Camões dirige-se aos seus contemporâneos


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Camões dirige-se aos seus contemporâneos
Camões si rivolge ai suoi contemporanei


Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

Potrete rubarmi tutto:
le idee, le parole, le immagini,
ed anche le metafore, i temi, i motivi,
i simboli e la preminenza
nelle pene sofferte d’una lingua nuova,
nella comprensione degli altri, nel coraggio
di lottare, di giudicare, di penetrare
in recessi d’amore per i quali siete impotenti.
E potrete anche rifiutarvi di citarmi,
sopprimermi, ignorarmi, addirittura
acclamare altri ladri più felici di voi.
Nulla ha importanza: ché il castigo
sarà terribile. Infatti, quando
i vostri nipoti non sapranno già più chi siete,
essi mi conosceranno ancor meglio
di quanto voi fingete di non sapere,
poiché tutto ciò che voi laboriosamente saccheggiate
verrà attribuito al mio nome. E sarà dunque mio,
ritenuto mio, tramandato come mio,
perfino quel poco e miserabile che,
solo per conto vostro, senza plagio, avrete composto.
Non avrete niente di niente: neanche le ossa,
sicché un vostro scheletro dovrà esser esumato
perché passi per mio. E perché altri ladri,
come voi, in ginocchio, depongano fiori sulla mia tomba.

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António Ramalho
Camões legge I Lusiadi a D. Sebastiano (1893)
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