A verdade histórica


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A verdade histórica
La verità storica


A minha filha partiu uma tigela
na cozinha.
E eu que me apetecia escrever
sobre o evento,
tive que pôr de lado inspiração e lápis,
pegar numa vassoura e varrer6
a cozinha.

A cozinha varrida de tigela
ficou diferente da cozinha
de tigela intacta:
local propício a escavação e estudo,
curto mapa arqueológico
num futuro remoto.

Uma tigela de louça branca
com flores,
restos de cereais tratados
em embalagem estanque
espalhados pelo chão.

Não eram grãos de trigo de Pompeia,
mas eram respeitosos cereais
de qualquer forma.
E a tigela, mesmo não sendo da dinastia Ming,
mas das Caldas,
daqui a cinco ou dez mil anos
devia ter estatuto admirativo.

Mas a hecatombe
deu-se.
E escorregada de pequeninas mãos,
ficou esquecida de famas e proveitos,
varrida de vassouras e memórias.

Por mísero e cruel balde de lixo
azul
em plástico moderno
(indestrutível)
Mia figlia ha rotto una zuppiera
in cucina.
E io che avevo voglia di descrivere
questo evento,
ho dovuto trascurare ispirazione e lapis,
prendere una scopa e ripulire
la cucina.

La cucina privata della zuppiera
aveva un aspetto diverso dalla cucina
con la zuppiera intatta:
luogo propizio allo scavo e allo studio,
piccola mappa archeologica
di un futuro remoto.

Una zuppiera di ceramica bianca
a fiori,
avanzi di cereali conservati
in imballaggi sotto vuoto
sparsi sul pavimento.

Non erano chicchi di grano di Pompei,
ma erano rispettabili cereali
in qualche maniera.
E la zuppiera, pur non essendo della dinastia Ming,
ma di Caldas,
da qui a cinque o diecimila anni
dovrebbe avere un ammirevole statuto.

Ma l’ecatombe
è avvenuta.
E scivolata da piccole manine,
è rimasta priva di fama e di valore,
spazzata via da scope e dalla memoria.

In un secchio dei rifiuti misero e crudele
blu
di plastica moderna
(indistruttibile)
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Édouard Pignon
Donna con scodella (1943)
...

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