Rélogio


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Rélogio
Orologio


De que nos serviria
um relógio?

se lavamos as roupas brancas:
é dia

as roupas escuras:
é noite

se partes com a faca uma laranja
em duas:
dia

se abres com os dedos um figo
maduro:
noite

se derramamos água:
dia

se entornamos vinho:
noite

quando ouvimos o alarme da torradeira
ou a chaleira como um pequeno animal
que tentasse cantar:
dia

quando abrimos certos livros lentos
e os mantemos acesos
à custa de álcool, cigarros, silêncio:
noite

se adoçamos o chá:
dia

se não o adoçamos:
noite

se varremos a casa ou a enceramos:
dia

se nela passamos panos úmidos:
noite

se temos enxaquecas, eczemas, alergias:
dia

se temos febre, cólicas, inflamações:
noite

aspirinas, raio-x, exame de urina:
dia

ataduras, compressas, unguentos:
noite

se esquento em banho-maria o mel que cristalizou
ou uso limões para limpar os vidros:
dia

se depois de comer maçãs
guardo por capricho o papel roxo escuro:
noite

se bato claras em neve:
dia

se cozinho beterrabas grandes:
noite

se escrevemos a lápis em papel pautado:
dia

se dobramos as folhas ou as amassamos:
noite

(extensões e cimos:
dia
camadas e dobras:
noite)

se esqueces no forno um bolo
amarelo:
dia

se deixas a água fervendo
sozinha:
noite

se pela janela o mar está quieto
lerdo e engordurado
como uma poça de óleo:
dia

se está raivoso
espumando
como um cachorro hidrófobo:
noite

se um pinguim chega a Ipanema
e deitando-se na areia quente sente ferver
seu coração gelado:
dia

se uma baleia encalha na maré baixa
e morre pesada, escura,
como numa ópera, cantando:
noite

se desabotoas lentamente
tua camisa branca:
dia

se nos despimos com ânsia
criando em torno de nós um ardente círculo de panos:
noite

se um besouro verde brilhante bate repetidamente
contra o vidro:
dia

se uma abelha ronda a sala
desorientada pelo sexo:
noite

de que nos serviria
um relógio?
A che cosa ci servirà
un orologio?

se laviamo panni bianchi:
è giorno

panni scuri:
è notte

se col coltello tagli un’arancia
in due:
giorno

se apri con le dita un fico
maturo:
notte

se versiamo dell’acqua:
giorno

se rovesciamo del vino:
notte

quando sentiamo il trillo del tostapane
o del bollitore come un animaletto
che tenta di cantare:
giorno

quando apriamo certi libri lenti
e li manteniamo accesi
a furia d’alcol, sigarette, silenzio:
notte

se zuccheriamo il tè:
giorno

se non lo zuccheriamo:
notte

se spazziamo la casa o diamo la cera:
giorno

se la ripassiamo con panni umidi:
notte

se abbiamo emicranie, eczemi, allergie:
giorno

se abbiamo febbre, coliche, infiammazioni:
notte

aspirine, raggi x, esami delle urine:
giorno

fasciature, compresse, unguenti:
notte

se scaldo a bagnomaria il miele cristallizzato
o uso limoni per lavare i vetri:
giorno

se dopo aver mangiato una mela
conservo per capriccio la carta rosso scuro:
notte

se sbatto le chiare a neve:
giorno

se cucino barbabietole grandi:
notte

se scriviamo a matita su carta a righe:
giorno

se pieghiamo i fogli o li accartocciamo:
notte

(estensioni e vette:
giorno
strati e pieghe:
notte)

se dimentichi in forno una torta
gialla:
giorno

se lasci l’acqua a bollire
da sola:
notte

se visto dalla finestra il mare è calmo
greve e untuoso
come una pozza d’olio:
giorno

se è infuriato
schiumante
come un cane idrofobo:
notte

se un pinguino arriva a Ipanema
e sdraiandosi sulla sabbia calda sente ribollire
il suo cuore gelato:
giorno

se una balena si spiaggia nella bassa marea
e muore pesante, scura,
come in un’opera, cantando:
notte

se ti sbottoni lentamente
la camicia bianca:
giorno

se ci spogliamo com frenesia
creando intorno a noi un ardente cerchio di panni:
notte

se uno scarabeo verde brillante batte ripetutamente
contro il vetro:
giorno

se un’ape ronza per la sala
disorientata dal sesso:
notte

a che ci servirà
un orologio?
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Giorgio de Chirico
Manichini, il giorno e la notte (1926)
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