Eleonora di Toledo, Granduchessa di Toscana, de Bronzino


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Eleonora di Toledo, Granduchessa di Toscana,
de Bronzino
Eleonora di Toledo, Granduchessa di Toscana,
del Bronzino


Ao Murilo Mendes
 
Pomposa e digna, oficialmente séria,
é geometria ideal de príncipes banqueiros,
sobrinhos, primos, tios de toda a Europa,
de reis, senhores de terras e armadores,
severamente equilibrados entre
o sexo, a devoção e as hipotecas.
O mundo é um imenso cais de intolerância austera,
a que aportam escravos, pimenta, a caridade
à sombra de colunas sem barbárie gótica.
Na boca firme, como no olhar duro,
ou no cabelo ferozmente preso
ou nas imensas pérolas que se multiplicam,
ou nos bordados do vestido que nem seios
se alteiam muito, há uma virtude fria,
uma ciência de não-pecar na confissão e na alcova,
uma reserva de distante encanto
em que a Razão de Estado era um passeio altivo
por entre as árvores de um jardim areado,
com áleas racionais e relva em secção aúrea.
Sem dúvida que os astros presidiram,
numa ciência de terra já redonda,
às próprias proporções que o quadro regem.
Palácios, festas, complicadas odes,
e procissões e cadafalsos e a
de um céu toscano limpidez que pousa no
pó e nas ruínas da imperial Toledo,
tudo isto se condensa em penetrante
tom de ocre vago, onde as cores se opõem
como teses tridentinas muito práticas
elaboradas com paciência para o descanso eterno
dos príncipes cristãos que se devoram sob
a paternal vigilância de uma Roma etérea,
guardada pelos suíços, por cardeais e frades.
A grã-duquesa – se o foi, não foi, de quem é filha,
de quem foi mãe, ante um retrato assim
tão pouco importa! – fez-se pintar.
Mas a pintura era outra coisa, um escudo,
um escudo de armas e um broquel tauxiado,
para morrer tranquilo quando a angústia brota,
como um vómito de sangue, do singelo facto
de ter-se ou não ter alma, os mundos serem múltiplos,
e o Sol rodar ou não em torno à terra inteira,
iluminando as multidões, as raças, tudo,
e os príncipes e os súbditos, nessa harmonia do mundo,
cujo estridor silente ao madrugar se ouvia
ranger discretamente, às portas dos castelos.

A Murilo Mendes
 
Pomposa e altera, ufficialmente seria,
è l’ideale geometria di principi banchieri,
nipoti, cugini, zii di tutta Europa,
di re, proprietari terrieri e armatori,
rigorosamente equilibrati tra
il sesso, la devozione e le ipoteche.
Il mondo è un immenso porto d’intolleranza austera,
ove approdano schiavi, pimento, la carità
all’ombra di colonne senza barbarie gotica.
Sulla bocca immota, come sullo sguardo duro,
o sulla chioma crudelmente raccolta
o sulle immense perle che si moltiplicano,
o sui ricami del vestito che neppure i seni
riescono a rialzare un po’, vi è una fredda virtù,
una scienza del non-peccare in confessione e nell’alcova,
una riserva di distante fascino
ove la Ragion di Stato sarebbe una passeggiata solenne
in mezzo agli alberi d’un proporzionato giardino,
con viali razionali ed erba in sezione aurea.
Non v’è dubbio che abbian dettato gli astri,
secondo una scienza di terra già rotonda,
le stesse proporzioni che ispirano il quadro.
Palazzi, feste, complicate odi,
e processioni e patiboli e la
limpidezza d’un cielo toscano che riposa sulla
polvere e sulle rovine dell’imperiale Toledo,
tutto questo si condensa nella penetrante
tonalità d’un ocra vago, ove i colori si contrappongono
come tesi tridentine molto pratiche
elaborate con pazienza per l’eterno riposo
dei principi cristiani che si divorano sotto
la paterna vigilanza d’una Roma eterea,
sorvegliata dagli svizzeri, da cardinali e frati.
La granduchessa – se lo fu, o non lo fu, di chi è figlia,
di chi fu madre, davanti a un ritratto così
assai poco importa! – si lasciò dipingere.
Ma la pittura era un’altra cosa, uno scudo,
uno scudo d’armi e uno scudetto intarsiato,
perché si muoia tranquilli quando irrompe l’angoscia,
come un vomito di sangue, dal semplice dubbio
d’avere o non avere un’anima, se i mondi siano molteplici,
e il Sole ruoti o no intorno alla terra intera,
illuminando le moltitudini, le razze, tutto,
e i principi e i sudditi, in questa armonia del mondo,
il cui silente stridore verso l’alba si udiva
cigolare discretamente, alle porte dei castelli.

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Bronzino
Eleonora di Toledo col figlio Giovanni (1545)
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