O ofício de escrever


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Thiago de Mello »»
 
Campo de Milagres (1998) »»
 
Francese »»
«« precedente /  Sommario / successivo »»
________________


O ofício de escrever
Il mestiere di scrivere


Para Tenório Telles

Lendo é que fico sabendo:

o que escrevi já caiu
na vida. Não me pertence.
Leio e me assombro: as palavras
que arrumei com paciência,
severo de inteligência,
cuidando bem da cadência,
perseverante, escolhendo,
não escondo, as mais sonoras
e as que gostam mais de mim,
dando a cada uma o lugar
merecido no meu verso
(que desta ciência os segredos
me deu o tempo de ofício,
um exercício de amor),
pois as palavras começam
a dizer coisas que nunca
ousei pensar nem sonhar,
pássaros desconhecidos
pousando no meu pomar.
 
É quando descubro a rosa
— rosa em carne de palavra

não é rosa da roseira —
que chamei para o meu poema,
rosa linda, venha cá,
venha enfeitar o meu canto,
se transmuda, mal a leio,
num sonho que vai se abrir,
no espinho que vai ferir.
 
Só nesse instante descubro
que a rosa, para ser rosa,
no esplendor da identidade
com qualquer rosa do mundo
precisa ser inventada
pelo milagre do verbo.

Per Tenório Telles

È leggendo che apprendo:

quel che ho scritto, già nella vita
è sfociato. Non m’appartiene.
Leggo e trasecolo: le parole
che ho disposto con pazienza,
attento alla precisione,
curando bene la cadenza,
perseverante, scegliendo,
non lo nascondo, le più vibranti
e quelle che più mi s’attagliano,
dando a ciascuna il posto
adeguato nel mio verso
(ché di questa scienza i segreti
me li ha svelati la lunga dedizione,
un esercizio d’amore),
ecco che le parole cominciano
a dire cose che mai
avevo osato pensare né sognare,
uccelli sconosciuti,
accorsi nel mio giardino.

È allora che scopro la rosa
— rosa fatta di carne di parola

non è rosa del roseto —
quella che ho chiamato per la mia poesia,
rosa bella, vieni qua,
vieni ad ornare il mio canto,
si trasforma, appena la leggo,
in un sogno che sboccerà,
nella spina che ferirà.

Solo in quel momento scopro
che la rosa, per esser rosa,
nello splendore dell’identità
con qualunque rosa del mondo
ha bisogno d’essere inventata
dal miracolo del verbo.

________________

Matthias Stomer
Giovane che legge al lume di candela (1630)
...

Nessun commento:

Posta un commento

Nuvola degli autori (e alcune opere)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant’Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (39) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (44) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (40) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas dos dias (22) Poemas Sociais (30) Reinaldo Ferreira (4) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)