo accesi
a furia d’alcol, sigarette, silenzio:
notte

se zuccheriamo il tè:
giorno

se non lo zuccheriamo:
notte

se spazziamo la casa o diamo la cera:
giorno

se la ripassiamo con panni umidi:
notte

se abbiamo emicranie, eczemi, allergie:
giorno

se abbiamo febbre, coliche, infiammazioni:
notte

aspirine, raggi x, esami delle urine:
giorno

fasciature, compresse, unguenti:
notte

se scaldo a bagnomaria il miele cristallizzato
o uso limoni per lavare i vetri:
giorno

se dopo aver mangiato una mela
conservo per capriccio la carta rosso scuro:
notte

se sbatto le chiare a neve:
giorno

se cucino barbabietole grandi:
notte

se scriviamo a matita su carta a righe:
giorno

se pieghiamo i fogli o li accartocciamo:
notte

(estensioni e vette:
giorno
strati e pieghe:
notte)

se dimentichi in forno una torta
gialla:
giorno

se lasci l’acqua a bollire
da sola:
notte

se visto dalla finestra il mare è calmo
greve e untuoso
come una pozza d’olio:
giorno

se è infuriato
schiumante
come un cane idrofobo:
notte

se un pinguino arriva a Ipanema
e sdraiandosi sulla sabbia calda sente ribollire
il suo cuore gelato:
giorno

se una balena si spiaggia nella bassa marea
e muore pesante, scura,
come in un’opera, cantando:
notte

se ti sbottoni lentamente
la camicia bianca:
giorno

se ci spogliamo com frenesia
creando intorno a noi un ardente cerchio di panni:
notte

se uno scarabeo verde brillante batte ripetutamente
contro il vetro:
giorno

se un’ape ronza per la sala
disorientata dal sesso:
notte

a che ci servirà
un orologio?
________________

Giorgio de Chirico
Manichini, il giorno e la notte (1926)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (23) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (13) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)