La dame à la licorne


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La dame à la licorne
La dame à la licorne


Dona Semifofa erguendo o dedo
mindinho arqueado em asa sobre a asa da
chávena (ou xícara) disse: –
– Eu sempre soube que poetas não
são gente em quem confie uma senhora –
e num sorvinho delicado rematou
a mágoa de cinquenta primaveras.
O licorne, num doce balançar do chifre esguio,
gravemente assentiu,
um pouco perturbado
pela insistência obnóxia e recatada
com que a discreta dama confundia,
ou mais que a dama os olhos vagos dela,
o chifre legendário e o metafórico
que de entre as pernas longo lhe descia
ou já de perturbado não pendia.

Torcendo as ancas disfarçadamente
para encobrir das vistas semifofas
essa homenagem à inocência delas
(como o cavalheiro que pousando a mão
assim se esconde em pudicícia o quanto
não esconda muito mais que a discrição obriga),
D. Gil cofiou a capriforme pêra
e de soslaio viu que Dona Semifofa
do branco em ferro assento resvalava
para a verdura em que as florinhas eram
de cores variegadas, salpicantes.
D. Gil era o licorne, e disse com voz cava:
– Mas eu também, minha senhora, nunca
acreditei que de confiança eles fossem.
Se acreditasse, como não teria
a mágoa imensa de não ser centauro? –

No chão, erguendo as pernas, Semifofa uivou:
– Centauro, para quê? Não há centauros.
Licornes, sim, D. Gil, vinde a meus braços.

Donna Semifofa alzando il dito
mignolo curvato ad ala sopra l’ala della
tazza (o chicchera), disse:
– Ho sempre saputo che i poeti non sono
persone di cui debba fidarsi una signora –
e con un sorso delicato coronò
la mestizia di cinquanta primavere.
L’unicorno, con lieve dondolio dell’acuto corno,
gravemente assentì,
un po’ turbato
per l’insistenza umile e pudica
con cui la dama discreta confondeva,
o più che la dama i suoi occhi erranti,
il corno leggendario con quello metaforico
che lungo tra le zampe gli scendeva
e già, per il turbamento, più non pendeva.

Girando cautamente i fianchi
per riparare dalle occhiate semifofe
quell’omaggio alla loro innocenza
(come il cavaliere che posa la sua mano
nascondendo così per pudicizia molto più
di quanto la discrezione lo obblighi a celare),
don Gil s’accarezzò la capriforme barbetta
e vide in tralice che Donna Semifofa
dal bianco sedile in ferro scivolava
sul praticello punteggiato di fiorellini
dai colori screziati, variopinti.
Don Gil, l’unicorno, disse con voce grave:
– Ma anch’io, mia signora, non ho mai
creduto che essi fossero degni di fiducia.
Se ci credessi, non proverei davvero
l’immensa pena di non esser centauro. –

A terra, con le gambe alzate, Semifofa urlò:
— Centauro, perché? Non esistono centauri.
Ma unicorni sí, don Gil, venite tra le mie braccia.

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La dama con l'unicorno (arazzo)
Cluny, Museo Nazionale del Medioevo
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